Existem muitos conceitos para definir Liderança. Mas, em geral, mesmo depois de divagar um bom tanto (até mesmo de forma poética), a maioria deles tende a trazer algo que é muito comum: as lideranças, através do trabalho de suas equipes, devem buscar e alcançar seus objetivos.
Poderíamos até discutir os mais diversos caminhos para atingir esses objetivos. Mas não nesta abordagem. Por enquanto, o intuito é tentar entender a questão que está na base da liderança. E, na minha visão, está em trabalhar, dia após dia, no sentido dos objetivos estabelecidos.
Compreendendo isso, cabe tentar entender que lideranças diferentes, em diferentes frentes de atuação, podem ter objetivos completamente distintos. Respeitando essa diversidade, proponho uma reflexão sobre qual seria então o objetivo de base de um administrador público? Seja ele prefeito, governador ou presidente. Ou ainda sobre os objetivos dos milhares de gestores públicos que comandam diversos órgãos dentro das várias secretarias pelo país.
Partindo para outras frentes de atuação, podemos também analisar qual seria o propósito principal de um engenheiro responsável pelo contrato ou a execução de uma obra?Dentro dos órgãos reguladores, quais seriam as metas de base das pessoas encarregadas da gestão das atividades fim?
A impressão que nos dá é que não seria difícil – até pelos discursos que ouvimos nas campanhas ou nos juramentos das cerimônias de conclusão dos cursos de graduação e de pós-graduação – estimar, com grandes chances de acerto, quais seriam os objetivos principais.
Mas porque, muitas vezes, eles não são atingidos? Por que conseguem passar tão longe? Se a liderança é avaliada, em última instância, pelos resultados alcançados, como entender a atuação e a competência destes(as) administradores(as), especialmente depois de tragédias gigantescas, completamente extraordinárias, ocorrerem em um intervalo de tempo tão reduzido?
Seria por conta da disciplina? Talvez. Em geral, falta muita disciplina para as pessoas que estão no comando. Tanto de empresas privadas como dos órgãos públicos. O discurso e a teoria são muito bonitos, mas é a disciplina na execução, do que deve ser feito, que poderá transformar tudo isso em prática efetiva no sentido do alcance dos objetivos.
Pode ser também pela desmotivação. Por diversas razões, o estado de ânimo afeta pesadamente o rendimento das pessoas no ambiente de trabalho. E, quando o desânimo é presente na própria liderança, o impacto na equipe é claramente sentido. Com isso, temos pessoas trabalhando abaixo ou muito abaixo de suas capacidades. Dentro deste contexto, é fácil estimar a qualidade do trabalho e dos consequentes resultados.
A ignorância na área de atuação ou a incapacidade técnica pode ser um outro ponto relevante na atuação das lideranças. A dificuldade em avaliar, de maneira um pouco mais apurada, o status de determinado contexto, pode fazer com que o indivíduo subestime a complexidade e relaxe na condução da própria equipe para cuidar de um certo problema.
Talvez eu pudesse aqui detalhar mais uma dezena de possíveis razões para o fracasso no exercício da liderança e, especialmente, para as péssimas consequências (neste caso, terríveis) que acontecem todos os dias em diferentes países por conta da atuação dessas lideranças.
Mas gostaria de fechar meu raciocínio falando sobre uma razão que, na minha visão, faz muito mais sentido para este momento de consternação, tristeza e, em boa medida, de revolta (especialmente das pessoas mais diretamente atingidas). Falo agora sobre Valores.
Talvez, a principal base para o envolvimento com qualquer atividade em nossas vidas, seja o nosso conjunto de valores. Caso nossas atribuições e responsabilidades estejam bem alinhadas com nossos principais valores, o envolvimento com as tarefas e com a busca dos objetivos será muito mais intenso e duradouro.
Por outro lado, quanto mais os valores estão desalinhados com as principais responsabilidades daquela determinada liderança, menor será o empenho, disciplina, carinho e capricho para superar as dificuldades e caminhar no sentido dos principais objetivos.
À medida que a liderança não tem identificação com as buscas principais que lhe são atribuídas, menor também será a capacidade de coordenar o trabalho de suas equipes para atingir as metas estabelecidas.
A qualidade do planejamento tende a ser muito baixa. Além disso, a execução (que demanda o tal do capricho que citei anteriormente) é negligenciada em praticamente todas as etapas.
O controle dessa execução e a revisão para possíveis ajustes, também não são contemplados quando a liderança tem baixa identificação com as incumbências que assumiu em seu cargo.
As consequências são esperadas… Chamar de acidente a fatalidade ocorrida em Brumadinho, em Minas Gerais, me parece, no mínimo, uma atitude inocente. Acidentes absolutamente previsíveis acontecem diariamente dentro das empresas dos mais diversos segmentos, nos hospitais (públicos e privados), na gestão de projetos, em instituições de ensino e nos mais diversos serviços dos órgãos públicos.
Entendo que é preciso um choque de liderança. Se as pessoas que estão no comando não têm a consciência e a clareza da responsabilidade que têm sobre os impactos na vida de tantas pessoas, não temos razão para esperar um mundo muito melhor do que o que estamos vivendo.