Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão
Logo no começo do novo Batman, o Homem-Morcego entra meio como penetra no cenário de um crime. O prefeito de Gotham City, candidato à reeleição, é assassinado. Seu filho, um garoto, é quem encontra o corpo. Há uma troca de olhares entre Batman e ele. O que vem, para o herói da DC, é o próprio passado, a morte brutal de seus pais, quando ele também era menino. Bruce Wayne, o alter ego do Homem-Morcego, vive preso àquele momento. O fantasma do pai o atormenta. Tornou-se vigilante em defesa da cidade, mas confessa aqui que o medo que sentiu na infância nunca o abandonou totalmente.
Na ficção de Matt Reeves – diretor de Cloverfield: Monstro e dois Planeta dos Macacos -, a onda de crimes em Gotham City se liga à corrupção da política e da polícia. Batman enfrenta o Charada, que o envolve em seus enigmas. Alfred, o mordomo, o ajuda a decifrar as charadas. Elas levam a um plano sinistro para destruir Gotham City. Vingança, renovação. São palavras-chave em Batman. Logo após a troca de olhares do início e após mais de duas horas de ação frenética – o excesso dá o tom da mise-en-scène: sombras, chuva intermitente -, Batman abre os braços para acolher o filho do ex-prefeito. É como se ele se reconciliasse consigo mesmo. No processo, ganha uma aliada, Zoe Kravitz. Um beijo mostra que poderiam ser algo mais.
Camp
Reeves já disse que seu interesse por Batman remete a Adam West, que interpretou o papel no ano de seu nascimento, 1966. O Batman de Adam West é considerado camp, mas, para Reeves, é maneiro. Ele ainda o vê com seus olhos de menino. Houve muitos mascarados depois daquele. Na chamada para o de Reeves, uma frase é essencial. A verdade será desmascarada. Na sucessão de máscaras que caem, os vilões são revelados até o último deles. Como no Coringa de Todd Phillips, esse Charada definitivo será a expressão de uma revolta coletiva. Todo mundo armado. Bangue-bangue. Não é assim que se constrói uma democracia.
O grande trauma para o qual Batman não está preparado é a revelação dos pecados de seu pai. Zoë também enfrenta os pecados do pai dela. Reeves já disse que quis fazer um Batman bem pessoal. Seu Homem-Morcego remete ao tormento do Cesar de Planeta dos Macacos. Num determinado momento, quando acolhe o menino, parece que ele vai realizar sua vocação de herói, liderando com a tocha a promessa da verdadeira renovação.
Poderia ser o fim, mas Batman ainda tem mais dois ou três desfechos que, se não enfraquecem, tornam redundante o que Reeves está querendo dizer sobre o herói, e o estado do mundo. Robert Pattinson já provou que é ator de verdade. Faz, como diriam os americanos, um Batman ‘terrific’.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.