Considerado um dos dois vereadores com mais mandatos no Legislativo, atualmente exerce o quinto consecutivo, o dentista Bertinho Scandiuzzi (PSDB), apesar de pertencer ao mesmo partido do prefeito Duarte Nogueira se destaca por contestar em plenário projetos do Executivo que ele acredita não serem bons para a cidade. Um exemplo recente disso foi o seu voto contrário à criação do Regime de Previdência Complementar dos servidores municipais. Para o parlamentar, o projeto vai na contramão do que chama de ditames constitucionais.
Em entrevista ao Tribuna, Bertinho afirmou também que é hora de o prefeito mostrar a que veio e fazer Ribeirão Preto reencontrar seu rumo. O outro vereador com mais mandatos no Legislativo é Jorge Parada (PT).
Tribuna – O senhor está em seu quinto mandato. Quais as principais mudanças que o senhor presenciou no Legislativo neste período?
Bertinho Scandiuzzi – A população está cada vez mais atenta aos atos e atividades parlamentares. A interatividade digital, conjuntamente com a aprovação da Lei de acesso à Informação, à chamada “Lei da Transparência”, aproximou o legislativo da população, criando um processo de responsabilização democrática, a meu ver mais fortalecido. Isto porque, quanto mais informações confiáveis, relevantes e oportunas os agentes políticos disponibiizarem à população, maior efetividade terá seus instrumentos institucionais (legislativos) e consequentemente assegurará que a Administração Pública seja eficiente, responsiva e livre de corrupção.
Tribuna – Como o senhor analisa sua longa permanência como vereador e a que isso se deve?
Bertinho Scandiuzzi – Como representante do povo na Casa Legislativa, atendo em meu gabinete diariamente a todos que me procuram e minha relação sempre será de igualdade e respeito com toda a população de Ribeirão Preto. Para executar de maneira adequada e eficiente a função de vereador, é preciso estar dispoto a ouvir e estar atento para os problemas da cidade e da coletividade. Além disso, é necessário conhecer os trâmites legais da Administração Pública, atuando como fiscalizador dos atos do Poder Executivo Municipal. Acompanho de perto os problemas de nossa cidade e estou sempre atento às necessidades e exigências da população.
Tribuna – Apesar de ser do mesmo partido que o prefeito Duarte Nogueira, o senhor não parece muito alinhado à administração municipal. Isso é verdade?
Bertinho Scandiuzzi – Não é uma questão de estar ou não alinhado com o Prefeito Duarte Nogueira. Apesar de sermos do mesmo partido, primo pela minha independência decisória, como vereador eleito democraticamente. O prefeito terá todo o meio apoio em todas as questões postas à apreciação da Casa Legislativa, da qual faço parte, que for de suma importância para a cidade de Ribeirão Preto e para a coletividade. Agora, aquilo com o que não concordar, por questões legais ou políticas, reservo-me o direito de discordar com todo acatamento e respeito. Mas, também quero deixar claro que sempre que chamado pelo prefeito Duarte Nogueira estou e estive apto a ouvi-lo. Isso, contudo, não significa dizer que tenho que concordar com todos os seus posicionamentos.
Tribuna – Como o senhor avalia a atual administração municipal?
Bertinho Scandiuzzi – Os dois primeiros anos foram muito difíceis. Enfrentar o estrago provocado pela turma da “Sevandija” não foi fácil. Sei bem disso, pois sempre fui um vereador combativo contra os desmandos e absurdos cometidos pela gestão da ex-prefeita. Agora é hora de o Nogueira mostrar a que veio. Executar os bons projetos existentes na Prefeitura para que nossa cidade reencontre seu rumo. Pelo bem de Ribeirão, ele pode sempre contar comigo.
Tribuna – Um projeto defendido pelo senhor que prevê a permuta de áreas para a construção do Parque da Pedreira causou ruído com alguns vereadores. Por quê?
Bertinho Scandiuzzi – O Projeto em questão é de Autoria do Poder Executivo Municipal (PLC n.º18/19) e dispunha sobre a permuta de três terrenos localizados na Avenida do Café que comporiam o Parque da Pedreira Santa Luzia, que de acordo com Parecer Técnico do Departamento de Gestão Ambiental da Prefeitura os imóveis em questão estão inseridos em uma área com potencial para implantação de parque urbano, com importantes atributos ambientais. E de acordo com as informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente já existe anteprojeto para implantação do referido Parque, inclusive com tratativas com outros órgãos públicos estaduais, para a sua efetiva concretização.
A permuta dos terrenos autorizados pelo projeto propiciaria a efetiva integração destes lotes à área reservada ao Parque, sendo de grande benefício para a cidade, em especial para os moradores da região de seu entorno, sob os aspectos ambientais, de lazer e sociais.
Por isso, não concordamos com o Parecer Contrário da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal que não deu prosseguimento ao Projeto por “ausência de interesse público”. Estudos desenvolvidos referentes à Proteção da Paisagem e da Vegetação natural na região reservada para implantação do Parque da Pedreira Santa Luzia demonstram que os imóveis que seriam permutados são de extrema relevância ambiental, principalmente sob os aspectos de ocupação do solo.
Tribuna – Quais projetos de sua autoria que viraram lei que o senhor considera mais importantes ao longo de seus mandatos?
Bertinho Scandiuzzi – Tenho muitos, como o que implantou o ambulatório odontológico móvel para atendimento de caráter curativo emergencial e preventivo, o da Isenção de IPTU para imóveis atingidos por enchentes, o que institui o Programa Interdisciplinar e de Participação Comunitária para Prevenção e Combate à Violência nas Escolas da Rede Pública de Ensino e o que torna obrigatório o agente público municipal comunicar o Conselho Tutelar qualquer caso de violência contra criança e adolescente que tiver notícia.
Ainda poderia citar o que torna obrigatório as empresas contratadas pelo Poder Público Municipal de informar as datas de início e conclusão de obras públicas, bem como o valor da contratação, em placa a ser afixada no local da obra. E o que torna obrigatório os hospitais, unidades de saúde e Pronto-Atendimento, divulgar em local visível, a lista dos médicos plantonistas, do responsável pela chefia do Plantão e dos responsáveis administrativos.
Tribuna – Por que o senhor votou contra o regime de Previdência Complementar para os servidores Públicos de Ribeirão Preto?
Bertinho Scandiuzzi – O assunto previdência complementar é um tanto que complexo. No meu entendimento a lei recentemente aprovada pela Câmara Municipal apresentava algumas inconstitucionalidades e, também, poderia trazer consequências desastrosas para servidores públicos que por medo ou desconhecimento migrassem de um regime para o outro.
A lei municipal está na contramão dos ditames constitucionais, a partir do momento que automaticamente inseri no regime o servidor que ingressar no serviço público a partir de sua vigência. Se o regime é facultativo, por garantia constitucional. Por que a inserção obrigatória do servidor? E não é somente isso, a Lei Municipal dispõe que o cancelamento da inscrição não constitui resgate. Se o Regime é facultativo, o seu cancelamento deverá por obrigação legal constituir resgate das contribuições vertidas ao Regime, sob pena de flagrante ilegalidade.
O que é de mais grave está nas entrelinhas da Lei, quando oferece a opção para os antigos servidores migrarem de Regime para o outro, levando apenas as suas contribuições, referentes a 11% e não a contribuição do empregador, que corresponde a 22%, que são a “gordura” maior de suas contribuições. Ainda que a migração de um Regime para o outro seja uma possibilidade legal, apenas aumenta a minha responsabilidade, porque tenho por dever político de calcular que meu ato no presente poderá trazer consequências desastrosas no futuro de alguns servidores.
Sem contarmos que estamos às vésperas de uma reforma previdenciária que poderá trazer consequências ainda piores, a meu ver o assunto precisava ser melhor debatido.
Tribuna – O senhor é a favor da redução no número de vereadores para a próxima legislatura?
Bertinho Scandiuzzi – Antes de opinar se sou ou não a favor da redução de vereadores. Por dever institucional, preciso falar um pouco sobre o significado de representação política que é a participação popular no governo, por intermédio de representantes eleitos, por meio do voto. O legislativo, teoricamente, é o poder que dá voz à população, representa diretamente seus anseios e tem ou deveria ter participação direta nos rumos do governo.
Acontece que o legislativo, como os demais poderes, passa por uma crise institucional, principalmente, quanto à sua credibilidade. Mas é importante dizer que estamos em fase de reconstrução, maior transparência quanto aos gastos, disponibilização de dados quanto aos trabalhos dos vereadores e a maior participação popular.
Ribeirão Preto tem 694.543 habitantes e a Constituição Federal diz que o limite máximo de cadeiras para nossa Câmara seria de 27 vereadores. Há, portanto, uma relação entre os representados (habitantes) e os representantes (vereadores), quanto maior o número de habitantes, maior deverá ser sua representatividade política.
Sendo assim, o sistema político precisa ser discutido, por meio de canais de diálogos, consultas populares e audiências. A população precisa conhecer o sistema político, reconhecer a sua importância institucional, construir e reconstruir a sua história.
O que não podemos é apenas jogar para opinião pública que apenas a redução do número de vereadores aumentará ou fortalecerá o grau de representatividade e responsabilidade dos políticos. Atualmente nossa Lei Orgânica Municipal dispõe que o número máximo de vereadores é de 22, então sou a favor de 22. Precisamos tomar cuidado para não banalizarmos as discussões e retrocedermos nesta conquista tão importante para a construção de nossa Democracia, por simplesmente achar que todos os ‘políticos são iguais’.