Já é difícil encontrar hoje uma residência em que um dos seus moradores não seja um gatinho, um cachorrinho ou outro animal que chamamos de doméstico. Eu mesmo tenho aqui o nosso “Negãozinho”, gato arisco como ele só, mas sobrando carinho para todos os seus humanos de estimação. Os pets já fazem parte da nossa vida, irremediavelmente. Já estão até na agenda política, haja vista a quantidade enorme de candidatos, em todos os partidos, que se declaram defensores dos animais, mesmo que com pouca base de conhecimento sobre essa temática. Parece mais uma plataforma eleitoreira do que eleitoral!
Mas esse assunto não se trata apenas dos pets. Vimos, chocados, os animais silvestres sendo tremendamente atingidos pelos incêndios no Pantanal e até mesmo aqui, pertinho de nós, pelos incêndios criminosos nas poucas matas que rodeiam a área urbana de Ribeirão Preto. Não podemos esquecer das abelhas, sem quais a própria vida humana é colocada em risco. E temos notícias assombrosas da morte de milhões delas devido, dentre outras razões, à utilização de agrotóxicos e ao desmatamento. Temos, então, uma agenda que precisa mesmo despertar o interesse dos movimentos ambientalistas, mas também de toda a população.
Entendo que o bem-estar animal faz parte de uma agenda mais ampla que envolve interfaces muito estreitas com o meio ambiente, a saúde e a educação, principalmente. O nosso código municipal de meio ambiente, um dos mais avançados do país e que está passando agora por uma necessária atualização, depois de mais de dez anos, prevê a defesa da vida animalem uma das suas seções. Tive o prazer de trabalhar muito nele junto com a sociedade e aprová-lo em 2004, quando eu era vereador. Fauna e flora urbanas fazem parte do ambiente natural e temos, sim, de desdobrar esforços para a sua proteção, preservação e mesmo recuperação do que está sob ameaça.
A relação entre saúde e defesa do bem-estar animal tem tudo a ver. Só para um exemplo de grande atualidade e gravidade, estamos atravessando uma pandemia que muito provavelmente se originou na forma abusiva com que tratamos os animais. Que seja um alerta! Para todas as esferas da vida que dizem respeito aos nossos direitos e à nossa qualidade de vida, sabemos que a educação é fundamental. É preciso educar para a proteção animal. As escolas deveriam desenvolver programas nesse sentido, com apoio de organizações especializadas, como a WSPA e fóruns ambientais.
Mas o que o poder público tem a ver com tudo isso? Tem tudo a ver, mas constatamos, com tristeza e indignação, que ele se envolve muito pouco com a questão. Não temos políticas públicas verdadeiras para a defesa da vida animal em Ribeirão Preto. Temos aqui uma Coordenadoria do Bem-Estar Animal (CBEA) que já passou da hora de ampliar seu trabalho, se transformando em uma central de primeiros socorros e pronto atendimento para animais domésticos, assim como o programa “Uma nova chance” para os animais silvestres que funciona no Bosque Municipal. Poderia funcionar também como uma central de captura para animais em situação de risco.
Deixo aqui o meu reconhecimento às Ongs, cuidadores e cuidadoras que, voluntariamente, sempre fizeram o trabalho de defesa do bem-estar animal, “carregando o piano” sozinhos. Quando houver uma parceria de verdade do Poder Público com essas organizações e voluntários, poderemos avançar muito. Poderemos ter uma política de castração e controle a partir de um censo animal, por exemplo. E quem sabe até, acredito que não seja um sonho, um hospital veterinário público. Por tudo o que falamos, a defesa do bem-estar animal não é um artigo de luxo, mas uma necessidade vital de todos nós. Defender o bem-estar animal é defender a vida nas suas mais diversas manifestações.