Ganhei um livro que me agradou muito: “Bibliotecas Brasileiras”, editado por George Ermakoff, o mesmo que lançou, recentemente, a biografia de Lord Cochrane, comentada por mim nesta coluna. Obra de arte, primorosamente executada e com várias fotos, mostra as principais bibliotecas de nosso país, suas origens, suas histórias e o valor que têm para a cultura nacional. É livro que precisa ser apoiado em mesa, pelo seu tamanho.
Ficamos sabendo que, desde o surgimento da escrita, há aproximadamente 3.000 anos, o homem vem lançando suas letras, primeiro em tabuletas de argila, levadas ao forno ou aos raios de sol para secagem, que deram origem à primeira “biblioteca” conhecida do mundo, a de Ebla, nas proximidades de Aleppo, na Síria. Escavações trouxeram ao mundo 1.800 tabuletas perfeitamente conservadas, que datam de 2.500 a 2.000 anos a.C.
Já em Nippur, no sudoeste do Iraque, foi encontrada uma biblioteca com 40.000 peças de argila, provavelmente do século XVIII a.C., a que se juntaram outras, como as de Nínive, Nuzi, TellLeilan, Mari e Ugarti, testemunhas das antigas civilizações que ocuparam esses sítios.
Os egípcios conseguiram substituir as pouco práticas tabuletas pelo papiro, extraído de planta abundante no Nilo. Surgiram então os textos com hieróglifos, em folhas que eram enroladas e preservadas em estantes.
Credita-se ao Rei do Egito, Ptolomeu I Sóter, a criação da primeira biblioteca de Alexandria, no século III a.C., a maior, mais diversificada e mais importante do mundo antigo, contendo mais de 500.000 peças de papiros e pergaminhos. Na mesma época, rivalizava-se com ela a Biblioteca de Pergamon, com 200.000 volumes. Interessante notar que parte do edifício desta última encontra-se em museu homônimo de Berlim, perfeitamente conservado, visita imperdível para quem está na capital alemã.
Durante séculos, a Biblioteca de Alexandria foi orgulho do Egito. Em 641 d.C, o general otomano Amr tomou a cidade e, perguntado o que fazer com a biblioteca, teria respondido: “Se os livros estiverem de acordo com o Corão, não temos necessidades deles; se forem contrários, destrua-os”.
A queda do Império Romano levou consigo a sua primeira biblioteca, criada em 39 a.C., acarretando a dispersão dos livros para os mosteiros, verdadeiros depositários da cultura ocidental, segundados pelas Universidades que se espalhavam pela Europa: Bologna (1088), Oxford (1096), Salamanca (1134), Cambridge (1209), Sorbonne (1257), Coimbra (1290). Os livros eram caros e raros, pois produto de copistas, que levavam muito tempo para produzi-los. Em 1439, a descoberta dos tipos móveis, por Gutenberg, massificou a produção das obras, guardadas em bibliotecas que se espalharam pelo Velho Mundo.
As primeiras bibliotecas do Brasil eram anexas a mosteiros, conventos e igrejas e ligadas às ordens religiosas dos Jesuítas, Beneditinos, Franciscanos e Carmelitas. Eram de uso interno dos religiosos, algumas vezes também frequentadas por leigos.
A primeira biblioteca pública brasileira, assim conceituada aquela de propriedade do poder público e franqueada a todos, chegou ao Brasil com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808, a Real Biblioteca, que daria origem à Biblioteca Nacional.
O livro se debruça na descrição das maiores bibliotecas existentes em nosso país, como a do Estado da Bahia; o Real Gabinete Português de Leitura, do Rio; as do Paraná, Amazonas e Rio Grande do Sul, com destaque para as Biblioteca Mário de Andrade e Brasiliana Guita e José Mindlin, de São Paulo.
Bela obra que mostra a vontade do Homem em preservar sua cultura para o futuro.