Capelão Rodrigo Ribeiro *
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Leitura: Salmo 119
Não retires de mim a palavra da verdade… v.43
Tua promessa renova minhas forças; ela me consola em minha aflição. v.50
Se tua lei não fosse meu prazer, eu teria morrido em meu sofrimento. v.92
Tu és meu refúgio e meu escudo; tua palavra é minha esperança. v.114
Os que amam tua lei estão totalmente seguros e não tropeçam. v.165
Exercer a escuta de alguém que está num leito ou em sofrimento, seja físico ou na alma. Trata-se de uma das ferramentas mais importantes para a cura, para o alívio da dor e para o consolo do “coração” de quem está passando pela crise.
A Palavra de Deus, após a escuta, é outro recurso poderoso. Com devocionais, relatos, cânticos e poesias inspirados pelo Dono da Vida, que sabe todas as coisas, que conhece o coração que sofre e se compadece, podemos fazer a diferença na vida daqueles que estão passando por um momento de enfermidade. E uma ferramenta preciosa, em minha experiência como Capelão Hospitalar e Conselheiro Espiritual.
A enfermidade tem seu limite, diante da grandeza de um olhar e de palavras acolhedoras, pois já se diz que a fé vem pelo ouvir e quem tem fé ou a procura, em meio à dor, pode buscar o conforto que precisa na Palavra de Deus, encontrando confiança, esperança e paz para o coração aflito.
Diante de um diagnóstico e/ou de uma má notícia a respeito da saúde física, percebemos a fragilidade do nosso corpo. Todavia, abre-se uma rica oportunidade de conhecer a força de nosso interior, que podemos chamar de coração, alma ou espírito. Trata-se de algo dentro de nós, que não é o corpo frágil e limitado. É nesse momento que se abre “uma janela” para a fé, que não pode ser destruída como nossas células, e sim fortalecida.
É nos tempos difíceis que aprendemos a buscar aquilo que pode nos dar força: paz na presença divina, confiança no Deus Poderoso e dono da vida, vitalidade nas amizades verdadeiras, poder de Deus que não pode ser contido diante de qualquer fraqueza física ou limitação humana, reflexão na eternidade, uma verdade que cresce diante de nossos dias reduzidos aqui na Terra.
O autor de Hebreus nos ensina que:
“…a palavra de Deus é viva e poderosa. É mais cortante que qualquer espada de dois gumes, penetrando entre a alma e o espírito, entre a junta e a medula, e trazendo à luz até os pensamentos e desejos mais íntimos” (Hebreus 4:12).
Durante a capelania hospitalar, conheci e acompanhei uma vida preciosa que enfrentava câncer de mama. Ela tinha seus 70 anos e, mesmo em dias difíceis, devido ao tratamento, testemunhava sobre sua fé e aproveitava para me contar sobre sua família e tudo que a preocupava por aqueles tempos que estava vivenciando. Eu a ouvia, líamos a Palavra de Deus e orávamos. Contemplei dias de melhora dela, nos quais já se dispunha a ajudar alguém que precisava dela. Ela amava ser voluntária no hospital em que eu era Capelão Hospitalar e Conselheiro Espiritual.
Certo dia, num desses encontros de escuta, o tema foi: “O livramento de Deus da morte ou através da morte.” Não era para falar sobre isso (morte), mas surgiu o assunto e pude ver como ela estava tranquila sobre a vontade de Deus para a vida dela, aqui e na eternidade. Alguns dias depois, essa irmã faleceu, deixando-nos a memória de um olhar confiante e tranquilo, que estava livre das dores deste mundo, nos braços e na presença do Pai Eterno.
Visitei, recentemente, outra irmã, com 75 anos, que está em tratamento de um câncer de mama. Enquanto a ouvia, pude perceber a importância de relatar seus sentimentos (ser ouvida) a respeito das grandes amizades que teve em sua vida. Porém, ela estava se sentindo um pouco sozinha naquele momento. Mesmo com a presença da família e das fortes lembranças de pessoas tão queridas com as quais convivera e nas quais confiou, as lembranças, naquele momento, faziam-na sentir falta delas. Também, me relatou total confiança em Deus, citando todas as coisas que Ele preparou, inclusive os médicos, cirurgia, tratamento e as intercessões. Demonstrou sua força vinda da fé e como tem enfrentado os desafios deste tempo de tratamento. Mencionou-me trechos dos Salmos: “Esperei com paciência no Senhor…” (Salmo 40:1) e “Meu socorro vem do Senhor…” (Salmo 121:2). Ela complementou os textos citados, dizendo “É com paciência e confiança no tempo e agir do Senhor que a gente chega lá (na cura vinda dele, como Ele quiser!)”.
A experiência de escutar e interceder por essas mulheres fortes no Senhor ou por aqueles que adquiriram essa força através da escuta acolhedora e fé na Palavra de Deus, proporciona um crescimento indescritível na minha fé, conhecendo mais do Deus vivo que sofre conosco, pois conhece nossa estrutura frágil e humana (Salmo 103:13-14).
Na minha experiência como Capelão e Conselheiro Espiritual, não há um só momento, ao escutar uma alma ferida e cansada, seja por dores físicas ou da alma, em que menciono porções da Palavra de Deus, que não contemple alívio, força, esperança e até cura. O poder da Palavra é indescritível, tem efeitos rápidos na alma e atinge o físico. Ela faz isso porque, ao ouvir a Palavra de Deus, os aflitos adquirem fé no Deus vivo, arrependem-se e confessam pecados, perdoam aos outros e a si mesmos (livrando-se de mágoas, ressentimentos e culpas), encontram salvação e direção para viver dias melhores por meio da fé.
Que possamos nos colocar à disposição dos outros para ouvir e aprendamos a usar ferramentas para levar a Palavra de Deus a esses corações quando mais precisam.
* Subtenente capelão militar, graduado em Teologia com pós-graduação em Capelania, juiz de paz, professor universitário, palestrante e escritor