Já era previsto. Quase três meses de pataquadas teriam alguma resposta nas sondagens de opinião pública. Pesquisa realizada pelo Ibope com 2 mil pessoas e divulgada na última quarta-feira mostrou que, desde janeiro, a parcela da população que considera o governo Bolsonaro ótimo ou bom caiu 15 pontos percentuais. Em janeiro, a aprovação deste segmento era de 49% contra 39% em fevereiro e 34% agora em março. Entre os que consideram o governo regular, o índice era de 26% em janeiro, 30% em fevereiro e 34% agora em março. Entre aqueles que consideram o governo ruim ou péssimo, nos últimos 30 dias, o índice subiu de 19% para 24%. Desde janeiro, essa taxa mais do que dobrou: pulou de 11% para 24%.
Esses números exigem uma análise mais apurada. Bolsonaro perdeu três de cada dez apoiadores do seu governo em apenas dois meses. O presidente perdeu 15 pontos percentuais em sessenta dias. Em comparação com outros presidentes, o começo do governo Bolsonaro é o pior já registrado pela série histórica do IBOPE. Nos seus primeiros mandatos, Dilma, Lula, Fernando Henrique e Collor sustentaram taxas mais altas do que os 34% de Bolsonaro nos meses iniciais. A popularidade deles só ficou abaixo desse patamar nos segundos mandatos de FHC e Dilma, quando os presidentes já acumulavam mais de quatro anos de desgastes. Mas o pior é exatamente saber que isso está acontecendo em menos de 3 meses. E este governo vai durar 4 anos. Misericórdia…
Bolsonaro investiu pesado na polarização durante a campanha. Galvanizou o ódio dos segmentos mais conservadores ou daqueles que simplesmente não queriam mais o PT. Depois, em vez de buscar unir o país em torno de um projeto, continuou com o terceiro turno da campanha contra os fantasmas que ele mesmo vem criando ou recriando a cada dia. Mas o tiro começou a sair pela culatra. No quesito confiança, se 62% diziam confiar nele em janeiro, só 49% ainda confiam nele agora. Perda de 13 pontos. Ao mesmo tempo, a desconfiança saltou de 30% para 44%. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos, a confiança em Bolsonaro está a 1 ponto percentual de um empate técnico com a desconfiança. De certa forma, continua a polarização, o que é péssimo para o país.
Pela pesquisa IBOPE, quem mais desconfia do presidente são os nordestinos e os moradores das grandes cidades. Aqui, a desconfiança é majoritária: 53% não confiam nele. Quem sustenta a confiança no presidente são, principalmente, os evangélicos, os mais ricos, as pessoas do sexo masculino e os moradores da região Sul. É importante anotar essas preferências e perguntar o porquê. O mesmo aconteceu na avaliação do governo. As taxas de ótimo e bom são maiores entre os mais ricos (renda acima de 5 salários mínimos), entre quem se declara branco, entre os evangélicos, e entre moradores das regiões Sul e Centro-Oeste. Já as avaliações negativas (acham o governo ruim ou péssimo) são mais frequentes nas cidades com mais de 500 mil habitantes (32%) e nas regiões metropolitanas (29%).
O IBOPE não pesquisou as razões que levam os brasileiros a avaliar bem ou mal o governo. Mas pesquisas de outros institutos – não divulgadas – apontam pelo menos três motivos para a diminuição da taxa de ótimo e bom de Bolsonaro: sua proximidade com as milícias no Rio de Janeiro, as denúncias de corrupção envolvendo seu filho Flavio e a grosseria demonstrada pelo presidente em suas manifestações públicas, como fez durante o carnaval. Tudo isso, somado ao cenário de estagnação da economia, aponta para dificuldades adicionais quando o governo se esforçar na aprovação da reforma da Previdência, o que, com certeza, vai desagradar a vários segmentos da população.