O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ignorou a França ao participar da cerimônia de integração do submarino Humaitá, o segundo construído após parceria entre os dois países em 2008, ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele destacou a importância do projeto para proteger a “soberania nacional” e disse que o Brasil vai vencer o que considera inimigos externos. “Quando o Brasil sofria um ataque sobre a dúvida da nossa soberania da Amazônia, tive a grata satisfação de, em nome do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), falar para todo o mundo que a Amazônia é nossa e é patrimônio do Brasil”, afirmou nesta sexta-feira, 11 de outubro.
Bolsonaro também destacou, ao lembrar um dos lemas da campanha de 2018, que “seu partido é o Brasil”. Ele vive uma crise com o PSL, ao qual se filiou antes do pleito do ano passado. Outra indireta do presidente foi destinada ao governador do Rio de Janeiro e possível adversário na tentativa de se reeleger em 2022, Wilson Witzel (PSC), que estava na cerimônia. Olhando para o mandatário fluminense, disse: “Trabalho para que no futuro quem, por forma ética, moral e sem covardia, queira assumir a Presidência da República tenha uma situação bem melhor do que a que encontrei no presente ano.”
O presidente e o governador se afastaram no último mês, depois que Witzel manifestou em mais de uma ocasião que quer disputar a eleição presidencial. Bolsonaro também olhou para o governador quando citou “inimigos internos”. O presidente esteve no Rio para participar da integração das partes do submarino Humaitá, que entra agora na fase final de montagem antes de ser lançado ao mar para testes. A embarcação é a segunda da série de quatro submarinos convencionais previstos em acordo feito entre o Brasil e a França em 2008.
O projeto tem financiamento francês. O país europeu virou, nos últimos meses, o pivô da crise diplomática gerada pela política externa brasileira. Além de acusar o presidente francês, Emmanuel Macron, de querer “internacionalizar” a Amazônia, Bolsonaro fez declarações ofensivas à primeira dama Brigitte Macron.
A cerimônia ocorreu em Itaguaí, região metropolitana do Rio, no Complexo Naval. Também participaram, além de Witzel, diversos ministro de Estado, entre eles o da Economia, Paulo Guedes, o da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o de Minas e Energia, Bento Albuquerque. O comandante da Marinha, o almirante ribeirão-pretano Ilques Barbosa Júnior, também compareceu.
Após a junção das partes, o Humaitá passará mais um ano em fase de construção e aprimoramento de seu interior. Só no segundo semestre do ano que vem será lançado ao mar para a fase de testes. É nesse estágio que está o Riachuelo, o primeiro submarino previsto no Prosub. O pioneiro foi lançado ao mar no fim do ano passado, em cerimônia com o então presidente Michel Temer (MDB) e o próprio Bolsonaro, que estava prestes a tomar posse na Presidência.
A Marinha prevê o lançamento ao mar de um submarino convencional por ano. Após o Humaitá será a vez do Tonelero e, depois dele, do Angostura. Eles devem ser lançados em 2021 e 2022, respectivamente. A justificativa para a construção de submarinos, num País que não passa por nenhuma guerra, é proteger a área conhecida como Amazônia Azul, onde está inserido, por exemplo, o polígono do pré-sal.
“Nós temos uma extensa área marítima que chamamos de Amazônia Azul, com 5,7 milhões de quilômetros quadrados. É muito importante termos condições de garantir nossa soberania e defender nossas riquezas”, disse o almirante Celso Mizutani Koga, engenheiro responsável pela obras. Depois dos quatro convencionais, virá a construção do submarino à propulsão nuclear. Ele levará o nome de Álvaro Alberto, almirante brasileiro pioneiro na pesquisa do setor. O almirante Koga classificou esse futuro submersível como “a cereja do bolo” do Prosub.