Por Guilherme Sobota
Em um depoimento publicado pela revista Cláudia, a atriz Juliana Lohmann, de 30 anos, revela em detalhes como sofreu um abuso sexual “por um famoso que dirigia seu primeiro longa”. “Exponho esse relato no intuito de que outras mulheres possam ler, talvez se identificar, e refletir sobre suas existências e seus relacionamentos. E, falando sobre o meu ofício: nós, atrizes, que trabalhamos com a exposição de nossos corpos, precisamos ser protegidas e respeitadas de fato. Não pode mais haver espaço para que sejamos assediadas por diretores, atores, produtores, ou qualquer homem que esteja em uma situação de poder maior que a nossa, seja pela desigualdade estrutural de gênero ou pela posição hierárquica que habita”, escreveu a atriz.
A atriz, que começou na televisão como uma personagem infantil em Malhação aos 11 anos, voltou à novela teen da Globo em 2011, aos 22 anos, como a personagem Débora, filha da personagem interpretada por Letícia Spiller. O relato da atriz guarda muitas semelhanças com os primeiros depoimentos do movimento americano #MeToo, que expôs diversos predadores sexuais na indústria do entretenimento dos EUA.
No relato publicado no dia 13, a atriz conta que, há 12, foi chamada para uma conversa com o diretor sobre um papel em um longa-metragem. “Passei a madrugada estudando a personagem, cheguei com a cabeça cheia de ideias e perguntas. Me instalei no quarto do hotel e, em seguida, a convite dele, nos encontramos em seu apart, no último andar desse mesmo hotel, pra conversarmos um pouco sobre o roteiro enquanto esperávamos um sinal dos produtores para a realização do teste.”
O então diretor, segundo o depoimento da atriz, começou a fazer movimentos que ela considerou inadequados, e em seguida sugeriu que ambos usassem maconha. Depois, ele tentou beijá-la e a atriz disse não. “Foi uma completa surpresa acreditar que aquele homem, com sua boa imagem midiática de família margarina, pudesse se aventurar com outras mulheres.”
Ela relata então seu nervosismo e diz que as investidas, agora já físicas, foram escalando em violência. “Eu fui tentando respirar e acalmar o pânico do pensamento de que eu estava a centenas de quilômetros de casa. Entendi que não tinha saída. Fiquei quieta. Fiz o que ele queria. Tive que insistir muito pra ele pelo menos colocar a camisinha, o que fez somente depois de algum tempo de penetração”, escreve. Lohmann diz, porém, que ele retirou o preservativo antes de ejacular dentro dela. O estupro voltou a acontecer na manhã seguinte, de acordo com a atriz.
Ela também conta que silenciou sobre o assunto por se sentir pressionada socialmente e profissionalmente, e disse que a culpa pelo ocorrido a acompanhou nos últimos 12 anos. Lohmann também relata um relacionamento posterior, abusivo, e conta como a experiência da violência sexual influenciou suas decisões.
“Este diretor usou de sua posição de poder, não só por ser um homem branco muito mais velho, mas principalmente por ser o diretor do filme, responsável por decidir se eu trabalharia ali ou não. Eu, uma atriz de dezoito anos recém-feitos e que ainda começava a entender como me posicionar profissionalmente sem minha mãe por perto. Ele me enganou, me drogou e me estuprou, violando minha dignidade sexual e deixando marcas que carregarei pro resto da vida”, disse.
O intuito é divulgar seu relato para que outras mulheres em situações similares se inspirem para buscar ajuda. “É preciso que falemos sobre as estruturas e relações de poder às quais todas as mulheres, em diferentes formas e intensidades, estão invariavelmente submetidas.”
Recentemente, a atriz Júlia Konrad também compartilhou relatos de abusos conjugais que sofreu no passado.