Por: Adalberto Luque
O busto em homenagem ao ex-prefeito de Ribeirão Preto, Camilo de Mattos, supostamente furtado na madrugada de quarta-feira (11), foi recuperado. A informação é da Prefeitura de Ribeirão Preto.
A escultura de Joaquim Camilo de Moraes Mattos teria desaparecido e um boletim de ocorrência foi registrado na Central de Polícia Judiciária (CPJ), que passou a investigar o caso.
A Secretaria de Cultura e Turismo da cidade chegou a divulgar nota lamentando o crime e informando que a peça seria colocada na lista de monumentos a serem recuperados. No local onde a imagem estava instalada, na Praça XV de Novembro, bem em frente ao Palacete Camilo de Matos – imóvel tombado e recentemente restaurado, onde morou o prefeito homenageado – não há câmeras que possam ter filmado o furto. Também não há testemunhas.
Na manhã desta segunda-feira (15) a prefeitura divulgou a seguinte nota: “Caro jornalista, o busto em homenagem ao Dr. Joaquim Camilo de Moraes Mattos foi encontrado em um trabalho conjunto entre a Secretaria da Cultura e Turismo, GCM e Infraestrutura e, agora, passará por restauro para novamente ser instalado no local devido.”
A nota não traz mais informações se houve mesmo o furto, como foi encontrado e em que local. Nem se houve algum suspeito preso ou citado para Inquérito Policial. A reportagem do Tribuna entrou em contato com a Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura, GCM e Secretaria da Cultura e não recebeu mais nenhuma confirmação, nem mesmo se foi de fato um furto.
Se de fato ocorreu o crime, seria o segundo do mesmo busto. Inaugurada em 1976, a peça foi furtada em 1984 e, posteriormente, recuperada.
Palacete
Um dos mais importantes prédios históricos de Ribeirão Preto, o Palacete Camilo de Mattos abriu as portas para visitação pública em 20 de junho, em comemoração ao aniversário de 168 anos da cidade. A solenidade oficial de inauguração ocorreu em 19 de junho, dia do aniversário da cidade. Fica na rua Duques de Caxias nº 625, na esquina com a Tibiriçá, no Centro Histórico, a poucos metros do Quarteirão Paulista e de cara para as praças XV de Novembro e Carlos Gomes. O busto estava instalado bem em frente ao palacete.
Dois prefeitos de Ribeirão Preto, pai e filho, residiram no imóvel. A primeira parte da obra de restauração foi entregue à população no dia 19 de junho, aniversário de 168 anos da cidade. Nesta etapa, o projeto contemplou a recuperação da fachada, do hall de entrada e de um dormitório.
Em 2017, o Palacete Camilo de Mattos foi adquirido pelos amigos Ricardo Massaro e Marcos Mattos (que faleceu em 2021 por complicações da covid-19) e, desde então, recebeu obras de consolidação necessária para interromper a continuidade dos danos no telhado, calhas, paredes e fundação.
Também foi realizada prospecções investigativas para determinar as formas, tamanho e cores das pinturas parietais decorativas das paredes dos cômodos do Palacete Camilo de Mattos e, somadas as prospecções, poder determinar as cores das paredes.
Ricardo Massaro mantém segredo sobre o futuro do palacete e diz que só irá revelar qual atividade será implantada no casarão depois que todo o móvel for recuperado. O Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conpacc) aprovou a primeira etapa de intervenção.
História
O suntuoso palacete tem estilo eclético, características burguesas e sua fachada principal voltada para a praça XV de Novembro. Sua planta segue os moldes das elites cafeeiras da época, com pressupostos do urbanismo moderno, recuos frontais e laterais para insolação e ventilação da construção, além do porão para nivelar a casa no terreno irregular.
Com cerca de 600 metros quadrados de área construída, o palacete possui onze cômodos na parte inferior e oito na superior, totalizando 19. A área total do terreno supera dez mil metros quadrados. O advogado Joaquim Camilo de Mattos, ou como era conhecido, Camilo de Mattos (1892-1945), deu início à construção de sua residência em 1920.
Projetada por Antônio Soares Romêu, foi construída por Ernesto Terreri e Paschoal de Vincenzo (os mesmos construtores do Edifício Diederichsen) e concluída por volta de 1922. A construção atendeu as necessidades de uma residência, mas era necessário também ter um escritório para Camilo de Mattos atender seus clientes, que ficava no pavimento térreo e o acesso dava-se pela rua Duque de Caxias.
A planta segue o modelo tripartido, divido em áreas sociais (escritório, hall, sala de visitas e de jantar), íntimas (quartos no pavimento superior) e de serviços (cozinha e dispensa), além de uma pequena casa nos fundos do terreno para funcionários e garagem para automóvel.
Este palacete é um dos últimos exemplares desta tipologia de residências, com características burguesas, construídas no início do século XX. A maioria já foi demolida para dar lugar a grandes edifícios e estacionamentos. Camilo de Mattos teve uma vida política intensa em Ribeirão Preto.
Exerceu os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, e a localização do palacete onde morava era estratégica, pois Camilo de Mattos podia ir andando até o Palácio Rio Branco, então sede da prefeitura de Ribeirão Preto. O filho dele, Luiz Augusto Gomes de Mattos (1920-2010), também foi advogado e prefeito.
Advogado, não apenas seguiu a profissão do pai, como também o substituiu nos cuidados jurídicos das Usinas Junqueira. Assumiu o cargo de prefeito de Ribeirão Preto em 30 de outubro de 1945, menos de dois meses depois da morte do pai, que foi prefeito da cidade em 1926. Luiz Mattos ficou no cargo até 31 de agosto de 1946, quando renunciou por desavenças com o interventor estadual Macedo Soares, por descordar da tarifa da água.