Tribuna Ribeirão
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Capa – 14 de março de 2020

Os delinquentes que estavam organizando manifestações para este domingo (15 de março), no seu desatino de atentarem contra a Consti­tuição e as instituições, merecem todo o repúdio dos cidadãos compro­metidos com a Democracia e com a liberdade. Parece que o coronavi­rus os deteve. Mas por que delinquentes? Porque exigem abertamente o fechamento do Congresso e do Supremo, agridem a imprensa livre e os(as) jornalistas, pregam o ódio contra adversários e continuam a es­palhar mentiras para enganar ignorantes e desavisados. São, portanto, fora da lei e querem trazer de volta a ditadura de tão triste memória.

A crise política se ampliou nos últimos dias, impulsionada pelo fra­casso da política econômica ultra-liberal de Bolsonaro. O seu discurso, em Miami, afirmando que houve fraude nas eleições de 2018, ocorreu dois dias depois de ele gravar um vídeo convocando os seus delinquen­tes para participar dos atos no dia 15 de março. O discurso que põe em dúvida a lisura da Justiça Eleitoral é mais um ataque frontal às institui­ções democráticas. Bolsonaro acirra ainda mais a crise entre o Execu­tivo e o Judiciário, e só levanta suspeitas de que esteja aumentando o tensionamento, em busca do fechamento do regime.

É um gravíssimo ataque. Na medida em que o chefe de Estado, visitando outro país, critica o processo eleitoral e a Justiça Eleitoral, isso pode atingir o nosso passado, mas também o nosso futuro. Ele deseja, na verdade, inviabilizar as próximas eleições. Isso é algo nunca visto, inusitado. Macula a imagem do país no exterior, além de ter essa repercussão dramática sobre a essência do regime democrático, que é a certeza de que os votos são conferidos e apurados com legitimidade.
Na semana passada, para viabilizar um acordo para a manutenção do veto que desobriga o governo de executar com prioridade os itens do orçamento incluídos por meio de emendas parlamentares, cerca de R$ 30,7 bilhões, o governo enviou três projetos de lei ao Congresso Nacional – PLNs, que regulamentam o orçamento impositivo. Mas, apesar de remeter formalmente os textos, Bolsonaro foi às redes sociais e negou o acordo, não se incomodando com as contradições evidentes na sua fala. Queria, na verdade, a todo custo, inflamar os seus delin­quentes para as manifestações marcadas.

Todo este desatino acontece em meio aos péssimos sinais da econo­mia, de que falamos aqui no sábado passado. O pibinho de 1,1% joga mais combustível na crise política. Bolsa e dólar oscilam, o desem­prego continua alto, fala-se abertamente em recessão, e o país entra em estado de alerta com o coronavírus, em um contexto de cortes nas políticas de saúde. É muita notícia ruim de uma vez só. Para o governador do Maranhão, Flávio Dino, “as manifestações do dia 15 são uma forma de afastar controles previstos pela Constituição para alimentar intuitos inclusivistas e personalistas do presidente, inclusive para beneficiar familiares”. Para Dino, há setores próximos a Bolsonaro querendo “uma ruptura, rasgar a Constituição”. Eu diria que o próprio presidente a quer.

A aventura golpista de Bolsonaro testa todos os dias os limites da tolerância das instituições, que, é preciso dizer, têm reagido de forma tímida, a nosso ver. A resposta da presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ministra Rosa Weber, sobre a fraude eleitoral foi tão protocolar quanto a dos presidentes da Câmara e do Senado. Já passou da hora de dar um basta! Já era para ter sido aberto um processo de im­peachment contra Bolsonaro, ele já passou dos limites há muito tempo. Fico aqui imaginando, diante de tudo isso, o que fez a presidenta Dilma para ser cassada.

Vamos lembrar o poema do Eduardo Alves da Costa: “Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dissemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”. Todo repúdio às manifestações do domingo, se elas ainda acon­tecerem em algum lugar. Todo repúdio aos delinquentes de verde-ama­relo. Já passou da hora de darmos um basta a tudo isso!

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