No início do século XX cada bairro de Ribeirão Preto tinha seu clube de futebol e estes disputavam entre si torneios bastante acirrados. A Vila Tibério, um dos mais tradicionais bairros da cidade, possuía três equipes na época, o União Paulistano, o Tibeirense e o Ideal Futebol Clube. Mas os três times sozinhos eram muito fracos e não conseguiam jogar de igual para igual com as potências da época, como o Comercial, o Operário, o Atlântico, o Força e Coragem e o Palestra Itália.
Em 1918, os diretores do Ideal tiveram a ideia de formar um time mais forte, que tivesse apoio de todo o bairro. Chamaram os dirigentes das outras associações e propuseram a fusão, que foi oficializada no dia 12 de outubro daquele ano. Começava a história do Botafogo Futebol Clube. O nome teria saído no calor de uma reunião interminável, quando alguém teria bradado: “Ou vamos logo com isso, ou bota fogo em tudo”.
O primeiro jogo da recém-fundada equipe foi realizado na cidade de Franca, contra o Esporte Clube Fulgêncio. O jovem Botafogo não se apavorou e venceu a partida por 1 a 0, dando mostras do futuro glorioso que teria pela frente. O primeiro troféu veio em 1927, quando a equipe conquistou o Campeonato Paulista do Interior, realizado pela Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). Máximo Trujillo, o Carrapato, era o craque e o capitão daquela equipe.
A conquista deste troféu deu ao Botafogo o direito de disputar a Taça Competência, que colocava frente a frente os campeões do interior e de São Paulo. Nesta disputa o time de Ribeirão Preto acabou sendo derrotado pelo Palestra Itália (atual Palmeiras), mas a brilhante campanha da equipe naquela temporada e a projeção estadual que o jogo contra o poderoso Palestra acabaram rendendo ao Botafogo o apelido que ele ostenta até hoje: Pantera da Mogiana.
Em 1947, o Botafogo foi um dos clubes que disputaram a primeira edição da Segunda Divisão do Campeonato Paulista (atual Série A2). O time participou da Segundona por dez anos, quase conquistando o acesso em 1950 e 1954. Nessas duas ocasiões, o clube chegou às finais, mas foi derrotado por Radium e Taubaté, respectivamente. Em 1956, o Botafogo voltou a decidir o torneio, desta vez contra o Paulista. Foram três jogos, sendo o último no dia 10 de fevereiro de 1956, no estádio Palestra Itália, em São Paulo. O Botafogo venceu a partida por 1 a 0 e levou para Ribeirão Preto o campeonato da Segunda Divisão.
Ainda em 1956, o time conquistou o Troféu Centenário de Ribeirão Preto. A vitória no torneio foi muito comemorada na época, por ter sido contra o Comercial, arquirrival do clube. Em 1957, Botafogo esteve pela primeira vez na elite do Paulistão, e fez bonito. Terminou num honroso quinto lugar, disputando entre os grandes da Série Azul (espécie de primeira divisão da primeira divisão). O primeiro jogo do Botafogo na elite do futebol paulista terminou empatado por 0 a 0 contra o Juventus, no estádio Luís Pereira, em Ribeirão Preto.
Em 1960, o Pantera terminou o primeiro turno do Campeonato Paulista em primeiro lugar. Na época, o torneio era disputado por pontos corridos e o Botafogo ficou nove jogos invictos até perder, na décima rodada, para o XV de Piracicaba. Destacam-se neste período as vitórias contra o São Paulo por 2 a 1, na capital paulista, e a goleada contra o Comercial por 5 a 2. Após perder a invencibilidade, o Bota ainda venceria, na rodada seguinte, a Portuguesa por 4 a 2, na capital.
O título de 1960 foi apenas simbólico, mas em 1977 o Botafogo seria, desta vez oficialmente, campeão do primeiro turno do Campeonato Paulista. O feito rendeu ao clube o troféu de maior prestígio de sua história, a Taça Cidade de São Paulo. Com um time formado por grandes jogadores em um elenco que somava experiência e juventude, o Bota foi representado no Paulistão de 1977 por craques como Lorico, Sócrates, Zé Mario, Aguillera, João Carlos Motoca, entre outros. O time foi a sensação do Campeonato daquele ano e a conquista deu ao time projeção nacional.
Campeão da Série D e acesso à Série B
Em 2001, o clube de Ribeirão Preto fez uma campanha irretocável no Paulistão. Com um elenco jovem – com média de idade de 22,6 anos, a menor entre os participantes do torneio daquele ano – o clube terminou a primeira fase da competição em quarto lugar, deixando para trás os grandes São Paulo e Palmeiras. Nas semifinais, venceu a Ponte Preta, que tinha terminado a fase classificatória em primeiro lugar e era grande favorita para chegar às finais. O time só parou no Corinthians, mas não sem antes segurar um empate por 0 a 0 no Morumbi lotado. O vice-campeonato foi comemorado em Ribeirão Preto como um título.
Após este feito, o Botafogo voltou a ser irregular, sendo mais uma vez rebaixado em 2003. Em 2005, teve o pior resultado de sua história, ao cair para a Série A3 do Paulistão. Foi o nível mais baixo disputado pelo clube desde sua primeira participação no Paulista, em 1947.
A queda, no entanto, serviu para reavivar o time, que vem se reestruturando desde então. Em 2006, subiu para a Série A2 e, no ano seguinte, quase conseguiu o aceso para a elite, chegando ao quadrangular final e perdendo a vaga por apenas dois pontos. O acesso à Série A1 veio em 2008. Em 2009, o clube disputou pela 42ª vez a divisão de elite do Paulistão, terminando na 15ª colocação, o que garantiu ao clube a permanência na Série A1 em 2010.
Desde então, na elite, o clube oscilou boas e más campanhas. Em 2010 viveu momento histórico ao vencer o São Caetano e comemorar o título do Troféu do Interior, mas em 2011, esteve longe da classificação entre os oito com o 13º lugar. Pior ainda foi em 2012, quando a equipe só escapou da queda na última rodada. No entanto, em 2013, nova boa campanha e com o sétimo lugar, além de disputar as quartas de final com o Mogi Mirim, ainda garantiu uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.
Em 2015, dois anos após ingressar na Série D, o Botafogo conquistou seu primeiro título brasileiro, depois de bater o River-PI no placar agregado. Venceu no Santa Cruz por 3 a 2 e empatou em 0 a 0 na volta, em Teresina, conquistando assim vaga na Série C do Brasileirão, onde permaneceu até conquistar o acesso à Série B, em 2018, contra o Botafogo da Paraíba.
No primeiro jogo, em João Pessoa, foi derrotado por 1 a 0. No jogo de volta bateu o adversário pelo mesmo placar, com gol de Caio Dantas aos 47 minutos do segundo tempo e ficou com a vaga na cobrança de pênaltis: 4 a 3.
O Botafogo encerrava a temporada de 2018 com um triunfo memorável, que se repetia 22 anos depois de 1996, quando subiu da Série C para a B. Agora, de maneira histórica, no ano de seu primeiro centenário.
Clube profissionaliza gestão
Recém-transformado em Sociedade Anônima, o Botafogo deu a largada em 2018 para um novo modelo de gestão, que estabelece a profissionalização nas estruturas do departamento de futebol, a chegada de um sócio que já aportou no clube R$ 8 milhões e o iniciou a construção da primeira parte da futura arena multiuso. A ideia é a de gerar novas receitas para fazer frente às despesas, entre elas o parcelamento de dívidas federais como Refis, o Ato Trabalhista, além da folha de pagamento e o custeio para manter toda a estrutura do clube funcionando com eficiência. “Precisamos gerar receitas e a arena será a grande fonte dessa arrecadação necessária”, afirma o empresário Adalberto Baptista em recente entrevista.
Já com as obras em andamento – e com previsão de entrega em janeiro – o estádio Santa Cruz já começa a mudar. A área da “churrasqueira” irá abrigar 32 camarotes que serão utilizados para jogos de futebol e, preferencialmente, em grandes shows. Ainda na área próxima ao espaço dos camarotes serão erguidos restaurantes e um bar temático para receber clientes não apenas nos dias de futebol, mas que serão incorporados à vida da cidade. “Nossa ideia é agregarmos valor ao estádio e dispor de espaços que irão receber clientes durante toda a semana. Enfim, um grande e diferenciado ponto de encontro”, diz o presidente do Botafogo, Gerson Engrácia Garcia.
Adalberto Baptista avalia que os investimentos que estão sendo feitos no Santa Cruz serão revertidos em curto espaço de tempo, isto porque, segundo ele, Ribeirão Preto é uma cidade próspera, que possui público para ocupar esses espaços, sem contar com a força econômica da região, que tem a sua economia baseada no agronegócio, na prestação de serviços e no comércio. “O Atlético Paranaense fez isso e o resultado é positivo. Ribeirão não perde em nada para Curitiba”, compara.
A região metropolitana de Ribeirão Preto é formada por 34 municípios, tem população de 1,7 milhão de habitantes, PIB de R$ 55,1 bilhões e PIB per capita de R$ 27 mil. “É um público que consome em Ribeirão Preto e que está ávido por novas oportunidades gastronômicas, de negócios e de entretenimento”, observa o economista Antônio Vicente Golfeto.
Na semana passada, a Eurobike, empresa multimarca no comércio de veículos importados, anunciou a criação de um espaço na arena multiuso, com contrato de 12 meses com possibilidade de renovação. “É uma grande oportunidade para colocarmos nossa marca, pois se trata de um grande projeto”, destacou o empresário Henri Visconde.
Além da expectativa
O planejamento para o Botafogo chegar à Série A do Campeonato Brasileiro, onde se encontram os clubes da elite, foi por água a baixo. A ideia era permanecer três anos na C, outros três na B e, finalmente, ser listado entre os grandes. Com a antecipação do acesso à Série B em dois anos, o clube teve uma resposta acima da expectativa dentro de campo. “Vamos rever tudo aquilo que havíamos projetado, mas não deixa de ser uma grande conquista”, considera Baptista.
Prova de que as coisas caminham bem dentro e for das quatro linhas, foi a confirmação, nesta semana, da permanência do técnico Léo Condé até o final da temporada de 2019, que inclui o Campeonato Paulista e o Brasileiro da Série D.
Em fase de planejamento, o Botafogo deverá anunciar em breve suas primeiras contratações para o ano que vem.