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Até tu, Brutus?

Não são apenas os meros mortais que podem entrar na mira da polícia ou da Justiça por causa de vazamen­to de dados. Nos últimos dias, a notícia de que até o presidente do Brasil terá que explicar porque expôs um inquérito mantido sob segredo nas redes sociais, durante uma live.

A Polícia Federal intimou o presidente Jair Bolsona­ro a depor no inquérito que investiga o vazamento de documentos sigilosos, que ainda fazem parte de uma investigação. O fato ocorreu em 4 de agosto, quando Bolsonaro divulgou nas redes sociais a íntegra de um inquérito da Polícia Federal que apura suposto ataque ao sistema interno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 – e que, conforme o próprio tribunal, não represen­tou qualquer risco às eleições.

A grande polêmica ocorre porque o inquérito divul­gado pelo presidente ainda não foi concluído pela PF. Por lei, o servidor público tem obrigação de proteger infor­mações sigilosas. O presidente também se enquadra no quesito “servidor”.

É claro que depois da live do presidente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a abertura do inquérito para investigar o vazamento das informações, que são sigilosas. A decisão atendeu a um pedido feito pelo próprio TSE. O ministro também determinou a remoção dos links disponibili­zados por Bolsonaro com a íntegra da investigação e o afastamento do delegado da PF que era responsável por esse inquérito.

Na transmissão que aconteceu em agosto, foi divulga­do o inquérito da PF sobre o suposto ataque aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral. As informações da apu­ração teriam sido distorcidas e tratadas como definitivas, mesmo sem a conclusão do inquérito pela polícia. Em seguida, Jair Bolsonaro publicou em rede social a íntegra do inquérito, que até então estava em sigilo. Horas depois da transmissão, o TSE divulgou resposta para esclarecer que o acesso indevido aos sistemas da corte não repre­sentou qualquer risco à integridade das eleições de 2018.

O caso deste vazamento, feito pela pessoa que ocupa o cargo mais importante do País, expõe algo que é rotina no País: a facilidade para se conseguir dados classifica­dos como sigilosos. Hoje, é muito fácil você encontrar qualquer tipo de informação, seja em ações para ganhar visibilidade (como foi o caso do presidente) ou mesmo dinheiro (o que criminosos buscam vendendo dados de pessoas físicas ou empresas).

O ano de 2021 foi marcado pela explosão de casos de vazamentos e também pela efetivação da aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), já com a cobrança de multas milionárias em caso de desrespeito.

Porém, com a grande mudança que a sociedade passa por causa da pandemia, com um ‘boom’ de serviços pela internet, os dados ficaram mais expostos e muita gente se aproveitou.

Informações divulgadas pela CNN nos últimos dias mostram que os ataques cibernéticos cresceram 92% no País. Diante de um quadro tão instável, o melhor cami­nho é a adoção das medidas que garantam a proteção de dados dentro do que é exigido pela lei. Se até o presiden­te terá que dar explicação, o que será de nós?

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