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Balé – Do Parque RP para o mundo

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Há vinte anos, quando Amanda Lima calçou pela primeira vez a sa­patilha de balé, talvez ninguém ima­ginasse que ali começava uma vida de sonhos e chaves para abrir portas para o mundo. O balé fez e faz parte, desde então, da vida da menina. Por meio dele e de seu próprio esforço conseguiu bolsas de estudos em es­colas, fez faculdade na USP e hoje vive da dança. Agora, Amanda está prestes a deixar o bairro onde mora, o Parque Ribeirão, e estudar em uma conceituada escola do Canadá. O sonho está próximo de ser reali­zado. Uma campanha para angariar recursos foi feita e cerca de 70% do dinheiro já foi arrecadado.

Amanda Lima já conseguiu 70 % dos recursos e falta pouco para estudar em uma conceituada escola de balé canadense
Balé e dança fazem parte da vida de Amanda desde os 3 anos de idade

Hoje, aos 23 anos, Amanda, formada em Educação Física pela USP – Universidade de São Paulo trabalha e sobrevive da dança. Atua como bailarina no grupo avançado e dá aulas. É professora também em várias escolas e academias. “Eu co­mecei bem cedo. Minha mãe é fun­cionária do Hospital das Clínicas e tinha convênio para eu estudar no Metodista. Lá comecei a fazer balé. Com o passar do tempo, o convênio acabou, mas fui convidada como bolsista a continuar em uma escola de balé. Depois essa escola fechou e aos 13 anos fui para o Studio Lucia­na Junqueira, onde estou até hoje. Não parei mais”, conta.

E foi assim dividindo salas de aula com salas de dança que Aman­da fez o Ensino Fundamental, Ensi­no Médio e a faculdade. “Quando eu estava estudando no Colégio Auxiliadora (ganhou desconto por conta da dança) eu também fazia o curso técnico de balé e finalizei os dois ao mesmo tempo”.

Convite para o Canadá
No ano passado, ao participar de um curso em Salto (SP), ganhou uma bolsa de estudos na renomada escola de balé Bloch, em Vancou­ver, no Canadá. Além da bolsa, foi convidada para participar de um espetáculo da companhia Contem­porary Division. Amanda conta que o convite foi feito pela diretora e co­reógrafa brasileira Mônica Proença, que mora no Canadá.

A bailarina ribeirão-pretana chamou a atenção durante as aulas. “A princípio foi uma empolgação, mas depois coloquei os custos na ponta do lápis, não foi simples. Fi­quei e estou muito feliz pelo apoio que tenho recebido. Pessoas que eu nem imaginava me procuraram para oferecer ajuda. Estou com 70% dos recursos. A passagem eu ganhei do meu tio. Consegui moradia pelo período que ficarei lá. Então falta pouco”, comemora. “Acho que real­mente será uma experiência fantás­tica. É uma oportunidade incrível e um sonho a ser realizado, de uma garota simples que tem a chance de expandir os horizontes com a dan­ça”, finaliza.
Informações para quem tiver interesse: www.vakinha.com.br/va­quinha/521330.
Instagram @alimadance
Facebook: Amanda Lima

Poucas bailarinas negras
De família humilde e negra, Amanda diz que nunca foi discriminada pela cor da pele, mas sentiu falta de representatividade. “Nunca fui discriminada diretamente por ser negra, mas sempre senti falta de representatividade. Quando você olha os quadros, as fotos e até as próprias histó­rias de contos de fadas recontados nos espetáculos de balé é difícil se sentir representado. E talvez as pessoas brancas não percebam porque sempre estão representadas nelas, mas pra mim sempre foi difícil me enxergar nesse meio, onde quase não tem pessoas nem personagens da minha cor”, conta.

Amanda diz que os vestuários do balé foram criados para pessoas de cor branca. “É algo sútil pra quem não sofre com isso, mas muito simbólico pra mim onde tudo foi criado para um pa­drão, por exemplo, as sapatilhas e meia calças rosa foram criadas para peles claras e apenas agora quase 200 anos depois é que começam a aparecer sapatilhas para outros tons de pele”.

Reconhecimento: Ano passado Amanda Lima foi convidada para protagonizar uma campanha publicitária da marca Evidence Balé

A bailarina explica que o balé nasceu de uma cultura de elite, nas cortes e realezas e que mes­mo hoje em dia, apesar de projetos sociais, dançar não está ao alcance de todos. “Atualmente nós temos as duas faces, as escolas particulares e os projetos sociais, mas em ambos não deixa de ser uma prática com custos altos; roupas adequadas, sapatilhas, figurinos, inscri­ções para festivais são gastos recorrentes que fazem com que a prática fique mais comum entre aqueles que têm condições financeiras melhores”, avalia. “Tenho visto o número de bailarinas negras crescer pouco a pouco, e no alto nível já temos nomes de destaque como Ingrid Silva, Misty Copeland, Michael de Prince, mas ainda sim são poucas comparado à quantidade de nomes de bailarinas brancas que são consideradas famosas”, acrescenta.

Ingrid Silva é a grande inspiração de Amanda. “Eu recordo que há alguns anos eu vi uma reportagem sobre ela (Ingrid) na TV e isso mudou totalmente a forma que eu mesma me via na dança. Passei a acreditar mais em mim e perceber que onde não se tem representatividade a gente tem que criar. Hoje independentemente de onde eu consiga ou não chegar eu quero abrir caminhos e inspirar pessoas assim como ela fez”.

E os esforços de Amanda estão dando resultados. Além das oportunidades dentro e fora do país, ela tem inspirado outras crianças negras. “Ano passado fiz uma campanha pra uma marca de produtos de balé. E no maior festival de dança do Brasil eles levaram um stand enorme com a minha foto. Eu não pude estar lá, mas recebi muitas mensagens e carinho de pessoas que viram. Recentemente recebi uma mensagem de uma mãe de uma criança negra que passou pelo stand, ela agradeceu pela representatividade, disse que filha ficou mui­to empolgada e feliz ao ver a foto e que me acompanha nas redes sociais mostrando sempre à sua filha como forma de incentivo”, finaliza.

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