Ataques a bancos e caixas eletrônicos atingiram, ao longo dos últimos três anos, 336 cidades de São Paulo, o que equivale à metade do Estado – são 645 no total. Apesar de o número de crimes ainda estar abaixo do patamar elevado de 2015, os dados indicam que os casos vêm aumentando em 2018. Nos dois primeiros meses, os registros somados de roubos e furtos, tentados e consumados, a instituições financeiras e terminais bancários eletrônicos foram 10,5% maiores do que no mesmo período do ano passado, chegando a 84; o uso de explosivos, marca dos ataques, também se tornou mais frequente.
A forma de atuação dos grupos criminosos se repete: mirando cidades do interior com pouco efetivo policial, chegam em caminhonetes, com mais de dez integrantes, portando armas longas; agem rapidamente com dinamite, recolhem o dinheiro após as explosões e fogem sem ser localizados. Dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que esses ataques nos últimos três anos aconteceram 57% das vezes em cidades do interior.
Um mapa elaborado a partir desses registros permite notar que, além da capital e região metropolitana, os crimes se espalham pelas proximidades de Ribeirão Preto, São José dos Campos, Campinas e Sorocaba. Uma área que parece menos vulnerável é a região oeste, próximo de Presidente Prudente. Ainda assim, a capilaridade do crime mancha diversas partes do mapa. Foram 138 as cidades com um registro.
Ex-comandante da Polícia Militar paulista, o coronel da reserva Benedito Roberto Meira diz haver um procedimento padrão para casos como esse. “Se há uma quadrilha de dez pessoas, os dois policiais militares de plantão não devem ir de encontro a eles. Não teriam chance. Eles têm de se proteger do jeito que puder, identificar o número de pessoas envolvidas e solicitar reforço”, disse.
O oficial destaca a necessidade de as instituições financeiras buscarem mecanismos de prevenção, diante da impossibilidade de a corporação aumentar substancialmente o número de agentes. Segundo ele, pequenas cidades têm de nove a onze policiais, que se revezam de modo a ter dois por plantão.
“A polícia não vai aumentar o seu contingente. Entendo que a prevenção deveria começar pelos próprios bancos, com mecanismos que inutilizem as cédulas em caso de ataque”, disse. “Mas eles falam que isso tem alto custo e a maior preocupação é com os hackers, não com as quadrilhas, já que as fraudes dão maior prejuízo aos bancos. Há um descaso.”
Explosões – Em 2018, os crimes que tiveram uso de explosivo já aconteceram 31 vezes no primeiro bimestre. Além de explodir os terminais eletrônicos, os bandos comumente também optam por dinamitar os cofres das agências em busca do dinheiro. No ano passado, no mesmo período, foram 18 casos. Os casos totais passaram de 76 para 84.
O que também vem crescendo são ações planejadas para roubo de armas de vigilantes nas agências. Em 2017, foram 47 casos, cinco a mais do que em 2016. Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, a delegada Raquel Kobashi Gallinati diz ver uma relação entre o déficit de policiais civis, que é acentuado no interior, e o aumento do crime organizado. “Quando a potencialidade da nossa capacidade investigativa é limitada há esse caos que estamos vivenciando. A consequência do descaso com a segurança pública é deixar a sociedade completamente desprotegida.”
Prisões – Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que as delegacias especializadas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) “trabalham incessantemente no combate” aos crimes. “Nos dois primeiros meses do ano, seis pessoas foram presas pelo Deic, por roubo a banco. Em 2017, 62 criminosos foram detidos por esse tipo de crime.” A secretaria destacou ainda que, considerando só furto e roubo de caixas eletrônicos, houve queda em 2017 de 13,2% na comparação com 2016.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) enviou nota, em que diz que as instituições fazem investimento “relevante” no aprimoramento da segurança bancária, de R$ 9 bilhões ao ano, e mantêm cooperação intensa com autoridades da segurança pública. Cita ainda queda nos últimos anos no número de assaltos e tentativas de assalto a bancos. Mas observa que “a ação de segurança necessária para fazer frente à violência empregada (pelas quadrilhas) está fora de alcance das instituições privadas”.