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Brasileiros assumem missão de risco no Congo

Por Roberto Godoy

O Brasil vai mandar para a República Democrática do Congo (RDC), em junho, 13 de seus melhores guerreiros da selva, oficiais e especialistas, para treinar a tropa da missão internacional da ONU no país, a Monusco. O grupo vai permanecer em ação ao longo de seis meses. É uma primeira etapa. 

O Sistema de Capacidades em Operações de Paz das Nações Unidas considera que esse trabalho poderá ser estendido se houver necessidade. Os instrutores militares brasileiros, todos formados pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), de Manaus, viaja diretamente para a cidade de Beni, no nordeste da República Democrática do Congo.

É uma área em conflito, onde atuam entre 100 e 200 bem armados grupos de rebeldes empenhados na luta étnica e religiosa com crescente influência de movimentos radicais, como o Boko Haram, infiltrado a partir da Nigéria, e o Estado Islâmico na Líbia, com base em pequenas vilas próximas de Sirte, no Mediterrâneo. 

Há cinco meses, sete soldados da Monusco – seis do Malawi e um da Tanzânia – foram mortos em uma emboscada na floresta de Ituri, a oeste de Beni. A província onde está o município, Kivu do Norte, e a vizinha Ituri, enfrentam também um agressivo surto de ebola, com 900 mortos entre 1.412 casos diagnosticados até a semana passada. Mais de 120 mil pessoas foram vacinadas. 

Além da dificuldade para atender a população exposta ao vírus em localidades de acesso limitado por estradas precárias ou feito apenas por trilhas, há ainda a ameaça constante de ataque contra as equipes médicas. O mais recente, em abril, deixou 11 feridos em Butembo, um centro turístico. Os milicianos exigem que o pessoal estrangeiro da Organização Mundial da Saúde (OMS) e as equipes dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) saiam do território.

O comando do Exército considera que o trabalho dos instrutores na RDC pode abrir a possibilidade de um novo viés para a participação do País em operações internacionais, atuando de forma qualitativa, preparando pessoal de campo. O Brasil participa de missões da ONU há 70 anos. Cerca de 46 mil homens e mulheres das Forças Armadas e de serviços civis estiveram comprometidos com as ações, cumprindo 42 diferentes mandatos. 

O atual comandante da Monusco é um general brasileiro, Elias Rodrigues Martins Filho, que lidera 16,2 mil soldados. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, tem sustentado essa percepção. Falando na Conferência de Ministros da Defesa das Nações Unidas, disse que “fornecer às tropas um treinamento eficaz é essencial para o bom desempenho”.

Os guerreiros

Os 13 militares brasileiros são todos combatentes, selecionados diretamente pelo gabinete do comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. No Congo, serão chefiados pelo tenente-coronel Adelmo de Sousa Carvalho Filho. O grupo é formado por oficiais, subtenentes e sargentos. 

Na média, têm entre 30 anos e 45 anos. São fluentes em inglês e têm em comum a especialização em conflito de selva. Vários deles atuaram em missões semelhantes na Guiana Francesa, no Suriname, na Guiana e no Senegal. 

Adelmo, o comandante, piauiense de Teresina, casado e pai de dois filhos, está lotado em Belém, no Pará, sede do Comando Militar do Norte. Há um certo cuidado com a segurança da equipe. De seu perfil pessoal, por exemplo, sabe-se apenas que é um corredor de média distância e “leitor de livros”. Dos demais, nem isso. É fácil entender os motivos.

A equipe é integrada por peritos em Treinamento de Guerra na Selva (JWTT, na sigla em inglês) e vai preparar oficiais e sargentos da Brigada de Intervenção da ONU no Congo. 

É uma unidade de combate efetivo, formada com pessoal de variada origem – só da África o contingente saiu de quatro países – para ser empregada na repressão destinada a garantir a segurança da população, dos voluntários em programas humanitários e no apoio ao governo reconhecido do presidente Felix Tshisekedi, “nas iniciativas de estabilização da RDC”, nos termos da ata de instalação da Monusco em 2010. 

“Isso quer dizer que nosso pessoal vai preparar guerreiros para agir com eficiência contra a força adversa no seu cenário mais favorável, o da floresta – é claro que isso é um fator de risco”, explicou ao Estado um veterano do Centro de Instrução. 

O time não vai levar equipamento próprio. Nas instalações militares, em Beni, será usado o material da Brigada – em princípio, fuzis calibre 5.56mm, pistolas 9mm, facas de sobrevivência, granadas e explosivos leves. 

Até a semana passada, o time do Brasil estava em Manaus preparando o programa de treinamento. O Cigs realiza dois cursos anuais de 12 semanas, limitado a 100 militares – 10% dos quais desistem antes do final. 

Em três fases, os alunos aprendem a evitar doenças tropicais, encontrar alimentos e água na mata; manipular explosivos, preparar e lançar ataques furtivos, conduzir operações com helicópteros e lanchas. Também passam muito tempo no estande de tiro – em menos de um mês, terão de efetuar mil disparos com rendimento de precisão acima de 85%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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