Tribuna Ribeirão
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Bambas: A Primeira Escola de Samba do Brasil 

André Luiz da Silva *
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O dia 11 de abril se tornou, para sempre, uma data de silêncio em nossa família. Foi quando perdemos minha mãe, Luzia Aparecida da Silva, no ano de 2024. A ausência dela nos vestiu de luto… Mas, curiosamente, esse primeiro ano de saudade também foi pintado de vermelho e branco — as cores do Grêmio Recreativo Escola de Samba Bambas, que acaba de ter sua história eternizada em um documentário lançado ontem.

Fundada em 10 de março de 1927, sob a sombra acolhedora de uma mangueira, nascia a “Agremiação Carnavalesca Familiar Os Bambas”. O termo familiar não era apenas decorativo — era essência. Foi ali que as famílias Amâncio e Santos se uniram para dar vida àquela que viria a ser reconhecida como a primeira escola de samba do Brasil, muito antes da fundação da Estação Primeira de Mangueira, em 1928, e da Portela, em 1929.

Com o título “A Primeira Escola de Samba do Brasil”, o documentário celebra os 98 anos dos Bambas e reuniu profissionais talentosos do audiovisual local. Durante a fase de pesquisa e pré-produção, os realizadores depararam-se com uma triste constatação: os jovens de hoje têm pouco — ou nenhum — contato com o samba e sua rica tradição de desfiles. Isso revela uma distância crescente entre o presente e as raízes culturais que nos formam.

Preocupados com esse distanciamento, quando estivemos na Câmara Municipal, apresentamos e conquistamos a aprovação da Lei nº 13.447, de 04 de março de 2015, que reconhece o Desfile das Escolas de Samba como Patrimônio Cultural Imaterial de Ribeirão Preto. A lei garante a preservação da memória, dos personagens e das expressões culturais que envolvem as escolas, os blocos, os afoxés, os maracatus e tantas outras manifestações que compõem o nosso carnaval.

Minha história com o samba vem de longe. Desde criança, ao lado de minha mãe, acompanhei os desfiles que coloriam a Rua General Osório, as ruas dos Campos Elíseos, a Avenida Costa e Silva e a Avenida Mogiana. Era fascinado pelas evoluções das alas, pela sonoridade da bateria, pela dança ágil e protetora do Mestre-Sala diante da Porta-Bandeira. Aplaudi nomes como o senhor Nascimento, o mestre Oscarzinho, o Bentão, e me emocionei com a dona Mercedes, da Ala das Baianas, que também cozinhava na escola onde estudei.

Já adulto, vivi a alegria de desfilar — e justamente na ala que prestava homenagem aos escritores locais. Minha tia e primas saíam com os “Meninos e Meninas Lá de Casa”, e não deixei de torcer pela Escola de Samba do Botafogo, que, fundada por sua torcida apaixonada, conquistou até título no carnaval.

Por todo Brasil, as escolas de samba são mais do que palco para o brilho do carnaval. Elas são espaços de resistência cultural e social. Mesmo diante do avanço dos blocos e do corte proposital de recursos, seguem firmes, provando, como no Rio e em São Paulo, sua importância na economia criativa e na alma do povo.

Guardo com carinho uma das experiências mais comoventes da minha vida: a entrevista com o senhor Santo, no Barracão dos Bambas, na Avenida Capitão Salomão. Aquela que seria apenas mais uma gravação do programa Página Aberta, tornou-se uma aula viva de história e de samba. Com delicadeza e sabedoria, ele nos guiou por memórias preciosas, contou causos, entoou sambas quase esquecidos. Foi uma viagem no tempo, conduzida por um verdadeiro guardião da cultura popular.

Hoje, mais do que nunca, o legado dos Bambas se impõe como um ato de resistência. Cada geração que passou por essa escola deixou marcas de amor e dedicação. A atual diretoria, assim como todos os que construíram essa história, merecem nosso mais profundo reconhecimento.

Congratulo, com emoção, aqueles que idealizaram e realizaram o documentário, e a todos que decidiram compartilhá-lo gratuitamente no YouTube. Essa generosidade permite que a memória da primeira escola de samba do Brasil esteja acessível a todos — e que, mesmo em meio à dor, possamos nos lembrar que a alegria do samba também é uma forma de eternidade.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

 

 

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