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Ayrton Senna: uma influência para todas as gerações 

Trinta anos desde sua morte, ícone perdura para quem o viu surgir e quem mal o acompanhou em vida 

Ayrton Senna foi muito mais do que um piloto, foi exemplo de persistência (Reprodução)

Por Hugo Luque 

Na última quarta-feira, completaram-se 30 anos de uma das maiores tragédias do esporte brasileiro. Naquele 1º de maio, um domingo, às 9h17 no Horário de Brasília, 14h17 na Itália, Ayrton Senna da Silva perdeu o controle de seu carro, passou reto na curva Tamburello, em Ímola, e foi de encontro com o muro e a morte a bordo de sua Williams. 

Em seguida, o povo brasileiro se manteve estático diante de suas televisões até às 13h40 do horário brasileiro, quando o jornalista Roberto Cabrini entrou na programação da TV Globo com um boletim urgente: “Uma notícia que a gente jamais gostaria de dar. Morreu Ayrton Senna da Silva”, disse o repórter. 

Era o desfecho que ninguém esperava ou desejava para uma carreira folclórica na Fórmula 1. Natural de São Paulo, Senna iniciou no kart muito cedo, aos quatro anos, por influência de seu pai, o empresário Milton Guirado Theodoro da Silva, e começou a competir aos 13, com direito a vitória na estreia, em julho de 1973. 

Foram várias categorias até se tornar o sucessor natural de Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. O promissor talento subiu degrau a degrau com o bicampeonato paulista de kart, o tricampeonato brasileiro da modalidade e dois títulos sul-americanos. Foi, então, para a Fórmula Ford, onde conquistou as categorias 1600 e 2000. Sua última parada antes do maior palco do automobilismo mundial foi a Fórmula 3 Britânica, em que também levantou o troféu, em 1983. 

A primeira experiência na Fórmula 1 veio em julho daquele ano, aos 23 anos, quando testou uma Williams no circuito de Donington Park, na Inglaterra, e bateu o recorde da pista. Já a primeira corrida foi o Grande Prêmio do Brasil do ano seguinte, pela equipe Toleman-Hart. Com três pódios na temporada, o promissor brasileiro chamou a atenção da Lotus, que o contratou para a próxima temporada. 

Logo de cara, uma vitória na segunda prova do ano, em Portugal, e mais uma na Bélgica garantiram a ele a quarta colocação do campeonato. Senna se tornava, então, um candidato sério ao título. Na virada de 1987 para 1988, veio a grande mudança: Senna assumiu o carro número 12 da McLaren e se tornou companheiro de equipe do badalado francês Alain Prost. Já em 1988, o brasileiro conquistou o mundo com seu primeiro título na categoria, após uma heroica prova decisiva no Japão, quando ultrapassou todo o grid, incluindo Prost. 

Nos anos seguintes, a rivalidade Senna-Prost marcou a categoria, com títulos para os dois lados. O paulistano ainda foi campeão mais duas vezes, em 1990 e 1991, antes da fatídica mudança para a Williams, equipe que defendia quando morreu. 

Do começo ao fim 

Márcio Spimpolo na 1ª vitória de Ayrton no Brasil, em 1991, quando piloto terminou a corrida apenas com a 6ª marcha (Arquivo pessoal) 

O advogado ribeirão-pretano Márcio Spimpolo, 55 anos, acompanhou a trajetória de Senna do começo ao fim na Fórmula 1. “Sempre fui um apaixonado por Fórmula 1, desde a época de Nelson Piquet. Acompanhei o início da carreira dele [Senna], na Toleman, em 1984. Na época, o piloto brasileiro que mais se destacava era o Piquet, mas Senna já dava mostras que ia ser grande, mesmo em uma equipe considerada pequena”, conta. 

O primeiro grande prêmio do torcedor foi em 1989, no Rio de Janeiro, na última corrida da categoria realizada em Jacarepaguá. Pole position, o brasileiro se acidentou e a vitória ficou com Nigel Mansell. A partir do ano seguinte, o GP do Brasil foi para Interlagos, em São Paulo, mais perto de Spimpolo. 

“Estive presente em todos até a morte de Senna. Uma lembrança marcante foi em 91, na primeira vitória dele no Brasil. Eu estava na arquibancada G, e o carro dele parou justamente na nossa frente. Uma multidão invadiu a pista. Foi, talvez, o momento mais marcante da minha vida numa corrida.” 

O advogado se recorda de Ayrton Senna como um cidadão do mundo e o maior esportista de sua época, a exemplo de Pelé. Trinta anos desde a morte do voraz piloto, Spimpolo guarda miniaturas, fotos das corridas e pôsteres, além das amargas lembranças daquele domingo, que já havia começado estranho após a morte de outro competidor, no sábado, e um grave acidente envolvendo Rubens Barrichello, na sexta-feira. 

“Estava em casa, como em quase todo domingo, aguardando o início da transmissão. O fim de semana já tinha sido muito tenso com a morte de [Roland] Ratzenberger no treino de sábado. No domingo, acompanhei toda a transmissão após o acidente, como a maioria dos brasileiros deve ter acompanhado”, relembra. 

Desde então, a relação do ribeirão-pretano com a categoria não foi mais a mesma. Ele voltou a frequentar as arquibancadas de Interlagos somente em 2000, quando Barrichello vivia seu auge, na Ferrari. Ao todo, o entusiasta por velocidade esteve em oito provas, sendo a última em 2008. 

“Eu era um dos que acordava de madrugada ou nem dormia para assistir às corridas do Japão e Austrália. Senna era um ícone do esporte e a alegria das manhãs dos domingos de quase todo brasileiro. Sua persistência em ser o melhor inspirou a vida de muitos da sua geração”, completa. 

A primeira memória 

Lais é presença constante nas arquibancadas e no paddock de Interlagos (Arquivo pessoal)

Ayrton Senna não inspirou somente sua própria geração, mas também influenciou as que viriam após sua morte. Apaixonada por Fórmula 1, a advogada Lais Renata Pereira de Souza, 33 anos, não acompanhou ao vivo as conquistas do herói. No entanto, sua primeira memória envolve justamente o episódio final do corredor e como ele foi, de fato, a alegria dos domingos em sua casa. 

“O clima em casa foi de muito luto e tristeza. Não o vi correr, mas já tinha três para quatro anos, e ele sempre foi uma memória muito viva presente na minha casa. O Ayrton Senna sempre fez parte da minha família. Desde pequena, meus pais e avós eram fãs de automobilismo e dele. O segundo casamento da minha mãe foi com um apaixonado por automobilismo, além de um grande fã do Senna. Cresci ouvindo frases motivacionais dele.” 

Além de advogada, Lais é influenciadora digital e criadora de conteúdo para o nicho do automobilismo. Assim como Márcio Spimpolo, coleciona itens e idas a Interlagos. Na última quarta-feira, ela substituiu os pneus pelos tênis e participou da corrida de rua beneficente Ayrton Senna Racing Day, em São Paulo. 

“Senna é meu maior ídolo não só dentro do esporte, mas na vida. Com certeza tenho outros nomes dentro do automobilismo que são fãs do Ayrton e que também tenho como ídolos, como o Sebastian Vettel e o maior vencedor da história da Fórmula 1, Lewis Hamilton”, cita. 

Apesar de admirar pilotos que compõem e compuseram o grid da categoria nos últimos anos, Lais garante que só existirá um Ayrton Senna. “Falar em um piloto que se assemelha ao Senna, acho que não dá. São épocas diferentes, carros e tocadas diferentes. O Senna mudou muito o cenário do automobilismo, especialmente no quesito segurança. O que podemos dizer é que vários pilotos têm traços da tocada e da guiada de Ayrton Senna.” 

Ela menciona nomes como Lewis Hamilton, Max Verstappen, Fernando Alonso e Pierre Gasly, cada um com suas peculiaridades. Apesar das individualidades, algo reúne todos eles: a inspiração no brasileiro, tricampeão mundial. 

“Senna é sinônimo de coragem, de garra. Ele sempre dizia que a gente tem de ter muita fé e coragem para realizar os sonhos. Foi um cara que batalhou muito para conquistar os seus, muito focado, que me remete muito a coragem, foco, determinação, a não desistir e sempre acreditar”, acrescenta. 

Mesmo 30 anos após sua volta final, Ayrton Senna permanece como símbolo máximo de orgulho nacional. Na última semana, o ícone das pistas recebeu homenagens por todo o mundo, desde Las Vegas, nos Estados Unidos, até em um shopping de Ribeirão Preto. É a prova de que o piloto deixou, além de 161 largadas, 80 pódios, 41 vitórias e três títulos mundiais, um legado eterno, que permanece intacto aos efeitos do tempo. 

“Muitos dos ensinamentos de Senna fizeram parte da minha formação como mulher e pessoa, e com certeza isso me manteve presa ao automobilismo. Sou apaixonada por Fórmula 1 e brinco que sou viúva do Senna, mesmo não tendo presenciado muito tempo dele vivo. Falo que ele deixou um legado que me formou como pessoa. Tenho o Beco, que é Ayrton Senna, como um pai na formação de caráter”, conclui Lais. 

 

 

 

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Foto 02:  

Márcio Spimpolo na 1ª vitória de Ayrton no Brasil, em 1991, quando piloto terminou a corrida apenas com a 6ª marcha 

(Foto: Arquivo pessoal) 

 

Foto 03:  

Lais é presença constante nas arquibancadas e no paddock de Interlagos 

(Foto: Arquivo pessoal) 

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