A Argentina foi às urnas no último domingo, 27 de outubro, e elegeu Alberto Fernández presidente e Cristina Kirchner vice. Os dois formam parte da coalizão de esquerda Frente de Todos. Eles receberam mais de 48% dos votos, enquanto que o atual mandatário do país, Mauricio Macri, obteve pouco mais de 40. Na Argentina, para vencer as eleições em primeiro turno, é necessário obter 45% dos votos ou 40% e dez pontos de vantagem em relação ao segundo colocado.
Após o mandato de um político de centro-direita, os argentinos optaram por voltar ao kirchnerismo, que governou o país por mais de uma década, de 2003 a 2015. Macri, que assumiu em 2015, deixa um país com uma grave crise econômica e social, com inflação este ano prevista para 55% (pior apenas do que Venezuela e Zimbábue), 30% das pessoas vivendo na pobreza e os sem-teto representando quase 10% da população. Entre 2003 e 2007, o presidente era Néstor Kirchner, marido de Cristina Kirchner, falecido em 2010. Entre 2007 e 2015, quem governou foi a própria Cristina.
Atualmente, ela é senadora e se licenciará do cargo para assumir a vice-presidência. Há diversos processos contra ela na Justiça, por delitos como corrupção e lavagem de dinheiro. O novo governo assume em 10 de dezembro. O mandato presidencial é de quatro anos e é permitida apenas uma reeleição. Tanto Alberto Fernández quanto Mauricio Macri, em seus discursos na noite de anteontem (27), afirmaram estar preocupados com os argentinos e disseram que farão o melhor nesse período de transição de governo.
O presidente Jair Bolsonaro criticou a eleição do peronista Alberto Fernández e da ex-presidente Cristina Kirchner. “Lamento. Não tenho bola de cristal, mas acho que a Argentina escolheu mal”, disse Bolsonaro na saída do hotel Emirates Palace, em Abu Dabi, nesta segunda-feira (28). O próximo destino do presidente no périplo que faz pela Ásia e pelo Oriente Médio é Doha, no Catar.
Bolsonaro demonstrou incômodo com uma imagem publicada no domingo, por Fernández em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvia, preso desde o ano passado no âmbito da Operação Lava Jato. “O primeiro ato do Fernández foi Lula livre, dizendo que está preso injustamente. Já disse a que veio”, afirmou o presidente.
Bolsonaro deixou claro que não pretende parabenizar o presidente eleito da Argentina pela vitória, mas ponderou que não vai “se indispor” com o país vizinho em um primeiro momento. “Vamos esperar o tempo para ver qual é a real posição dele na política. Porque ele vai assumir, vai tomar pé do que está acontecendo e vamos ver qual linha ele vai adotar.”
Nos últimos dias, Bolsonaro deu declarações em diferentes tons sobre a iminente vitória de Fernández, desde suspender a Argentina do Mercosul até intensificar as relações comerciais com o país. Nesta segunda, disse que “por enquanto continua tudo bem com o Mercosul”.
Bolsonaro também voltou a dizer que poderia pedir a suspensão da Argentina do bloco continental. “Se interferir (no acordo Mercosul-União Europeia), segundo o Paulo Guedes, a gente junta com o Paraguai, não sei o que vai acontecer na eleição do Uruguai, e pode ver se Argentina fere alguma cláusula para suspendê-la. Mas a gente espera que isso não seja necessário”, disse.
“Ele (Fernández) disse há algum tempo que sairia do Mercosul, quando esteve visitando o Lula em Curitiba, e vamos esperar agora o banho de realidade que ele vai ter”, disse. “Não está indo bem a Argentina, já ouvi falar que muita gente vai tirar dinheiro de lá”, declarou.