Por João Ker
Após meses de especulação, a Netflix lançou seu próprio documentário sobre Britney Spears e a luta de 13 anos que ela trava para eliminar uma tutela que garante ao seu pai o controle de sua vida e de suas finanças. A data de estreia para Britney vs Spears não poderia ser mais oportuna, uma vez que a Princesa do Pop tem aquela que pode ser a última audiência antes de sua liberdade marcada para a tarde desta quarta-feira, 25.
Dirigido pela jornalista Jenny Eliscu e pela cineasta Erin Lee Carr, Britney vs Spears traz muito da história que o público já conhece, principalmente depois de pelo menos seis documentários lançados sobre a batalha legal da artista. Ainda no último fim de semana, a CNN dos Estados Unidos exibiu um especial de uma hora na noite de domingo (“Toxic: Britney Spears’ Battle for Freedom”), enquanto a equipe do The New York Times anunciou e lançou na mesma sexta-feira, 25, “Controlling Britney Spears”, a continuação direta do já premiado Framing, disponível no Globoplay desde março.
Mas apesar da já quase saturação sobre o tema e a pluralidade de testemunhas que até então não haviam se manifestado publicamente, o documentário da Netflix ainda alcança seu próprio mérito por, principalmente, ouvir com exclusividade pessoas essenciais a períodos conturbados da vida de Britney. Quase metade do filme é dedicada ao biênio de 2007 a 2009, quando ela atingia o topo das paradas com os sucessos de “Blackout” e “Circus” e, ao mesmo tempo, enfrentava nos tribunais da Califórnia um processo de divórcio, de guarda dos filhos e, por fim, de tutela.
Se Framing Britney Spears fez barulho ao lembrar a forma como a mídia e a cultura dos paparazzi deterioraram a imagem pública de uma popstar, Britney vs Spears explica o que se passava em seu círculo íntimo e suas relações pessoais durante esse período. Dois relacionamentos não tão explorados até então são relembrados através de entrevistas exclusivas com o paparazzo Adnan Ghalib, com quem a artista teria se relacionado brevemente ao final de 2007; e Sam Lutfi, o empresário que assumiu a vez de seu agente e o papel de “má influência” que acabou “justificando” a tutela em que ela se encontra hoje.
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Ambos eram frequentemente fotografados ao lado de Britney nas noites em que ela percorria as ruas de Los Angeles com 30 carros na sua cola, uma lata de red bull na mão e uma peruca rosa na cabeça. Enquanto Sam explica que a relação da artista com a família já era no mínimo complicada até ali, Adnan conta o momento em que o namoro com ela foi interrompido pelo pai, que a partir dali tinha o direito de restringir suas visitas e impedir que ela se encontrasse com qualquer pessoa.
Um dos episódios mais sinistros – dentre os vários relatados no documentário é narrado pela própria Jenny Eliscu, à época repórter da Rolling Stone. Ela foi escondida ao Beverly Hills Hotel passar um documento por baixo da porta do banheiro para que Britney assinasse sem que os seguranças, a serviço de seu pai, vissem. Orquestrada por Sam e Adnan, a tentativa que a popstar fez em 2009 de contratar seu próprio advogado para lutar contra a tutela também falhou, e foi uma das últimas vezes em que ela tentou algo parecido até 2019, quando cancelou sua segunda residência em Las Vegas, “Domination”.
Essa e outras passagens do documentário, como a carta escrita de próprio punho na qual ela explica o que aconteceu na fatídica noite em que foi amarrada em uma maca e internada à força, enquanto se recusava a devolver os filhos para o pai, transformam Britney Vs Spears em uma lupa sobre meses e anos conturbados, e até então mal explicados, na vida da Princesa do Pop. O filme consegue simultaneamente explicar o imbróglio jurídico e as armadilhas legais para o público geral, ao mesmo tempo em que presenteia os fãs com detalhes, retrospectivas e conteúdos exclusivos bem detalhados e, melhor ainda, contextualizados.
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Para a opinião pública, o filme mostra que a mulher muitas vezes chamada de louca estava apenas tentando conciliar os fantasmas pessoais de uma mãe recém-divorciada com a persona pública da popstar mais fotografada e buscada na internet durante os anos 2000. Já para o tribunal da Califórnia, Britney Vs Spears explica de maneira estarrecedora como o sistema legal de tutela permitiu que a uma das popstars mais poderosas fosse medicada, controlada e silenciada por mais de 13 anos sem seus direitos humanos básicos.