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Bolsonaristas atacam a Campanha da Fraternidade (de novo)

Em boa hora, a Igreja Católica e outras igrejas cristãs escolheram, mais uma vez, a temática da fome para a Campanha da Fraternidade deste ano. A Campanha da Fraternidade é um chamado à reflexão sobre os problemas que angustiam a humanidade e, em particular, os brasileiros, fazendo com que se afastem da boa nova do Evangelho de Jesus de Nazaré. A escolha da temática deste ano, realizada através de consulta pública, foi feita depois que o Brasil voltou a aparecer no Mapa da Fome divulgado pela ONU. O número de brasileiros que não têm o que comer passou de 19,1 milhões no fim de 2020 para 33,1 milhões em 2022.

Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um dos objetivos da campanha deste ano é “propor aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano”. No lançamento da campanha, na quarta-feira de cinzas (22/02), o secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, defen­deu o direito à alimentação saudável e pregou contra o desperdício. “Se a fome de uma única pessoa já nos deve incomodar, como nos tornarmos indiferentes diante da fome de inúmeros irmãos e irmãs?”, perguntou. Ele ainda disse que “segurança alimentar e democracia andam juntas”.

Na contramão de todo o espírito verdadeiramente cristão da cam­panha, tão enfatizado pelo próprio Papa Francisco, em todas as ações do seu pontificado, “cristãos” extremistas veem na ação da CNBB, uma espécie de conspiração comunista e convocam outros fiéis a não aderirem ao pedido de doações para a campanha. Sabemos que vem de longe esta reação ultraconservadora às campanhas da fraternidade e à própria CNBB, como já escrevi por aqui em 2021, por exemplo, mas, neste ano, assume contornos particulares tendo em vista a conjuntura política do início do terceiro governo Lula e da derrota eleitoral de Bolsonaro, fazendo com que os ataques sejam mais virulentos.

A mobilização contra a campanha deste ano é liderada por influen­ciadores digitais ligados ao bolsonarismo e por uma entidade ultracon­servadora que ficou famosa ao tentar censurar na Justiça um especial de Natal do grupo humorístico Porta dos Fundos em 2020. Para quem já esqueceu, a sede do grupo foi atacada a coquetéis molotov, na véspera do natal de 2019. Um dos terroristas fugiu para a Rússia, onde foi preso pela Interpol, e acabou deportado de volta ao Brasil. Então, percebe-se que este movimento se articula com outros grupos, todos atualmente ligados ao bolsonarismo.

O youtuber bolsonarista Bernardo Pires Küster, que é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fakenews, está fazendo uma série de vídeos contra a CNBB e a Campanha da Fraternidade deste ano. Além de atingirem milhares de pessoas diretamente através de seus vídeos, as pregações de Küster ganham repercussão em compartilha­mentos em redes sociais como Twitter e Facebook e são replicadas em grupos de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram. Ele grava seus vídeos em um cenário que tem ao fundo um quadro do guru da extrema-direita Olavo de Carvalho, falecido no ano passado.

Assim como Küster, outros influencers extremistas vêm questio­nando o levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) que apontou a existência de 33 milhões de brasileiros em insegurança alimentar. Eles atacam também a Campanha da Fraternidade pela menção, nos textos de apresentação e apoio à ação, aos atos de distribuição de comida aos mais necessitados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao longo da pandemia e de uma frase do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que dizia que “quem tem fome, tem pressa” e precisa ser ajudado imediatamente.

A intolerância desses grupos bolsonaristas merece o repúdio de toda a sociedade civilizada. Hoje, é claramente visível uma parcela da sociedade, contaminada pelo discurso do ódio e da mentira, que tenta lançar seus tentáculos sobre os nacos do poder para impor a sua ideo­logia sobre quem pensa diferente. Foram derrotados na eleição do ano passado, mas seguem ativos, apostando no confronto e na polariza­ção. E da sua guerra cultural não escapa nem mesmo a Campanha da Fraternidade. Bem afirmou Hildegard Angel: “o antiCristo presidiu o Brasil e nem todos perceberam!”

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