Por Matheus Lopes Quirino
Quatro curadores ficarão responsáveis pela próxima Bienal de são Paulo, que acontece em 2023. São eles Manuel Borja-Villel, historiador da arte; Grada Kilomba, artista multidisciplinar; Diane Lima, curadora independente, escritora e pesquisadora; e Hélio Menezes, antropólogo, crítico e pesquisador. A ideia de unir os quatro, com formações disciplinares heterogêneas, é descentralizar o evento, tendência que vem se mostrado forte, como a exemplo da Flip de 2021, que também teve uma curadoria coletiva.
Em comunicado, o presidente da Fundação Bienal ressaltou a ambição da escolha. “A complementaridade desses talentos tem potencial de gerar um resultado fantástico. A equipe curatorial se formou voluntariamente e a proposta nos cativou por ser ambiciosa e intrigante”, escreveu José Olympio da Veiga Pereira
Embora siga a tendência multidisciplinar, sem a figura de um curador-chefe, o modelo já foi adotado em outras edições, como em 1989, 2010 e 2014 da Bienal. A iniciativa de colocar o comando do evento de forma horizontal parte de um desejo de investir em pluralidade e em múltiplos olhares para democratizar o espaço e a programação como um todo que se conversa bem.
Perfil dos Curadores
Manuel Borja-Villel – Mora em Madri, Espanha. Doutor em História da Arte pela City University de Nova York, desde 2008 é diretor do Museu Reina Sofía (Madri, Espanha), sendo responsável pelo desenvolvimento e profunda releitura da coleção do museu. Nos últimos anos, o Reina Sofía fortaleceu sua posição como referência para a produção cultural pelo trabalho realizado com uma rede assimétrica de instituições que inclui, entre outros, museus, universidades e instituições independentes. Dirigiu a Fundación Antoni Tàpies (Barcelona, Espanha) desde sua criação, em 1990, até 1998, e fez da fundação uma instituição experimental com uma programação centrada na crítica institucional. Já à frente do Museu d’Art Contemporani de Barcelona de 1998 a 2008, colocou a gestão pública a serviço da agenda cidadã, criando um lugar de dissidência por meio da pedagogia radical, da crítica e da experimentação institucional. Ele reflete sobre esses e outros temas em seu último livro: Campos Magnéticos. Escritos de arte y política (ARCADIA).
Grada Kilomba – Mora em Berlim, Alemanha. Artista interdisciplinar, escritora e doutora em Filosofia pela Universidade Livre de Berlim, Alemanha, Kilomba lecionou em diversas universidades internacionais, como a Universidade de Artes de Viena, na Áustria. Suas obras levantam questões sobre conhecimento, poder e violência cíclica, e foram exibidas em eventos significativos como a 10ª Berlin Biennale; Documenta 14; La Biennale de Lubumbashi VI; e 32ª Bienal de São Paulo; assim como em inúmeros museus e teatros internacionais. Seu trabalho dispõe de diferentes formatos como performance, leitura cênica, textos, vídeo e instalação, tendo como foco memória, trauma, gênero e pós-colonialismo. Obras de sua autoria integram coleções públicas e privadas como a da Tate Modern (Londres, Inglaterra).
Diane Lima – Mora entre Salvador e São Paulo, Brasil. Uma das brasileiras premiadas pela Ford Foundation Global Fellowship, seus projetos se tornaram notáveis por ampliar os debates sobre as práticas artísticas e curatoriais em perspectiva decolonial no país. É mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e integra o comitê curatorial para a nova exposição de longa duração do acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). Entre seus trabalhos recentes estão as cocuradorias de Frestas – 3ª Trienal de Artes do Sesc SP – O rio é uma serpente, em 2021, e de Vuadora, exposição retrospectiva do artista Paulo Nazareth na Pivô.
Hélio Menezes – Mora em São Paulo, Brasil. Antropólogo e internacionalista pela Universidade de São Paulo e affiliated scholar do BrazilLab, da Universidade de Princeton. Foi curador de arte contemporânea do Centro Cultural São Paulo de 2019 a 2021, onde também atuou como curador de literatura entre março e outubro de 2019, e coordenador internacional do Fórum Social Mundial de Belém (2009), Dacar (2011) e Túnis (2013). Alguns de seus trabalhos mais recentes são Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros (IMS Paulista), Histórias Afro-Atlânticas (MASP e Instituto Tomie Ohtake) e dos brasis (Sesc). Em 2021, foi reconhecido pela ArtReview Magazine como uma das cem pessoas mais importantes da arte contemporânea no mundo.