O programa “Uma nova chance”, do Bosque e Zoológico Municipal Doutor Fábio de Sá Barreto, em Ribeirão Preto recebe, por ano, 800 animais silvestres vítimas, principalmente, de ações humanas. A proposta é resgatar, tratar e reinserir esses animais na natureza, o que ocorre com 60% dos atendidos. Diariamente, o zoo atende três bichos para tratamento em seu hospital veterinário, mas no último trimestre do ano – de outubro a dezembro –, esta quantidade triplica.
“Nos últimos três meses do ano, por ser período de reprodução, recebemos até nove animais por dia, chegam muitos filhotes. Mas como já somos referência na região, a cada dia esse número aumenta.”, explica médico veterinário do Bosque Fábio Barreto, César Branco. “Após o resgate, fazemos os tratamentos clínicos ou cirúrgicos e avaliamos a possibilidade de voltarem para a natureza”, diz.
“Quando é possível, encaminhamos para a soltura monitorada, que entre um a seis meses observa esses animais e constata se conseguirão sobreviver em vida livre, sem o contato humano”, emenda o médico veterinário. Os animais que não sobreviveriam na natureza, pela gravidade das sequelas, ou os que estão acostumados com os seres humanos, são destinados a programas de reprodução, principalmente os ameaçados em extinção.
O zoo abriga 45 espécies de animais ameaçadas de extinção – onze são nativas, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e 34 exóticas, de acordo com levantamentos feitos pelo Estado de São Paulo no ano passado. “Como os ferimentos costumam ser muito graves, alguns animais vão a óbito e outros, com certeza, não sobreviveriam em vida livre, então eles ficam no Bosque Municipal ou são encaminhados para outras instituições, onde são destinados a reproduções e, então, seus filhotes são levados para a natureza”, diz César Branco.
É o caso de um filhote de anta, solto em 2017, com então dois anos. Os pais participam do programa de reprodução enquanto suas crias são encaminhadas para a soltura monitorada. Sendo a espécie ameaçada de extinção no território nacional, a introdução desses animais na natureza possibilita a preservação da espécie. “Um dos animais que participaram do ‘Nova chance’ e nos marcou foi um papagaio fêmea. Três foram levados para Santa Catarina para um processo de reabilitação. Os animais não conseguiam reproduzir, mas uma das fêmeas, além de reproduzir, foi solta na natureza”, relembra com entusiasmo o médico veterinário. Hoje, eles vivem no Parque Nacional das Araucárias.
Animais silvestres também sofrem pelos maus-tratos de humanos. É o caso de uma jiboia que teve a mandíbula fraturada e deslocada, possivelmente por uma paulada no crânio. “Como esse réptil pode ficar até três meses sem se alimentar, nós apenas colocamos a mandíbula no lugar, enfaixamos, fazemos os curativos regularmente e a alimentamos com soro”, explica o médico.
Os animais, quando soltos em vida livre após o período de avaliação, são monitorados por câmeras ou rádio colar quando reintroduzidos na natureza. Mesmo se saírem das reservas ecológicas para seu habitat natural ainda são observados pelos equipamentos que, de acordo com o veterinário, caem “naturalmente em até dois anos”.
Um acidente resultou na fratura de três patas de uma filhote de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) de apenas três meses de idade. “Ela foi atropelada por uma colheitadeira de cana-de-açúcar em Batatais. Encaminharam-na para o hospital do Bosque de Ribeirão Preto aqui vimos que as duas perninhas traseiras e uma dianteira estavam fraturadas”, conta César Branco.
Desde novembro, o animal está sendo tratado no zoo e já passou por cinco cirurgias nos membros posteriores para tentativas de reconstituição da parte óssea e muscular “destruídas” no atropelamento pela colheitadeira de cana, mas ainda é cedo para confirmar se o prognóstico será favorável ou não e se ela terá possibilidade de reintrodução.
Mesmo com todo o cuidado e melhora significativa, a possibilidade de voltar a viver nas matas é incerta. “A gente não colocou nem nome nela para não nos apegarmos, já que ela deve ser tratada e levada para a soltura monitorada. Mas pela gravidade dos ferimentos, talvez não seja possível” disse o veterinário.
O Bosque Municipal Fábio Barreto abriga 156 espécies, num total de 830 animais, e recebe cerca de 25 mil pessoas por mês. A entrada é franca. Está localizado no Parque Municipal Morro do São Bento, um espaço de lazer com 250.880 metros quadrados de muita área verde com Jardim Japonês, lagos, flores, quiosques, pontes, alamedas para caminhadas e um mirante de 45 metros de altura.
O zoo tem 288 peixes de 33 espécies, 233 répteis de 25 espécies, 193 aves de 65 espécies e 119 mamíferos de 33 espécies. Os destaques são os elefantes asiáticos Mayson e Bambi, o urso de óculos Renan, as onças pintadas Lilica e Spyke, as suçuaranas Tito e Tite, os leões Simba e Zeus, a anta brasileira Giovane, o macaco aranha Maya e o mandril Prince, conhecido como Teco. O bosque, criado em 1937, tem 138 recintos para os animais. O local funciona de quarta a domingo, das nove às 16h30. Fica na rua Liberdade s/nº, no bairro Campos Elíseos. Agendamentos escolares e mais informações podem ser solicitadas pelos telefones (16) 3636-2283 e 3636-2513.