Tribuna Ribeirão
Economia

Brasil tem 13,5 mi de miseráveis

JF PIMENTA/ARQUIVO

O Brasil atingiu nível re­corde de pessoas vivendo em condições de miséria no ano passado, com 13,537 milhões de brasileiros, contingente maior do que toda a popula­ção da Bolívia. Os dados são da Síntese de Indicadores So­ciais (SIS), divulgada pelo Ins­tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quar­ta-feira, 6 de novembro.

O País tem mais miseráveis do que a soma de todos os habi­tantes de países como Portugal, Bélgica, Cuba ou Grécia. “A pe­quena melhora no mercado de trabalho não está chegando a es­sas pessoas, está pegando pesso­as já numa faixa (de renda) mais alta. A extrema pobreza cresce”, ressalta André Simões, gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

A pesquisa do IBGE consi­derou a classificação do Banco Mundial para a pobreza ex­trema, ou seja, pessoas com rendimentos inferiores a US$ 1,90 por dia, o equivalente a cerca de R$ 145 mensais (pelo método de paridade de poder de compra). A conversão cam­bial usada para chegar ao valor mensal em reais não usa a taxa de câmbio, mas sim o método de “paridade de poder de com­pra” (PPC).

O sistema leva em conta o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado interno dos Estados Unidos. Como o corte do Banco Mundial foi estabe­lecido em 2011, o IBGE usou a taxa de conversão pelo PPC daquele ano e atualizou os va­lores pela inflação.

“O principal programa de redução de pobreza do Brasil tem uma linha de corte de R$ 89. Mesmo a pessoa recebendo Bol­sa Família, ela vai estar abaixo de uma linha de pobreza global. Está bastante longe dos R$ 145 (adotados pelo Banco Mundial). A linha usada para administra­ção do Bolsa Família está abaixo da linha de pobreza internacio­nal”, lembrou Leonardo Athias, técnico também na Coordena­ção de População e Indicadores Sociais do IBGE.

O programa Bolsa Família, voltado para a redução da ex­trema pobreza, atende às famí­lias com renda per capita de até R$ 89 mensais. Famílias com renda per capita entre R$ 89,01 e R$ 178 mensais podem ser contempladas apenas se tiverem crianças ou adolescentes até 17 anos de idade. O porcentual de famílias que recebem Bolsa Fa­mília caiu em sete anos, segun­do dados do IBGE, passando de 15,9% dos lares brasileiros em 2012 para 13,7% em 2018.

Por outro lado, o total de miseráveis no País vem cres­cendo desde que começou a crise, em 2015. Em 2014, 4,5% dos brasileiros viviam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2018, esse porcentual subiu ao patamar recorde de 6,5%. Em quatro anos de piora na pobre­za extrema, mais 4,504 milhões de brasileiros passaram a viver na miséria, a maioria deles era de cor preta ou parda.

Os brasileiros pretos e par­dos eram 75% da população vivendo em condições de mi­séria no ano passado. Quan­do considerada a população abaixo da linha de pobreza – ou seja, com renda de US$ 5,50 por dia, cerca de R$ 420 mensais – eles também eram maioria. Em 2018, 25,3% da população brasileira estavam abaixo da linha de pobreza, 52,5 milhões de pessoas, sen­do 72,7% deles negros ou par­dos. Em relação a pré-crise, o País tem mais 6,706 milhões de pessoas na pobreza.

A leve recuperação econô­mica observada nos últimos dois anos no Brasil não se re­fletiu de forma igual entre os diversos segmentos sociais. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB – a soma de todas as riquezas produzidas no país) cresceu 1,1% em 2017 e 2018, após as quedas de 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, o rendi­mento dos 10% mais ricos da população subiu 4,1% em 2018 e o rendimento dos 40% mais pobres caiu 0,8%, na compara­ção com 2017.

Com isso, o índice que mede a razão entre os 10% que ganham mais e os 40% que ga­nham menos, que vinha cain­do até 2015, quando atingiu 12, voltou a crescer e chegou a 13 em 2018. Ou seja, os 10% da população com os maio­res rendimentos ganham, em média, 13 vezes mais do que os 40% da população com os menores rendimentos.

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