Adriana Dorazi
especial para o Tribuna
Perder peso é o desejo de muitas pessoas que não conseguem controlar a alimentação, praticam pouca ou nenhuma atividade física ou possuem doenças relacionadas. O total de obesos no Brasil é tradicionalmente alto, entre os maiores do mundo. Mas o índice de sobrepeso cresceu mesmo de forma mais acelerada durante a pandemia da covid-19, inclusive em crianças, com mais isolamento, ansiedade e incertezas.
Esse cenário provocou mudanças nos hospitais e farmácias. Mais pessoas estão buscando a cirurgia bariátrica ou novos medicamentos aprovados recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como estratégia para entrar em forma. Mas os médicos alertam que cada método precisa ser escolhido com calma, critério e indicação profissional.
Na faca
Dados da Agência Nacional de Saúde (ANS) mostram que cerca de 311.850 cirurgias bariátricas foram realizadas no Brasil nos últimos cinco anos. Dessas, 252.929 foram realizadas por planos de saúde, 14.850 de modo particular e 44.093 pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na região de Ribeirão Preto o aumento na procura também foi registrado. Tamara Pereira é cantora lírica e fez a cirurgia há três meses pelo convênio, já emagreceu 30kg. Diz que o emagrecimento a ajudou na saúde e na profissão.
Tamara Pereira é cantora lírica e fez a cirurgia há três meses pelo convênio, já emagreceu 30kg. Diz que o emagrecimento a ajudou na saúde e na profissão
“Estudei a cirurgia por quase dois anos até tomar a decisão, junto com a equipe médica, de operar. Foi avaliado o meu histórico de obesidade de uma vida toda e de várias tentativas de tratamento sem sucesso. Então era a melhor opção”, conta. Feliz com os resultados, diz estar comprometida em manter o peso com um estilo de vida mais saudável.
No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC-RP) a bariátrica é feita com encaminhamento da rede pública, para quem tem obesidade severa e outros problemas de saúde decorrentes. Há um acompanhamento prévio por dois anos, inclusive psicológico. De acordo com o professor Dr. Sebastião dos Santos, coordenador do Departamento de Cirurgia Digestiva, há orientações que precisam ser observadas depois para manter uma vida saudável.
Em Ribeirão Preto são pelo menos 106 pacientes aguardando na fila de espera. “Pode ocorrer deficiência de vitaminas, outras dificuldades de absorção de nutrientes, então é necessário saber conviver com essa nova condição e o que muda na vida depois da cirurgia”, explica o médico. No HC-RP são realizadas em média 50 cirurgias bariátricas por ano, mas antes disso o paciente deve perder 15% do peso para evitar complicações. O índice de mortalidade é pequeno.
Santos confirma que a pandemia agravou problemas de obesidade e problemas relacionados como dificuldades de mobilidade, parede do estômago dilatada, diabetes, pressão alta, entre outras. Sendo assim, mais profissionais precisam estar envolvidos em cada caso, com maiores riscos.
Novas regras
A partir deste ano, se forem aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina, as regras para indicação de cirurgia bariátrica e metabólica devem mudar no país. O IMC (Índice de Massa Corporal) mínimo deve ser de 35kg/m², caso não existam comorbidades; já pacientes com doenças associadas à obesidade poderiam se submeter à cirurgia bariátrica com IMC a partir de 30kg/m².
Enquanto no SUS as filas são grandes e crescentes, por outro lado, as cirurgias particulares são mais atraentes para os médicos por conta do retorno financeiro. O desafio é exatamente esse, mostrar que mais serviços do SUS devem ser abertos. Além da pandemia da covid ter aumentado a obesidade na população, muitos pacientes que tinham convênio o perderam por questões econômicas.
A recuperação de peso, chamada de recidiva da obesidade, é uma coisa que acontece em até 35% dos pacientes. Quem pensa em fazer cirurgia bariátrica deve procurar um serviço que tenha uma equipe bem constituída, de preferência da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB).
‘Canetas emagrecedoras’ também em maior demanda
Outra opção para quem quer perder peso de forma mais rápida são as canetas emagrecedoras. Medicamentos aplicados em casa, diariamente, em aplicadores que podem durar de 15 a 30 dias.
Nos últimos dias a Anvisa aprovou a primeira medicação injetável de aplicação semanal para tratar a obesidade. Especialistas recomendam que o tratamento com a caneta de semaglutida (2,4 mg), que tem aval em países como Estados Unidos e Canadá, deve ser feito com supervisão médica.
A substância já era usada para tratar o diabete tipo 2, mas em dosagem menor – pode fazer com que pacientes adultos percam, em média, 17% do peso corporal em pouco mais de um ano. O hormônio consiste em um agonista do receptor de glp-1 que sinaliza ao cérebro a sensação de saciedade. A aplicação subcutânea ocorre uma vez por semana e já é testada por pesquisas científicas.
Os pesquisadores demonstraram que, quando combinada a uma alimentação regrada e ao aumento da atividade física, a dosagem semanal de 2,4 mg de semaglutida propiciou perda média de peso de 15,2%, ante 2,6% no grupo placebo – a dosagem usada para o tratamento da obesidade é quase o dobro dos 1,3 mg usados para tratar o diabete tipo 2.
Não foi o caso do jornalista Adalberto Luque. Ele usou o produto porque tem diabetes e também queria perder peso. Mas em cinco meses, com apenas um quilo eliminado, decidiu voltar ao tratamento tradicional com dieta e exercícios. “Segui a prescrição médica, não senti efeitos colaterais, mas não vi resultado pelo investimento que é alto”, explica.
A caneta faz com que a digestão fique mais lenta e aumenta a saciedade. Há relatos de eventos gastrointestinais, como náusea e vômito, o que reforça a necessidade de acompanhamento médico. Nas farmácias ouvidas pelo Tribuna Ribeirão a procura cresceu cerca de 30% nos últimos meses.
Segundo dados do atlas da obesidade, cerca de 30% da população brasileira deve ter obesidade até 2030. Atualmente, estima-se que aproximadamente 41 milhões de pessoas (20% do total de habitantes) convivam com a obesidade.