entativas, foi quando eu realmente fiz um bom instrumento”
Fabiano Ribeiro
Luthier, ou luteiro como também é chamado, é um profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de cordas, com caixa de ressonância, como violão, violinos, violas, contrabaixos, guitarras, bandolim e outros. Jose Roberto Benedicto da Silva, o Berto Silva, 70 anos, é um desses bons e reconhecidos profissionais de Ribeirão Preto. Natural de Cravinhos e com sua luthieria estabelecida no bairro Ipiranga, na rua Camaragibe, 873, há 35 anos, o músico conta um pouco da sua história ao Tribuna.
“Eu nasci em 1951, em Cravinhos, fiz nos meus estudos primários, na época da admissão, o meu tempo tinha até o latim, né. Eu parei, precisei parar o estudo pra poder trabalhar, mas depois de algum tempo eu volte e terminei o chamado segundo grau. E a música era uma matéria obrigatória, fazia parte da grade curricular. E eu aprendi música no colégio e com alguns amigos, muitos bons músicos”, conta.
Berto lembra que entrou em definitivo na música aos 17 anos, quando se identificou com o violão. “Eu tinha um amigo que tocava cavaquinho e eu falei: vou aprender. Eu tocava violão pra poder acompanhar. Então eu comecei, assim, vendo os outros fazer e tentando aprimorar o que eu aprendi com eles”.
Depois das aulas no colégio e aprender com amigos, se aperfeiçoou e fez vários cursos. “Aprimorei bastante o que eu aprendi”. Com isso, antes de ser luthier, Berto foi professor de violão. E o professor teve alguns alunos conhecidos e famosos. “Lecionei aqui em Ribeirão Preto para muitas pessoas, como Maurício e Marcelo Gasparini (dupla sertaneja), Fred e Pedrito (dupla sertaneja), o Cristiano do João Pedro e Cristiano. Ah, também para alguns maestros, o Érico Artioli, o Rafael Heiji, o Luciano Duarte, o maestro Andrezinho, o André Luís. Tanta gente boa que passaria o dia falando nomes pra você”, brinca.
Ao ser perguntando, sobre a carreira de luthier, Berto fala que se considera um profissional desde os 25 anos de idade. “Depois de algumas tentativas, foi quando eu realmente fiz um bom instrumento”.
Apesar da vasta experiência, ele não se considera luthier. “Luthier é aquele artesão que constrói o instrumento. Eu não me identifico fazendo instrumento. Já fiz algumas coisas boas e diferentes. Mas eu sou uma pessoa que aprimora o trabalho de quem faz. Aqui em Ribeirão Preto e na região tem bons luthiers, que constroem o instrumento desde o princípio ao fim”, avalia.
No entanto, o bom conhecimento musical é um diferencial em seu trabalho. “Eu até brinco que eu faço conserto com S. Antigamente eu fazia concerto com C”. E esses consertos são desafiadores. “Eu realmente já fiz cada instrumento, já fiz cada coisa que eu não acreditei que eu seria capaz de fazer. E tudo com a ajuda de Deus. Fui pesquisando, estudando, aprimorando. Então, eu me considero um artista. Além do artista que toca, porque se eu não consertar bem o violão ele não vai bem pro concerto”.
A luteria e a música ajudaram a criar e encaminhar seus três filhos, Vagner, Vanessa e Kelma, em diferentes profissões. “Uma das minhas filhas me ajuda aqui de vez em quando e leva muito jeito. Um dos meus cinco netos também parece levar jeito. Mas essa arte e profissão precisa ter dom. São aprendizes, mas têm que descobrir o prazer nessa arte”.
Sobre a tecnologia em seu ramo, ele se diz favorável, “Com o advento da internet, essas coisas, a gente aprendeu muito com outras pessoas que fazem conserto, que constroem instrumentos. A gente aprendeu muito sobre os leques do instrumento do violão, da viola. Tipo de madeira. Então, a tecnologia veio e ajudou muito, muito a arte da luthieria. Interferiu a favor”.
Berto finaliza cobrando mais investimento e incentivo de música nas escolas. “Eu até brinco assim, a medicina cura e a música não deixa ficar doente”.