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Butantan analisa sucuri ‘canibal’

José Maria Tomazela (AE)

A pesquisadora Selma Maria de Almeida Santos, especialista em serpentes do Instituto Butantan, acredita que houve canibalismo no caso da sucuri-verde que aparece em vídeo regurgitando uma cobra da mesma espécie. O vídeo, que mostra a cobra gigante expelindo pela sua boca uma cobra de menor porte, foi feito pelo pescador Marcelo Parreira no reservatório de uma usina hidrelétrica, no município de Caçu, no sudoeste de Goiás.

De acordo com a pesquisadora, como há um disformismo sexual – quando o macho e a fêmea da espécie são diferentes externamente – muito grande entre as sucuris-verdes, ela acredita que a cobra maior é uma fêmea e, possivelmente, a que foi engolida seja um macho. Ela supõe que os fatos se passaram durante o verão, quando as sucuris-verdes se reproduzem.

“O que a gente vê no vídeo é que a sucuri-verde maior acabou se alimentando de um animal da mesma espécie. Porém, ela não constringiu (apertou) o macho e, como ele estava saudável, começou a procurar uma saída. Nosso interesse nos vídeos é que mostram esse comportamento bem incomum do animal”, disse.

“A fêmea provavelmente estava em período reprodutivo. O macho pode ter ficado muito próximo a ela e a fêmea pode ter predado o macho, de forma até bastante pacífica. Existe na literatura casos de canibalismo, em que uma sucuri mata a outra para se alimentar. Isso já foi descrito, tem um trabalho na Venezuela, que tem parte da floresta amazônica. Um pesquisador descreveu o canibalismo entre sucuris.”

A pesquisadora disse que, no caso do vídeo brasileiro, a cobra maior não matou a menor. “Nesse relato (do vídeo), a gente tenta entender porque ela pegou o macho e não constringiu. Geralmente as jiboias e sucuris se enrolam, apertam e matam a presa asfixiada. Isso não ocorreu com o macho. Estamos levantando a época em que isso aconteceu para ter mais certeza.”

Selma, que trabalha com reprodução e comportamento reprodutivo das cobras, não descarta, porém, a possibilidade de o animal menor ser outra fêmea. “Pode ser simplesmente outra fêmea menor que a serpente, por canibalismo, acabou engolindo. Estamos analisando detidamente as imagens e devemos também pedir mais informações aos pescadores sobre coisas que não estão no vídeo e que eles podem ter visto.”

O objetivo, segundo ela, é fazer a publicação do resultado das observações e pesquisas em uma revista científica. “Reunindo essas informações com outros dados que já temos publicado e estamos pesquisando, isso favorece alguma publicação científica em revista da área, de preferência internacional. Por ora, trabalhamos com algumas hipóteses, mas a ciência é feita através de hipóteses que serão corroboradas ou não”, disse.

A sucuri-verde (Eunectes murinus), também conhecida como anaconda, é a maior serpente brasileira e uma das características da espécie é a fêmea, que chega a seis metros de comprimento, ter praticamente o dobro do tamanho do macho. No caso registrado pelo pescador, que também é pecuarista, aparentemente a fêmea regurgita o macho com o qual teria se acasalado momentos antes.

No início da filmagem, que dura cerca de dois minutos, é possível observar que a sucuri gigantesca tem algo se contorcendo em sua barriga. De repente, a cobra grande abre a boca e já se vê a cabeça de outra cobra surgindo do interior da predadora. A cobra menor sai da bocarra da maior e desliza rapidamente em direção à água. A sucuri-verde fêmea desiste de perseguir a “presa”.

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