Idealizada por Juscelino Kubitschek e eternizada pela genialidade de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, Brasília é um verdadeiro museu a céu aberto. Desbravar todas as belezas arquitetônicas da capital federal, que completou 61 anos de existência no último dia 21 de abril, pode ser uma incrível jornada repleta de descobertas. Sobretudo para aqueles que ainda enxergam a cidade com certo preconceito.
Longe de ser apenas uma cidade-dormitório, onde transitam apenas políticos e executivos engravatados, Brasília apresenta um lado cosmopolita só seu, onde exibe endereços charmosos e estrelados no âmbito da gastronomia, da diversão e do lazer. Mas por onde começar? Conheça algumas sugestões de atrações turísticas imperdíveis na capital federal para te inspirar quando tudo isso passar.
Praça dos Três Poderes
Não há lugar melhor para começar a desbravar Brasília do que a Esplanada dos Ministérios, no Eixo Monumental, via que corta o Plano Piloto no sentido leste-oeste. Alguns dos principais pontos turísticos da cidade se encontram ali, em uma ampla área gramada rodeada de prédios de construção uniforme. Comece com uma visita à Praça dos Três Poderes, que reúne o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Acredite, não há nada de chato em admirar, mesmo que de fora, os belos traços arquitetônicos que dão vida aos edifícios.
Catedral Metropolitana de Nossa Senhora de Aparecida
Encontrar a mais bela e mais famosa obra de Oscar Niemeyer em Brasília não é uma tarefa simples. A concorrência é acirrada e bastante pessoal, mas a Catedral Metropolitana é páreo duro na disputa. Considerada por muitos como a grande “obra-prima” de Niemeyer, a construção rendeu ao arquiteto o Prêmio Pritzker em 1988, o equivalente ao Nobel de sua profissão. A beleza dos seus inconfundíveis arcos e vitrais é única. Visita mais que obrigatória.
Museu Nacional da República
Pertinho da Catedral Metropolitana, o Museu Nacional da República, no Setor Cultural Sul da Esplanada dos Ministérios, é outra obra arquitetônica de Oscar Niemeyer que costuma atrair a atenção dos turistas pelo seu incrível formato de cúpula com ares pra lá de futuristas. O charme, é claro, fica por conta da rampa de entrada. Na hora da foto, não deixe de aproveitar a presença da Biblioteca Nacional, ao lado do museu.
Torre de TV
Projetada por Lúcio Costa e inaugurada em 1967 para receber antenas de emissoras de rádio e Televisão, a Torre de TV de Brasília é um marco visual na cidade. Seus 230 metros de altura oferecem vista panorâmica para as Asas Sul e Norte e para o Eixo Monumental. A atração, antes aberta ao público, encontra-se fechada atualmente para obras, mas mesmo interditada, a visitação é altamente recomendada pelo charme do entorno. A Feira da Torre, na base da atração, é uma reconhecida e convidativa feirinha de artesanato. O Jardim Burle Marx, a Fonte Luminosa e o Estádio Mané Garrincha estão próximos.
Ponte JK
Localizada no Lago Paranoá, próximo ao Palácio da Alvorada, a Ponte JK liga o Lago Sul ao centro do Plano Piloto e representa hoje um dos principais cartões postais de Brasília. Não à toa é um das atrações mais fotografadas da cidade. Também conhecida como “Terceira Ponte”, a construção é mais um projeto que rendeu prêmio ao seu criado, o arquiteto Alexandre Chan.
Praça dos Pioneiros
A Praça dos Pioneiros, onde o túmulo de Juscelino foi erguido, é local de repouso exclusivo para pioneiros e autoridades que participaram da construção de Brasília. É uma praça bem arborizada, onde estão hasteadas as bandeiras do Brasil, do Distrito Federal e de Minas Gerais, terra natal de JK. A praça é o primeiro ponto da Ala dos Pioneiros. Nessa área do cemitério, reservada aos primeiros moradores da cidade, o enterro só ocorre com a autorização do Clube dos Pioneiros de Brasília.
Além do túmulo de Juscelino, onde hoje repousam Sarah e Márcia, também estão na praça os túmulos do engenheiro agrônomo Bernardo Sayão; de Joffre Mozart Parada, o primeiro engenheiro a chegar na nova capital; e do padre italiano Primo Scussolino, primeiro clérigo a chegar a Brasília. Também descansa na praça o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Domingos Roriz, falecido em 2018.
Monumento histórico, túmulo vazio de JK reina solitário no cemitério
Os restos mortais de Juscelino Kubitschek estão no Memorial JK, no centro da cidade. Mas no cemitério Campo da Esperança, principal cemitério do Distrito Federal, o fundador de Brasília também tem um túmulo. Apesar de seus restos mortais não repousarem lá, o local conserva a elegância e a atmosfera solene digna do homem que levantou uma capital federal em apenas três anos.
O túmulo de JK no Campo da Esperança se tornou uma nota de rodapé na história do presidente, a ponto de brasilienses de menos de 40 anos sequer saberem de sua existência. Mas ele continua lá, como parte de uma paisagem solitária e silenciosa. Na verdade, encontra-se no local mais nobre do cemitério, a Praça dos Pioneiros. O destaque da praça é um espaço todo em mármore, com pouco mais de 8 metros de largura por 5,5 metros de comprimento, cercado por correntes. No meio da campa larga, o espaço reservado ao corpo do presidente. Abaixo do seu nome, uma descrição simples, mas mais que suficiente: O Fundador.
Aqueles acostumados a verem o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal serão rapidamente arrebatados pela sensação de déjà vu ao visitarem o túmulo de Juscelino. Uma singela escultura à frente do jazigo do presidente, como um guarda permanente do descanso presidencial, é carregada de familiaridade.
Trata-se de um obelisco, de linhas curvas e suaves, que tem a função de porta-velas, mas caberia sem estranhamento algum na Praça dos Três Poderes. É claro, nada mais justo que o túmulo do fundador de Brasília fosse projetado por Oscar Niemeyer. Foi feito com sobras do mármore usado na construção de Brasília.
O funeral
O corpo do presidente mais importante da história de Brasília esteve no Campo da Esperança entre 1976 e 1981. O dia do seu enterro está na memória de muitos que viveram naquela época. Roosevelt Dias Beltrão, presidente do Clube dos Pioneiros de Brasília, conta com a clareza de quem acabou de viver o momento.
“Foi uma multidão danada. Largaram para trás o caminhão que levava e o caixão foi nas costas dos pioneiros. Desceram pela W3 Sul até chegar lá no cemitério. Não pesou pra ninguém porque tinha uma multidão que você nem imagina. Uma presença merecida, né? Nenhum presidente teve o carisma que ele teve, fez o que ele fez. Construiu Brasília sem dinheiro, prometeu, inaugurou”, lembrou. “Acho que [o túmulo] deveria ser mais valorizado”, observou.
Em depoimento gravado à época da inauguração do Memorial JK, local totalmente voltado a preservar a história do ex-presidente, a viúva de JK, Sarah Kubitschek, lembrou do dia em que entregou aos braços do povo o corpo do marido. “Vendo aquela multidão chorando e gritando o nome de Juscelino, eu tomei coragem e reparti com o povo aquele ser querido que nos pertencia. No tumulto da ocasião, levantei a minha voz e disse: levai-o, JK pertence ao povo. O enterro de JK ficou sendo a primeira manifestação concreta de que novos horizontes se abriam para a nação.”
Beltrão também não economiza elogios para o projetista do túmulo presidencial. “Niemeyer acompanhou o Juscelino até depois da morte dele. Niemeyer era outra capacidade também, não é?”. Mas a permanência de JK no Campo da Esperança foi curta. A ideia de erguer um memorial em homenagem ao presidente, com a guarda dos seus restos mortais, foi de Sarah.
“Durante três anos ele repousou no Campo da Saudade, num túmulo modesto feito por Oscar Niemeyer. Mas eu tinha prometido erguer um memorial em Brasília, que era também um anseio do povo brasileiro”, contou a primeira-dama no depoimento. A área foi cedida pelo governador do Distrito Federal à época, Aimé Lamaison. No dia da inauguração, em 12 de setembro de 1981, os restos mortais exumados de JK foram depositados em um ataúde negro ao som do toque de silêncio do clarim de um fuzileiro naval.
Atualmente, no primeiro túmulo de Juscelino permanecem os restos mortais da própria Sarah Kubitschek e da filha do casal, Márcia, ladeando o espaço reservado ao presidente. Mas o local ficou completamente vazio por quase 15 anos, servindo como um monumento à grandeza do presidente preferido no coração dos brasilienses. Sarah faleceu em 1996, aos 87 anos, e Márcia em 2000, aos 56 anos.