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Espiritualidade e religiosidade (E/R), embora sejam definições muito populares e discu­tidas por vários autores, dentro e fora da arena religiosa, não apresentam consenso acerca de suas definições. Religiosidade é definida como a extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião e, usualmente, essas crenças influenciam como as pessoas buscam viver e como consideram os outros. Espiritualidade, por outro lado, é um conceito muito mais complexo, podendo ser entendido como a busca de significado para a vida, envolvendo rela­ções com o sagrado ou a transcendência e conexão com um ser divino supremo, de alto poder.

Uma ideia mais ampla de Espiritualidade a define como o aspecto da humanidade que se refere à maneira como os indivíduos buscam, e expressam, significado e propósito da vida, bem como, a maneira como eles experienciam sua conectividade ao momento, a si mesmo, aos outros, à natureza e ao sagrado. A despeito do crescente interesse da comunidade cientí­fica sobre a relação E/R e saúde, a literatura mostra controvérsias não só em relação aos seus conceitos como, também, em relação aos seus efeitos. Há, todavia, vários estudos que têm ava­liado o papel da E/R sobre o bem-estar, a qualidade de vida, a sobrevivência e a saúde mental e física ao redor do mundo.

Tentando entender esses conceitos e se eles são importantes na prática clínica, alguns estudos começaram a investigar se há diferenças entre aqueles com alto nível de religiosidade e baixos níveis de espiritualidade e aqueles com altos níveis de espiritualidade e baixo nível de religiosidade. De um lado, alguns autores têm revelado que aquele com alto nível de religiosidade e baixo nível de espiritualidade têm melhores resultados de saúde indi­cados pela baixa prevalência de uso de álcool e drogas, baixos níveis de ansiedade, fobia e outras desordens mentais. De outro lado, outros au­tores têm encontrado exatamente o oposto, pois aqueles indivíduos com alto nível de espiritualidade e baixo nível de religiosidade foram asso­ciados com melhor saúde, indicados por melhor funcionamento físico, qualidade de vida, status de saúde e menos sintomas depressivos.

Recentemente, um estudo (Peres et al, 2017; Journal of Religion and Health, 1-14) con­siderando amostra brasileira, investigou esta área e usou uma escala de religião para avaliar religiosidade e uma escala de fé para avaliar espiritualidade. Interessante foi verificar que os dados que deram significado à vida, bem como, paz, foram mais importantes e associados com qualidade de vida e saúde mental do que os níveis de religiosidade. Em adição, os partici­pantes com altos níveis de religiosidade, mas baixos níveis de significado e paz, apresentaram desfechos piores quando comparados com aqueles com baixos níveis de religiosidade e altos níveis de significado e paz.

Outro estudo, realizado pelo mesmo grupo (Vitorino et al, 2018; Scientific Reports, 8), focando a atuação entre Espiritualidade, Religiosidade e Saúde Mental mostrou dados indicando que, pessoas, com níveis mais elevados tanto de espiritualidade quanto de reli­giosidade, tiveram melhores desfechos de saúde do que as que tinham apenas um destes comportamentos, ou nenhum deles. Ademais, pessoas tendo altos níveis de religiosidade, em detrimento de altos níveis de espiritualidade, foram, também, associadas com desfechos melhores em comparação a outros.
Tomados em conjunto, esses estudos revelam que altos níveis de espiritualidade e religiosi­dade são associados com melhor qualidade de vida psicológica, social e ambiental, otimismo e felicidade quando comparados com aqueles tendo apenas espiritualidade, apenas religiosidade ou nenhum deles. Revelam, também, que é possível tais resultados serem muito importantes na prática clínica, visando definir a saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não meramente de ausência de doença e enfermidade.

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