A Câmara de Vereadores será palco nesta quarta-feira, 3 de abril, de uma audiência pública para debater a situação do transporte público na cidade. O objetivo é discutir os problemas e apresentar sugestões para depois reunir o conteúdo em um documento que será enviado ao Executivo. A ideia é que os tópicos apresentados sejam considerados na repactuação do contrato de concessão entre a prefeitura de Ribeirão Preto e o Consórcio PróUrbano que deverá acontecer neste semestre.
A revisão de cláusulas contratuais, a cada cinco anos, está prevista no contrato de concessão assinado em 2012, durante a gestão da então prefeita Dárcy Vera (sem partido), com mediação do Ministério Público Estadual (MPE). Defensor de diversas alterações no acordo, o vereador Marcos Papa (Rede), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte na Câmara, há meses tem cobrado publicamente essa repactuação.
Papa já enviou ofício ao prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) afirmando que o sistema de transporte coletivo da cidade é ruim e incompatível com o valor cobrado pela passagem de ônibus – em setembro subiu 6,33%, de R$ 3,95 para R$ 4,20, acréscimo de R$ 0,25 – e apontando que várias cláusulas precisam ser revistas. Entre elas está a que estabelece o PróUrbano como administrador do telefone 0800 para recebimento de críticas dos usuários do transporte público.
Levantamento feito pelo parlamentar revela que, em 2018, os usuários do transporte público registraram 3.771 reclamações ao sistema, através do telefone 0800, controlado pelo PróUrbano. As reclamações vão desde ônibus lotados e atrasados até motoristas que não param no ponto, assédio e plataformas para deficientes quebradas. Dados do consórcio revelam que 150 mil passageiros utilizam diariamente o transporte coletivo. O grupo é formado pelas empresas Rápido D`Oeste (40%), Transcorp (30%) e Turb (30%). Atualmente, opera 119 linhas com 356 veículos.
Para Papa, uma das cláusulas contratuais que precisam ser alteradas é a que trata do gerenciamento do 0800 – a fim de que a central de atendimento passe a ser controlada pela Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp). A audiência acontece a partir das 18 horas, na sede do Legislativo, na avenida Jerônimo Gonçalves nº 1.200, Vila República, e terá a participação de representante do MPE e de especialista do setor e é aberta ao público.
Dívida de R$ 7,3 milhões
A dívida da taxa de gerenciamento do transporte coletivo que o Consórcio PróUrbano tem com a prefeitura de Ribeirão Preto já totaliza R$ 7,3 milhões. O repasse consta no contrato de concessão assinado em maio de 2012 e prevê o pagamento de 2% ao mês do valor arrecadado com as passagens de ônibus, cerca de R$ 200 mil por mês. Desde abril de 2016, por força de decisão judicial em caráter liminar favorável ao grupo, o pagamento está suspenso. Em 2017, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou pedido da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp) para suspender liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) que afastou a exigência da taxa de gerenciamento e fiscalização do serviço executado pelo PróUrbano. A decisão do colegiado foi unânime.
A concessão da liminar pelo TJ/SP atendeu a pedido do grupo concessionário. O consórcio alega que o município, por meio da Transerp, cobra irregularmente 2% sobre o seu faturamento mensal a título de taxa de gerenciamento e fiscalização. Na época, segundo o superintendente Antonio Carlos de Oliveira Junior, desde abril de 2016, quando conseguiu a decisão judicial favorável, o PróUrbano deixou de pagar a taxa prevista no contrato. Diz que estava sendo tributado em duplicidade por já recolher o Imposto Sobre Serviços (ISS).
Oliveira Júnior destacou que a taxa de gerenciamento consta de uma cláusula do contrato de concessão – a verba é para remunerar os serviços de fiscalização do cumprimento do contrato (fiscais e funcionários do Centro de Operações). O grupo diz que se obteve a liminar é porque está com a razão. A Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos recorreu ao STJ sob o argumento de que o pagamento seria imprescindível por ser a única fonte de receita para o custeio operacional da Transerp.
Além disso, segundo o município, a taxa paga pela concessionária já compõe o valor da passagem cobrada do usuário do transporte coletivo. O Consórcio PróUrbano também argumenta que a administração da ex-prefeita Dárcy Vera (sem partido) não estava pagando parte do subsídio da gratuidade do transporte coletivo para os estudantes. Ribeirão Preto tem 13.061 estudantes de escolas públicas cadastrados com direito à gratuidade e, segundo a prefeitura, atualmente este repasse está regularizado. Em recente depoimento na Câmara de Vereadores, o superintendente da Transerp afirmou que a empresa aguarda a decisão final do STJ sobre o assunto.