Tribuna Ribeirão
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“Bom” Romeu Alberti!

Pe. Gilberto Kasper *
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O presente artigo relembra um de nossos Arcebispos de Ribeirão Preto, que governou nossa Igreja particular entre 22 de agosto de 1982 a 6 de agosto de 1988, quando atendeu seu nome ecoando na eternidade, depois de lutar contra uma leucemia. No dia de seu natalício, 21 de abril de 1983, recebeu de presente o diagnóstico de leucemia, cuja enfermidade guardou em sigilo absoluto, ate mesmo de seus familiares e secretário particular. Dom Romeu Alberti foi tão amado pelo povo, que da mais nobre elite às senhoras mais simples, descalças ou calçando sandálias de borracha, o chamavam de “Bom” Romeu Alberti.

Chegando de Apucarana (PR), onde fora o primeiro Bispo Diocesano, foi acolhido por uma multidão na alameda central da Praça da Bandeira em frente a Catedral Metropolitana de São Sebastião, na tarde do dia 22 de agosto, um domingo ensolarado. Sua chegada foi criticada por alguns clérigos, porque o então Vigário Geral, Mons. Horácio Longo, amigo da Família Biagi, o convenceu a chegar com seu carro pessoal de Apucarana até a cidade vizinha de Jaboticabal, onde embarcou num helicóptero gentilmente cedido pela Família Biagi. Logo foi rotulado de ser o Arcebispo dos “ricos”, “usineiros”, em detrimento dos mais surrados e pobres da região.

Mal sabiam os que tais comentários faziam, que Dom Romeu era bem mais simples e pobre do que o adjetivavam. Vestia-se com tanta simplicidade, que a mitra muitas vezes se encontrava amassada. Certo dia apareceu com uma meia azul e outra marrom, arrancando gargalhadas de todos os que o avisaram do “descuido” ao calçar meias. Aparecia de camisa de mangas curtas. Só não abria mão da cruz peitoral e do anel episcopal. Alegrava a todos que com ele conviviam. Fazia rir até os mais desapontados com situações em extrema vulnerabilidade, não raras vezes.

Gostaria de testemunhar que Dom Romeu Alberti, sem nenhum juízo de valores, após as celebrações que presidia na Catedral em períodos solenes, como Natal, Passagem de Ano e Páscoa, preferia cear com os mais pobres da cidade. Não fazia tais refeições no Palácio Arquiepiscopal. Em 1984 fui por ele incumbido a leva-lo a Comunidades Faveladas com o porta-malas do Corcel, cheio de presentes que recebia naquelas ocasiões: panetones, bebidas finas, doces, queijos entre tantas outras guloseimas. Parávamos em determinado barraco, aleatoriamente e nos convidávamos a cear com a família que ali residia, ou sobrevivia. Geralmente era um barraco minúsculo com sete ou oito moradores. Comíamos e bebíamos o que tinham a oferecer: pão seco e duro, bolachas Maria, suco ou café bem ralos.

Numa dessas visitas, as cadeiras eram caixas de sabão. Ao sentar-se sobre uma daquelas caixas, Dom Romeu caiu de costas e pernas para o ar, quebrando com seu peso a caixa frágil de sabão. Foi uma festa e muitas risadas.

Ao final da ceia juntamente com os anfitriões, Dom Romeu convidava os membros daquela Família e alguns vizinhos, para aproximarem-se do Corcel. Pedia para abrir o porta-malas e começava a distribuir os presentes que levara. A alegria estampada no rosto, especialmente das crianças, era para nós o maior presente que alguém possa desejar. Ao retornar para o Palácio, Dom Romeu pedia que isso ficasse em sigilo absolto. Ninguém podia saber onde ceara.

Encontro-me em Ribeirão Preto desde 1982, porque Dom Romeu Alberti não me deixou retornar para a cidade de Novo Hamburgo (RS). Enquanto estudei em Bogotá na Colômbia, fez questão de me visitar numa de suas idas ao CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano), e quando estudei em Eichstätt na Alemanha me visitou três vezes, sendo que na última vez, quando celebrava seu Jubileu de Prata de Ordenação Episcopal a 24 de maio de 1987, quis ordenar-me diácono, mesmo que precocemente.

Desde a eternidade, debruço minha esperança sobre a fé, de que “Bom” Romeu Alberti olha por nossa Arquidiocese e nossas Vocações. Era um grande incentivador da então chamada “Obra das Vocações Sacerdotais” – OVS. Arrisco-me a dizer, e só a mim mesmo, de que se tratava de um santo homem, Dom Romeu Alberti, que viu na festa da Transfiguração do Senhor em 1988, o próprio Cristo transfigurado!!! Que privilégio! Celebrou sua páscoa exatamente 10 anos após a de São Paulo VI!

* Padre, professor universitário, assessor da Pastoral da Comunicação e reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e jornalista 

 

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