A Câmara de Ribeirão Preto vota nesta terça-feira, 2 de abril, requerimento de Alessandro Maraca (MDB) que pede a instalação de uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para investigar o futuro do prédio do Lar Santana, na Vila Tibério, que será usado pela Secretaria Municipal da Educação. O vereador reclama das seguidas mudanças no destino do local, que foi permutado com um terreno da prefeitura e se tornou próprio público municipal em 2016. A Secretaria Municipal da Saúde desistiu de levar sua sede para o prédio. Os moradores querem transformá-lo em creche.
Maraca lembra das várias audiências realizadas no ano passado e cita que o prédio tem valor “não apenas pela relevância e privilégio quanto a localização, mas também pela relevância histórica, cultural e arquitetônica”. Ele lembra que em audiência pública do dia 29 de maio, promovida pela Câmara, a prefeitura informou que o local seria ocpuado, rapidamente, por departamentos da Secretaria da Saúde e pela Administração Regional da Vila Tibério, que isso geraria economia ao erário público, considerando que aluguéis deixariam de ser pagos em breve.
O histórico prédio onde por décadas funcionou um orfanato será ocupado pela Comissão de Acompanhamento em Avaliação e Formação Docente (Caaf), que tem como principal objetivo estruturar e acompanhar as políticas de formação continuada de docentes, a avaliação e o acompanhamento pedagógico e curricular da rede municipal de ensino. Hoje o Caaf funciona na Casa da Ciência, dentro do Bosque e Zoológico Municipal Doutor Fábio de Sá Barreto.
Maraca reclama que, apesar de estar acompanhando o tema desde o início, inclusive realizando audiências públicas, não foi informado sobre a destinação do prédio, apesar de ofício da prefeitura garantindo que isso seria feito. Localizado na rua Conselheiro Dantas nº 984, o prédio inaugurado em 21 de março de 1931 ocupa um terreno de 7,8 mil metros quadrados. Inicialmente a Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição, que chegou em Ribeirão Preto em 1926, abriram um colégio. O Colégio Santana ganhou seu prédio próprio em 1931 e em 1948 ele foi transformado em orfanato.
Em 2015 a congregação optou pelo fechamento, já que o prédio de mais de 70 anos exigia um elevado investimento para a renovação do alvará do Corpo de Bombeiros. No mesmo ano o prédio foi tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e em 2016 a Câmara aprovou a permuta do imóvel com dois terrenos municipais de valor de mercado equivalente (cerca de R$ 6 milhões).
O Lar Santana tem grande valor histórico por sua importância para a Vila Tibério e também por ter ocorrido lá a única prisão de uma religiosa feita pelo regime militar – em 1969 a ditadura prendeu a madre Maurina Borges da Silveira, depois torturada e vítima de assédio sexual na delegacia seccional de Polícia. Seus torturadores foram inclusive excomungados pela Igreja Católica. Libertada, banida do país e asilada no México, madre Maurina retornou ao Brasil e faleceu em 2011.
Madre Maurina – Madre Maurina Borges da Silveira, a freira presa, acusada de subversão, torturada e banida do país durante a ditadura militar, morreu em março de 2011, em Araraquara, onde vivia num convento de sua comunidade, a Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. A freira tinha 84 anos e sofria do Mal de Alzheimer.
A história de Madre Maurina marcou a luta da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos, nos “anos de chumbo” do regime militar. Acusada de acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material subversivo no porão do Lar Santana, madre Maurina foi presa e torturada.