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Câmara aprova projeto ‘medieval’

A coordenadora da Comis­são de Diversidade Sexual da 12ª Subseção da Ordem dos Ad­vogados do Brasil de Ribeirão Preto (OAB-RP), Letícia Duarte Hernandez, acompanhou a ses­são desta quinta-feira, 28 de se­tembro, em que a Câmara apro­vou, em definitivo, por 21 votos favoráveis e quatro contrários, o polêmico projeto que barra as aulas de educação sexual nas escolas públicas da cidade sob o argumento de que parte do ma­terial didático contém “porno­grafia infantil”.

A representante da OAB-RP afirma que a iniciativa da verea­dora evangélica Gláucia Berenice (PSDB) é “claramente inconstitu­cional. A Câmara está assumindo uma competência que não lhe cabe. Legislar sobre educação é atribuição exclusiva da União”, diz. Letícia Duarte sequer se preocu­pou em falar com os parlamen­tares. Segundo ela, se o projeto for sancionado pelo prefeito Du­arte Nogueira Júnior (PSDB), a Ordem dos Advogados e outras entidades ingressarão na Justiça para derrubar a lei, já considera­da inconstitucional pelo Supre­mo Tribunal Federal (STF).

Em primeira votação, na terça­-feira (26), o projeto foi aprovado por 22 votos a favor e três contra, e voltou ao plenário ontem por causa de uma emenda da Comis­são de Justiça e Redação, a popular Comissão de Constituição e Justi­ça (CCJ). “A cidade de Paranaguá, no Paraná, aprovou lei semelhante que motivou uma Adin. A ação acabou no STF e os ministros a julgaram inconstitucional”, explica Letícia Duarte.

Fábio de Jesus, presidente da ONG Arco-Íris, de defesa da comunidade LGBT, acrescenta que dois municípios paulistas (Matão e Jundiaí) também apro­varam leis semelhantes, depois derrubadas pela Justiça. Alexan­dre Pastova, vice-presidente do Sindicato dos Servidores Muni­cipais de Ribeirão Preto, Gua­tapará e Pradópolis (SSM/RP), que também esteve na sessão, disse que a entidade também vai recorrer se a lei for sancionada.

“Além de ferir a Lei de Di­retrizes e Bases da Educação (LDBE), o projeto, que trata de tema relacionado à educação, te­ria de passar antes pelo Conselho Municipal de Educação, o que não aconteceu”, explica Pastova. Apesar de todos os indícios de que o projeto é de fato inconsti­tucional, a proposta passou. Vo­taram contra Jorge Parada (PT), Luciano Mega (PDT), Adauto Marmita (PR) e Marcos Papa (Rede). Parada foi à tribuna, como na última terça-feira, para alertar os colegas, mas não adiantou.

“O projeto é flagrantemente inconstitucional. Não é prerro­gativa da Câmara legislar sobre educação. Não teve audiência pú­blica, não houve discussão com os professores e com a Secretaria Municipal da Educação. O pro­jeto é retrógrado, medieval, e se o aprovarmos vamos gerar mais uma Adin”, alertou o petista, sem sucesso.

Apesar de ter conhecimento sobre a decisão do STF, Isaac An­tunes (PR), presidente da CCJ, foi à tribuna e disse que “o pro­jeto mesmo é legal e constitucio­nal”. Os defensores da proposta se autoproclamaram guardiões da família brasileira, da moral e dos bons costumes. Tudo faz parte da democracia e a decisão agora está nas mãos do prefeito Duarte Nogueira – a Secretaria Municipal da Educação diz que vai aguardar a publicação do tex­to para se manifestar.

Glaucia Berenice levou ao plenário uma claque com cerca de 20 pessoas ligadas à Comu­nidade Cristã de Ribeirão Preto, igreja da qual é frequentadora. Liderados pelo marido da parla­mentar, os evangélicos chegaram a ofender Marcos Papa (Rede), que mudou o voto em relação à terça-feira.

O projeto, que na prática impede a educação sexual nas escolas ao exigir que professores consultem os pais dos alunos quando quiserem abordar temas ligados à sexualidade, nasceu a partir do desejo do movimen­to evangélico de impedir que o Ministério da Educação (MEC) inclua na proposta pedagógica temas relacionados ao assunto.

De acordo com os críticos, o projeto é radical, violento, anti­democrático, fundamentalista e retrógrado. É defendido por adeptos do criacionismo –não aceitam a Teoria da Evolução de Darwin. Ou seja, não respeitam a ciência. Na semana que vem a Comissão de Diversidade Sexual da OAB-RP, o Conselho Regio­nal de Psicologia e outras institui­ções e entidades vão divulgar carta aberta explicando a inconstitucio­nalidade da iniciativa e alertando para que o prefeito Duarte No­gueira não sancione o projeto.

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