Edwaldo Arantes *
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A Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto é um acontecimento de suma importância que se transformou em uma tradição de importância ímpar, pois tem como foco principal o livro e a leitura, palco da participação de escritores do Brasil e do exterior, além da força dos escritores locais e regionais.
Um destaque especial, sobre uma entidade sem quaisquer tipos de elogios e destaques, que são apenas redundâncias que é a eterna UBE – União Brasileira de Escritores. “A UBE foi criada em 17 de janeiro de 1958, sucedendo à Sociedade dos Escritores Brasileiros, primeira associação profissional de escritores, fundada em 14 de março de 1942 por Mário de Andrade e Sérgio Milliet”
Nomes como Sérgio Buarque de Holanda já presidiram a entidade, bem como o brilhante, talentoso, de uma reputação, dignidade e um caráter marcante, Joaquim Botelho, que a presidiu em duas gestões e a quem devo muito.
Naquela época eu presidia o Instituto do Livro de Ribeirão Preto e formamos uma parceria pontual e intensa com a entidade, nomes como: Deonísio da Silva, Joaquim Botelho, Fernando Morais, Marcelo Nocelli, Menalton Braff, Luiz Avelima, Frei Beto, José Fernando Chiavenato, Sérgio Roxo, Mozer Benedito, os saudosos, Audálio Dantas e Levi Bucalem Ferrari e tantos e tantos outros.
Na véspera da feira, nos encontramos no Pinguim com toda a turma, saudades, papos e estratégias. Em um momento o Audálio com aquela fineza e cordialidade, aproximou-se do meu ouvido e falou:
– Edwaldo, tenho que receber insulina todos os dias, não aplico pessoalmente de jeito nenhum, tenho pavor, minha esposa quem o faz, só que ela não está aqui, o que me deixa triste em todos os sentidos.
Respondi, fique muito tranquilo que vamos resolver, no exato momento adentra o restaurante o Dr. Pedro Palocci, destacado médico e presidente do Hospital São Lucas.
Ao ver-nos foi direto até a nossa mesa, sua esposa a Professora Doutora Helianna Palocci era a vice-presidente da feira e estava em uma mesa próxima com toda a diretoria.
O Doutor cumprimentou todos, trocamos meia dúzia de palavras, quando pedi para falar com ele, expliquei a questão do Audálio ele prestativo e atencioso, na hora fez uma ligação para uns dos seus diretores, desligou o aparelho e assim falou comigo:
– Edwaldo, amanhã no horário que vocês quiserem procurem o Dr. Tal, vai estar esperando.
Acordo e sempre acordei muito cedo, mas o Audálio ganhou, às seis rumamos para o hospital, ao chegarmos parecia “noite do Oscar”, no caso “manhã”.
Um séquito de homens e mulheres de branco, entre sorrisos, abraços e autógrafos, Audálio totalmente perdido e morto de vergonha, fomos levados a uma sala e o Dr. realizou o procedimento.
Durante toda a estada do Audálio Dantas em Ribeirão, pontualmente chegávamos ao Hospital São Lucas, às seis da manhã, com a mesma recepção de “gala” do primeiro dia.
Deixava o “monstro sagrado” no “Hotel Monreale” pertinho da feira e rumava para o labor.
Neste mesmo dia, lá pelas 11hrs30min, recebi uma ligação do Audálio, tentando explicar afoito:
– Edwaldo, meu irmão. Estou aqui na porta te esperando, não consigo entrar, porque me pediram um tal de ‘ticket’ para almoçar, não sei o que é isso…”. Todos os escritores almoçavam e jantavam no Pinguim, por meio do patrocínio e apoio do empresário e amigo querido, Paulo Ferreira, no caso do Audálio deve ter havido um contratempo e ele não recebeu o “ticket”.
Cheguei e ele com um sorriso agradecido e aliviado, entramos, pediu uma Salinas para abrir o apetite, depois outra, chopp e degustou uma suculenta e farta feijoada, tradicionalíssima do local.
“Ou o dia em que Audálio Dantas quase ficou sem almoçar em Ribeirão Não era possível! O pobre faminto escritor, com mais de 85 anos, na porta do Pinguim, em plena Feira do Livro, era ninguém menos que Audálio Dantas”… “Eduardo Batista”, “Confessionário “Tribuna Ribeirão”…
* Agente cultural