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Brasil: Celeiro cheio e barriga vazia 

André Luiz da Silva * 
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Diariamente, somos inundados por propagandas que exaltam o agronegócio brasileiro. Televisão, rádio, jornais e revistas dedicam programas e editoriais para destacar a potência do setor, que contribuiu com R$ 2,45 trilhões ao PIB em 2024 – sendo R$ 1,65 trilhão da agricultura e R$ 801 bilhões da pecuária, conforme os preços do primeiro trimestre de 2024. 
 
Para impulsionar ainda mais o setor, o Governo Federal lançou o Plano Safra 2024/2025, através do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Este plano oferece linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores, destinando R$ 400,59 bilhões para financiamentos nesta safra, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. 
 
Entretanto, a mesma atenção midiática não é dada aos dados alarmantes de insegurança alimentar grave. De 2020 a 2022, 9,9% dos brasileiros (21,1 milhões) sofriam com a fome. Embora tenha havido uma melhoria para 6,6% (14,3 milhões) de 2021 a 2023, o Brasil ainda está no Mapa da Fome global. No total, quase 1/5 da população brasileira não teve acesso adequado à alimentação nos últimos três anos. 
 
No G20, o presidente Lula reafirmou o compromisso de tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2026, como fez em 2014, destacando que este é “o tema mais atual e desafiador para a humanidade” e “a mais degradante das privações”. 
 
O Brasil, conhecido como o “celeiro do mundo”, é o maior exportador mundial de soja (56% das exportações totais), milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%). Além disso, é vice-líder nas vendas de etanol e algodão. Diante dessa posição, é difícil entender por que tantos brasileiros ainda passam fome e por que muitos produtos têm preços tão altos no mercado local. 
 
Seguem no Congresso Nacional os esforços para a aprovação e implantação da reforma tributária, que pode reduzir os preços dos alimentos. No entanto, outras medidas de geração de emprego e transferência de renda enfrentam resistências, especialmente dos setores mais privilegiados que historicamente sempre foram beneficiados e, raramente devolveram contrapartidas das benesses em favor da coletividade. 
 
Recentemente, a Ministra do Orçamento e Planejamento, Simone Tebet, destacou: “O problema dos gastos no Brasil não é o pobre no Orçamento, são os privilégios dos ricos. Precisamos revisar ponto a ponto os gastos tributários para garantir que as renúncias fiscais beneficiem efetivamente o interesse coletivo.” Ela tem toda razão, só não sabemos se terá as condições necessárias para tanto. 
 
É crucial que a riqueza gerada pelo Brasil seja comercializada para o mundo, mas antes, usufruída por toda sua população. Para isso, é necessário que políticas públicas e medidas de redistribuição de renda sejam implementadas de forma justa e eficaz, garantindo que todos os brasileiros tenham acesso aos benefícios da prosperidade nacional. 
 
Um dos nossos maiores desafios é garantir que, após sair do mapa da fome, jamais voltemos a experimentar a inaceitável contradição de um país com milhares de celeiros cheios e milhões de pessoas de barriga vazia. Viva o agronegócio, viva o pobre também! Viva o dia em que a fome não matará mais ninguém! 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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