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Brasília está ferida

“Esmagamos a besta do Apocalipse na eleição, mas o Apocalipse vai continuar. Prova disso foi o Capitólio dos caminhoneiros que se seguiu à eleição. Igualmente, haverá outros Capitólios até a posse de Lula e mesmo muito tempo depois.” Escrevemos isso no nosso artigo publicado nesta Tribuna no dia 7 de novembro passado. A “profecia” se cumpre! Aqui, também publicamos em 19 de dezembro: “Em suma, o gado do mito partiu para o terrorismo em Brasília. Assim, na noite da última segunda-feira, 12/12/22, o centro da capital federal virou uma praça de guerra”. A tentativa frustrada de golpe em 8 de janeiro passado foi apenas um dos pontos altos de um processo de longa duração.

Gravações inéditas em vídeo se sucedem na mídia e nas redes sociais, mostrando a depredação dos Poderes da República. E quem são os auto­res? São os que se dizem “patriotas” e “cristãos” cobertos de verde-amarelo. Dentre eles, chama a atenção a participação de empresários, ex-candidatos a cargos eletivos, gente da área de segurança, evangélicos fundamentalis­tas. Alguns aqui de Ribeirão Preto e muitos da região. Todos bolsonaris­tas. Foi o ataque mais feroz à nossa Democracia, com a intenção clara de derrubar, pela violência, um governo legitimamente eleito. Centenas de terroristas continuam presos na Papuda e na Colmeia, em Brasília.

Investigações oficiais vêm mostrando um amplo esquema golpista com financiadores, instigadores, apoiadores e o pessoal da linha de frente que já vinha acampado em frente de quartéis, inclusive os daqui de Ribeirão. Segundo o interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, muitos deles tinham conhecimento do terreno e até conheciam a planta dos prédios do Congresso, do Planalto e do STF. Há ainda fortes indícios de que conheciam técnicas de combate. Terroristas profissionais. Não há como desvincular essa denúncia dos famigerados CACs apoiados pelo ex-presidente. Coisa de profissionais do crime!

O mais assustador é o envolvimento explícito de autoridades constitu­ídas no preparo e na execução do frustrado golpe. A nomeação, pelo go­vernador Ibaneis Rocha, do ex-ministro da Justiça Anderson Torres como Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal é uma verdadeira confissão de culpa. A minuta do golpe é a prova cabal. Os primeiros de­poimentos colhidos pela PF mostram claramente a conivência e a leniência de autoridades da área de segurança com o crime. O rigor da lei precisa ser aplicado sobre todos eles, perpassando toda a cadeia de comando e execução do golpe frustrado. A Democracia venceu, mas os que atentaram contra ela precisam pagar muito caro.

O Washington Post publicou que o comandante do Exército, general Júlio César Arruda, impediu o ministro da Justiça, Flávio Dino, e policiais militares de prenderem pessoas que acampavam no QG do Exército em Brasília no dia das invasões dos terroristas aos prédios da Praça dos Três Poderes. Segundo a publicação, Arruda, teria dito a Dino: “Vocês não vão prender pessoas aqui”. Participavam da reunião, além dos dois, os minis­tros José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil). O governo Lula continua cercado por víboras e precisa agir imediatamente. Já começou a agir. Este general é conhecidíssimo bolsonarista. Basta ir às suas redes sociais.

Um dos aspectos mais chocantes do 8 de janeiro foi o feroz ataque às obras de arte. O bolsonarismo odeia a cultura e as artes. As cenas mostradas sobejamente pela TV e pela internet apenas confirmam os ataques quase diários que assistimos nos últimos quatro anos feitos pelo ex-presidente e seus asseclas contra nossos artistas, escritores, contra a educação e as universidades. O fanatismo, o fundamentalismo religioso, o negacionismo da ciência, o bolsonarismo e, agora, o terrorismo, sempre andaram de mãos dadas com a ignorância. Não é de hoje que essa gente vem perpetrando os mais terríveis ataques à cultura, inclusive aqui em Ribeirão Preto.

Todo este processo recente continua eivado de desinformação e fake news. Agora mesmo, logo após os atos terroristas, chegaram a fazer no Instagram uma montagem bastante reba com o meu rosto afirmando que eu seria petista, comunista e terrorista. Os comentários que vieram afirmavam que eu também seria um dos “infiltrados” nos ataques em Brasília. Tudo parte de um provável movimento covarde para jogar a culpa do golpe frustrado na esquerda! Dei boas gargalhadas desse absurdo, mas também identificamos quem produziu a farsa e já passei o caso para a mi­nha advogada tomar as providências policiais e judiciais cabíveis. Podemos esperar ainda centenas de prisões, inclusive dos peixes pequenos e grandes de Ribeirão. Aguardemos!

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