Apesar de ter uma pauta de votação “morna”, a sessão de quinta-feira, 29 de agosto, na Câmara de Ribeirão Preto foi quente e teve momentos agitados nos bastidores. Os vereadores que defendem a manutenção de 27 cadeiras para a próxima legislatura (2021-2024) tentaram convencer quem está indeciso ou é contra a ideia a assinar, conjuntamente, uma proposta que previa um corte menor no número de vagas, de apenas duas, mantendo 25 parlamentares.
Na próxima terça-feira, 3 de setembro, a Câmara vai votar, em primeira discussão, a proposta de emenda à Lei Orgânica do Município (LOM) que reduz o número de vereadores de 27 para 23 a partir da próxima legislatura. A sessão extraordinária está agendada para as 16 horas. Para ser aprovada, vai precisar de maioria qualificada de votos. Ou seja, 18 dos 27 votos possíveis. Há ainda o risco de o Legislativo manter apenas 22 cadeiras e até 20, como prevê outro projeto protocolado na Casa de Leis.
A discussão sobre o assunto durou quase meia hora e aconteceu na sala de reuniões dos vereadores, anexa ao plenário. Um dos argumentos dos defensores da nova proposta era que o aumento da população de Ribeirão Preto, divulgada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), justificaria a propositura.
Segundo a nova estimativa do IBGE, Ribeirão Preto tem 703.293 habitantes e é a nona cidade mais populosa do País sem contar as capitais – no geral é a 27ª e no Estado é a sétima, contando São Paulo. O levantamento, que tem como data-base 1º de julho, indica crescimento populacional de 1,26% em relação ao número do ano passado, de 694.534 moradores, acréscimo de 8.759 pessoas.
Apesar da tentativa, como não houve consenso, a proposta foi descartada e prevaleceu o projeto de Marco Antonio Di Bonifácio, o “Boni” (Rede), que pretende estabelecer 23 parlamentares para a próxima legislatura. Se a outra sugestão, de 25 vereadores, conquistasse a adesão de pelo menos 18 parlamentares, seria redigida em forma de emenda a Lei Orgânica do Município e protocolada na própria quinta-feira.
O líder do governo Duarte Nogueira Júnior (PSDB) na Câmara, André Trindade (DEM), que participou da reunião e defende a permanência de 27 parlamentares, afirmou ao Tribuna que a ideia empacou porque não se chegou ao total de adesões necessárias para garantir que o eventual projeto, caso protocolado, tivesse chance de ser aprovado em plenário. De acordo com o democrata, quem defende a redução de cadeiras esquece que Piracicaba tem 400 mil habitantes e 23 vereadores, e é uma das mais desenvolvidas do país no quesito saneamento básico. “Defendo a atual representatividade, mas tenho que respeitar a posição dos outros vereadores contrários a manutenção dos 27”, afirma.
“Boni” pesquisou uma lista de cidades brasileiras com população entre 500 mil e um milhão de habitantes e calculou a média do número de parlamentares.
O resultado foi que cada legislador representa cerca de 28.291 pessoas. “Consequentemente, nossa cidade comportaria 24,62 vereadores. Minha proposta reduz de 27 para 23 cadeiras, número que não comprometeria a representatividade por estar próximo à media e, sendo um número ímpar, proporcionamos também ao presidente da Câmara a condição do desempate numa votação”, argumenta.
Por ter conseguido a adesão de nove parlamentares, o projeto de “Boni” já está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) aguardando parecer, que segundo o presidente Isaac Antunes (PR) será favorável e irá ao plenário no dia 3 de setembro. Outra proposta em trâmite na Casa de Leis é de autoria do presidente da Câmara, Lincoln Fernandes (PDT), e do presidente da CCJ. Estabelece o corte de sete vagas de vereadores, reduzindo o total de 27 para 20 parlamentares.
O projeto não foi lido em plenário porque, até o momento, recebeu as assinaturas de apenas três edis. Além dos autores, apenas Jean Corauci (PDT) aderiu. A Câmara tem até 4 de outubro para aprovar projetos que alterem o número de cadeiras para a próxima legislatura porque a legislação eleitoral estabelece que as mudanças tenham obrigatoriamente de ser feitas até um ano antes das próximas eleições. O pleito que vai eleger os próximos prefeitos e vereadores no país está marcado para 4 de outubro de 2020.
Caso nenhuma proposta de emenda À LOM seja votada e aprovada até lá, valerá a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – em fevereiro do ano passado definiu que a Câmara de Ribeirão Preto poderia ter 22 vereadores a partir da próxima legislatura. São cinco a menos do que os atuais 27 parlamentares. Os ministros da Corte Suprema já haviam declarado, em 2017, a constitucionalidade da emenda à LOM que determinava o corte, mas faltava a modulação – se a regra valeria já nesta legislatura (2017-2020) ou para a próxima, que começa em 2021 e vai até 2024.