Tribuna Ribeirão
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Brasil reduz a pobreza, mas o caminho ainda é longo 

André Luiz da Silva *
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Uma boa notícia chegou pelos dados do IBGE: em apenas um ano, 8,7 milhões de brasileiros superaram a pobreza. A população em situação de vulnerabilidade caiu de 67,7 milhões para 59 milhões entre 2022 e 2023, alcançando o menor patamar desde 2012. A extrema pobreza também recuou, afetando agora 9,5 milhões de pessoas — 3,1 milhões a menos que no ano anterior.

Esses avanços se devem, em grande parte, à recuperação do mercado de trabalho e ao fortalecimento do programa Bolsa Família, que ampliou sua abrangência e elevou os valores transferidos às famílias mais necessitadas.

O Banco Mundial define como pobreza uma renda diária de até US$ 6,85 por pessoa. Já a extrema pobreza corresponde a uma renda de até US$ 2,15 por dia.

Os números do IBGE escancaram desigualdades que vão além da renda. A pobreza atinge 28,4% das mulheres, enquanto entre os homens essa proporção é de 26,3%. Na extrema pobreza, a diferença também persiste: 4,5% das mulheres contra 4,3% dos homens.

O recorte racial revela disparidades ainda mais profundas. Pessoas pardas enfrentam uma taxa de pobreza de 35,5%, seguidas pelas pretas (30,8%) e brancas (17,7%). Na extrema pobreza, os índices são igualmente alarmantes: 6% entre pardos, 4,7% entre pretos e 2,6% entre brancos.

Regionalmente, o Nordeste é a área mais afetada, com 47,2% da população vivendo na pobreza e 9,1% na extrema pobreza. O Norte vem em seguida, com 38,5% e 6%, respectivamente. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam números menores, mas ainda significativos, com destaque para a pobreza no Sul, que atinge 14,8% da população.

Enquanto milhões lutam para colocar comida na mesa, o Brasil desponta como uma potência agrícola. O relatório “Projeções do Agronegócio, Brasil 2023/2024 a 2033/2034”, realizado pela Embrapa e pelo Ministério da Agricultura, prevê um aumento de 15,5% na produção agrícola nos próximos dez anos. Culturas como soja, milho, arroz, feijão e trigo devem ocupar 92,2 milhões de hectares, consolidando o país como um dos maiores exportadores de alimentos do mundo.

Apesar dessa capacidade produtiva, as esquinas das cidades seguem sendo ocupadas por pessoas que, com cartazes pedindo ajuda para comprar comida, fazendo malabarismos ou apelos emocionais, buscando o básico para sobreviver.

Os avanços são inegáveis, mas insuficientes. A redução da pobreza no Brasil exige uma abordagem ainda mais incisiva e sustentável. Além de manter e aprimorar programas de transferência de renda como o Bolsa Família, é crucial investir em políticas públicas que fomentem a geração de empregos, a valorização do salário mínimo e o acesso universal à educação e à saúde.

Por outro lado, a solidariedade não deve ser apenas um ideal individual, mas uma prática coletiva. Empresários, governos e sociedade civil precisam atuar de forma coordenada para garantir que o Brasil produza riqueza com distribuição justa. A erradicação da pobreza passa pela criação de oportunidades reais para todos — não apenas em números, mas na dignidade de cada brasileiro.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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