O uso do azeite de oliva sempre foi expressivo na nossa região devido à influência dos imigrantes italianos, portugueses e espanhóis. Meu avô José Chúfalo sempre comprava o produto em latas de vinte litros, decoradas com uma moça levando na cabeça uma peneira de azeitonas recém colhidas. Tinha a paciência de abrir a lata com cuidado e transbordar o líquido para garrafas escuras, alertando que um dos maiores inimigos do azeite é a luz.
A história do azeite é milenar. Já havia oliveiras nativas no Crescente Fértil antes do surgimento do homem na Terra. Como o azeite nada mais é do que o sumo da azeitona, seu uso inicial perde-se nos tempos. Há indícios que há mais de 6.000 anos os povos da Mesopotâmia untavam-se do líquido para se proteger do frio.
O Velho Testamento tem várias passagens que falam do produto e de seu comércio. Terminado o dilúvio, por exemplo, a pomba trouxe a Noé um ramo de oliveira.Um bela lenda grega diz que os habitantes da hoje Atenas queriam escolher um deus ou uma deusa como seu patrono. Para isto, convidaram Atena, filha de Zeus e deusa da sabedoria e Poséidon, deus do mar para disputarem a honraria. Poséidon deu um cavalo de combate à cidade e Atena uma muda de oliveira, ganhando a disputa e dando o nome de Atenas ao povoado.
Os fenícios foram responsáveis por expandir ouso no líquido pelo Mediterrâneo e os gregos teriam sido os primeiros a estudar seus efeitos terapêuticos e alimentícios. O azeite tinha vários outros usos, inclusive era queimado para fornecer luz. Hoje, a dieta mediterrânea, tão decantada, tem no azeite seu produto básico, ao lado do vinho, produtos que passaram a integrar a cultura ocidental.
Embora os jesuítas já o produzissem em pequena escala, durante o período colonial o azeite era trazido de Portugal, mas, quando D, João VI chegou ao Brasil, em 1808, autorizou o plantio de oliveiras para a produção do azeite usado pela Corte. Não se tem notícia do sucesso desta empreitada, mas, curioso e triste, treze anos depois, quando voltou a Lisboa, mandou erradicar os olivais para que não houvesse concorrência com o produto lusitano.
Foi somente com a chegada dos imigrantes, no final do século XIX e início do XX, que as oliveiras voltaram ao Brasil. Como não eram adaptadas ao nosso clima, serviam de decoração nos quintais. Em 1955, a EPAMIG – Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais – começou a pesquisar o seu eventual plantio para fins comerciais. Foi preciso procurar locais que pudessem ter clima parecido ao europeu, bem como variedades melhor adaptáveis ao nosso terroir. Existem mais de mil espécies da árvore no mundo, sendo que em torno de 700 são cultivadas. Depois de muita experimentação, seis espécies se tornaram viáveis e estava aberta a possibilidade de o azeite brasileiro ser produzido.
Concentrados na região sul e nos estados de São Paulo e Minas, mais de 200 produtores de azeitona alimentam 35 marcas já presentes no nosso mercado. Estes produtores disputam concursos internacionais e tem conseguido prêmios significativos, apresentando azeites de altas qualidade.
Conseguiremos concorrer em pé de igualdade com os tradicionais produtores espanhóis, portugueses, italianos e gregos, que há séculos comercializam o azeite? A resposta é sim, pela qualidade já conseguida e pela rápida colocação das nossas produções no mercado consumidor. Ao contrário do vinho, azeite quanto mais jovem melhor.