A primeira Surdolimpíada da América Latina será realizada no Brasil, na cidade de Caxias, Rio Grande do Sul. Serão 6.100 atletas com deficiência auditiva, representando mais de cem países. Um privilégio para muitos, mas uma nova barreira para grande parte desses talentos.
Fernanda, 24 anos, é artilheira no handebol. Felipe, 31 anos, é destaque no basquete. São irmãos, nasceram e moram em Ribeirão Preto. Os dois conquistaram vaga para as seleções brasileiras, mas precisam pagar a viagem e os gastos nos dias da competição, que acontece de 1º a 15 de maio. A Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS) pagará hospedagem e alimentação e diz não ter recursos para todos os investimentos. Assim, os atletas ficam responsáveis pelo transporte, taxa de inscrição e demais gastos pessoais, com uma despesa mínima, cada um, de pelo menos R$ 3.500,00.
Esta semana, houve reunião com a Secretaria Municipal de Esportes de Ribeirão, que manifestou interesse em apoiar com o Bolsa Atleta. Mas nada foi confirmado.
Felipe ressalta que não é fácil chegar até a seleção e que as dificuldades para quase tudo impõem outra tarefa de gigantes, que é vencer os adversários dentro da modalidade.
“Os jogadores de países da Europa, por exemplo, são praticamente profissionais que participam de liga, com estrutura para treinamentos e sendo remunerados. Nosso maior problema está fora das quadras, pois temos família, eu tenho dois filhos e preciso trabalhar, porque não há patrocínio. Praticamente ninguém reconhece a nossa capacidade no esporte”, explica, em tom de desabafo.
Fernanda atua no Handebol Ribeirão/Barão de Mauá (Faculdade Barão de Mauá) que tem incentivo por representá-los, entre atletas ouvintes (sem surdez). Ela é um dos maiores talentos da equipe nacional, foi artilheira do último Campeonato Mundial para Surdos, também na cidade de Caxias, com 45 gols.
O Brasil conquistou a medalha de bronze, jogando contra Rússia, Turquia, Dinamarca e Equador. Ela e o irmão são duas estrelas do esporte, atividade que também reflete as duras condições do dia a dia para milhões de outros brasileiros e brasileiras.
O esporte para pessoas com surdez não é considerado paralímpico. A razão é simples: não há necessidade de adaptações das regras nas modalidades, somente a troca do sinal sonoro, do apito, por bandeiras para o árbitro. Já nos esportes paralímpicos há uma série de adaptações e condições para o atleta.