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Babá de 60 anos transforma paixão por bonecas em missão solidária 

Zilda Aparecida Bernardes, de 60 anos, não soube o que é ter bonecas na infância porque os pais não tinham condições de comprar. Hoje recupera bonecas muitas vezes retiradas de lixeiras ou caçambas e doa para crianças que não podem comprar 

Zilda em sua "oficina" de bonecas. Paixão desde criança .(Helba Vieira)

Por Helba Diniz 

 

Quando a babá Zilda Aparecida Bernardes, de 60 anos, restaurou a primeira boneca – para a sobrinha, há 19 anos – não imaginava estar abraçando uma verdadeira missão. Essa mulher simples, de Jaboticabal, não soube o que é ter bonecas na infância porque os pais não tinham condições de comprar. E também porque começou a trabalhar cedo, na roça, não sobrava tempo para brincar. Mas ela sempre teve paixão pelo brinquedo e hoje se encontrou não só tendo uma coleção de Barbies, sua favorita. Ela recupera bonecas muitas vezes retiradas de lixeiras ou caçambas e doa para crianças que não podem comprar. Zilda lamenta que a tecnologia esteja tomando o lugar do hábito de brincar de antigamente, o que reduziu bastante o número de bonecas a serem recuperadas por ela. 

A babá já perdeu a conta de quantas bonecas consertou e deu de presente, inclusive para as meninas de um orfanato da cidade e para crianças que passam na rua. Ela tem verdadeiro encantamento por esse universo e cuida com muito orgulho das mais de 100 Barbies e outras bonecas que possui.   

A babá faz questão de esclarecer que a maioria das Barbies, algumas grandes e imponentes, não é original. “As bonecas chegam às vezes até sem cabeça, braço, cabelinho, roupinhas… eu dou um jeito de deixá-las bonitas de novo, prontas para as crianças brincarem”. 

 Do lixo e renovadas 

As bonecas danificadas ou que estejam precisando apenas de um bom trato nos cabelos, uma roupinha nova ou um banho chegam às mãos da Zilda por diferentes meios. Tem as encontradas no lixo, outras descartadas por mães cujas filhas não as querem mais. Há também casos mais raros de bonecas antigas, com valor afetivo, que ela pega para dar uma renovada e devolver à dona.   

A babá faz questão de dizer que não importa o estado que a boneca chegue, o carinho e dedicação em recuperá-la são os mesmos. “Cada peça que eu entrego para uma criança é uma satisfação muito grande, sei o valor de um brinquedo na vida de uma criança”, diz a mulher que é babá desde os 14 anos, quando a família mudou da zona rural para a cidade. 

E a Zilda não parou por aí. A fama correu e das bonecas ela passou a restaurar também outros tipos de brinquedos. Foi assim que começou a receber fogõezinhos, armarinhos e outros itens com defeitos. Ela passou a se empenhar com o mesmo capricho e deixar todos prontos para voltarem às mãos das crianças. “Tudo que o pessoal me traz eu me empenho para consertar porque sempre foi muito gratificante ver a alegria das crianças”. 

Concorrência com o mundo moderno 

Zilda não sabe costurar, mas confecciona os vestidinhos das bonecas. Ela está sempre ajeitando um detalhe aqui, outro ali na roupinha, no cabelo, tirando a poeira. É o tradicional brincar de boneca. Um hábito que segundo ela tem se perdido com o avanço da tecnologia. Ela diz que uma das alegrias é ver a meninada ainda brincando com bonecas hoje em dia. “As crianças têm trocado as bonecas e outros brinquedos tradicionais por joguinhos no celular ou pela televisão, infelizmente a maioria não sabe mais brincar como antigamente”, diz Zilda.  

Viúva há 33 anos, ela tem dois filhos e dois netos, o Pedro, de 16 anos e a Heloísa, de 10.  Ela revela que não conseguiu transmitir para a neta Heloísa toda a paixão pelas bonecas. “A menina não sai do celular, fica o tempo todo nos joguinhos”, entrega. A Helena, de 6 anos, de quem Zilda é babá, também não gosta de brincar de bonecas, e Zilda não esconde o desapontamento: “Ela adora o tablet, não troca ele por nada desde que aprendeu a mexer. Quando era pequenina ainda brincava de bonecas, de fazer comidinha num fogãozinho, mas com o tempo ela deixou as brincadeiras para trás”. 

Essa mudança de comportamento das crianças, segundo ela, está se refletindo na escassez de bonecas e outros brinquedos para serem recuperados. “Antes a gente encontrava bonecas velhas no lixo ou recebia doações com mais frequência, hoje é muito difícil achar e por isso diminuiu demais o número de brinquedos para reformar”, lamenta a babá. 

 Uma realidade que é diferente da história que a inspirou a começar as restaurações, há 19 anos. “Minha sobrinha, Adrieli, ainda guarda com carinho a boneca que eu recuperei e lhe dei quando ela era bem pequena”, conta com orgulho.  Essa primeira boneca chegou até a Zilda pelas mãos da irmã, que um dia apareceu em casa com algumas bonecas descartadas pela patroa. A babá decidiu renová-las. Lavou todas e as pendurou no varal. Ela lembra que a sobrinha se encantou de tal forma pela pequena boneca que a pegou ainda molhada, no varal, e levou para casa. 

 

 

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