Julia Lindner (AE)
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) mostrou preocupação com a repercussão negativa de suas falas no exterior contra organizações não governamentais (ONGs), mas voltou a levantar nesta quinta-feira, 22 de agosto, suspeitas sobre as entidades. Segundo Bolsonaro, em nenhum momento ele acusou as ONGs sobre queimadas na Amazônia porque não há provas e, sim, “suspeitas”.
Em seguida, questionado por jornalistas sobre quem estaria por trás dos incêndios criminosos na Floresta Amazônica, Bolsonaro voltou a dizer que há “indício fortíssimo de que ONGs estão por trás das queimadas”. “São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? É, no meu entender, um indício fortíssimo que esse pessoal da ONG perdeu a teta deles. É simples”, reagiu.
Indagado se poderiam ser fazendeiros os responsáveis pelos incêndios, ele concordou. “Pode, pode ser fazendeiro, pode. Todo mundo é suspeito, mas a maior suspeita vem de ONGs”, reforçou. De acordo com o presidente, as ONGs “perderam dinheiro” e “estão desempregadas”, por isso, teriam interesse em fazer uma campanha contra o governo.
“Não se tem prova disso, meu Deus do céu. Ninguém escreve isso, vou queimar lá, não existe isso. Se você não pegar em flagrante quem está queimando e buscar quem mandou fazer isso, que isso tá acontecendo, é um crime que está acontecendo.” Bolsonaro criticou a imprensa e disse que é “inacreditável” a forma como suas falas contra ONGs foram publicadas nos jornais.
“O Brasil vai chegar à situação da Venezuela, é isso o que a grande imprensa quer”, declarou. “Se o mundo lá fora começar a impor barreiras comerciais, nosso agronegócio vai começar a dar para trás, a vida de você (jornalistas) vai estar complicada como a de todos.” Para ONGs, declaração de Bolsonaro é “covarde” e “sem base na realidade”. Acusadas pelo presidente de serem as “maiores suspeitas” pelo incêndio criminoso que se alastra pelo Amazônia nos últimos dias, as principais organizações ambientais internacionais e brasileiras reagiram às declarações.
“A declaração é, antes de tudo, covarde, feita por um presidente que não assume seus atos e tenta culpar terceiros pelos desastres ambientais que ele mesmo promove no País”, disse ao Estado o coordenador de políticas públicas do Greenpeace, Marcio Astrini. “A Amazônia está agonizando e Bolsonaro é responsável por cada centímetro de floresta que está sendo desmatada e incendiada.” O WWF-Brasil afirmou que a prioridade do governo deveria zelar pelo patrimônio, e não criar “divergências estéreis e sem base na realidade” do que ocorre na região.
“O WWF-Brasil lamenta a nova tentativa do presidente Jair Bolsonaro de desviar o legítimo debate da sociedade civil sobre a necessidade de proteger a Amazônia e, consequentemente, combater o desmatamento que está na origem dos incêndios fora de proporção que assolam o País e comprometem a qualidade do ar em várias regiões”, declarou.
Facebook
Os incêndios florestais na região amazônica podem ser usados para prejudicar o setor do agronegócio do Brasil, disse Jair Bolsonaro durante live semanal no Facebook. Ele destacou que o governo trabalha para mitigar o problema e pediu que as pessoas ajudem a denunciar práticas criminosas na área.
Maia vai criar comissão externa
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em seu perfil pessoal no Twitter que a Casa vai criar uma comissão externa para acompanhar o problema das queimadas que atingem a Amazônia. Além disso, o parlamentar informou que também vai realizar uma comissão geral nos próximos dias para avaliar a situação e propor soluções ao governo.
MPF pede informações
A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/ MPF) enviou ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), chefiado por Ricardo Salles, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais Renováveis (Ibama) e ao ICMBio ofício requisitando informações sobre as ações concretas realizadas pelos órgãos para a prevenção de desmatamentos e incêndios na Amazônia Legal.