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Assis, o sambista Valente

Nascido no interior da Bahia e no seio de uma família miserável, filho de um pai desconhecido, segundo relatos da meia-irmã e do que consta na certidão de nascimento, Assis Valente enfrentou muitas dificuldades para sobreviver e se tornar um grande compositor na década de 1930.

Aos seis anos foi raptado por um certo Laurindo que, achando injusto um menino tão perspicaz viver em extrema pobreza, pediu para que a família Canna Brasil o criasse. Entretanto, a família foi para o Rio de Janeiro e abandonou o menino, que passou a viver em um hospital na Bahia como lavador de frascos da farmácia.

No final dos anos 1920, Assis realizou o sonho de todo menino do interior do Brasil, foi para o Rio de Janeiro e se empregou como auxiliar protético e, em pouco tempo, mon­tava consultório próprio e desenhava para as revistas Shimmy e Fon-Fon, aproximando-se do meio artístico.

Em 1932 conheceu o sambista e artista plástico Heitor dos Prazeres, que ouvindo suas músicas o incentivou a compor. No mesmo ano, Aracy Cortes, uma das mais famosas can­toras do Teatro de Revista, gravou a sua primeira música de sucesso “Tem francesa no morro”.

A década de 1930 foi o período de glória do compositor, a partir da amizade com Carmem Miranda e o Bando da Lua, que faziam grande sucesso e passaram a gravar suas músicas, tais como “Etc”, “Uva de caminhão”, “Good Bye Boy” e “Brasil pandeiro”.

Essa última exaltava o povo brasileiro, dizendo assim: “Che­gou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Eu fui à Penha, fui pedir à padroeira para me ajudar. Salve o Morro do Vintém, Pendura a Saia eu quero ver. Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar. Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar”.

Dentre os sambas mais famosos do compositor, podemos afirmar com toda a certeza que “Camisa listrada”, gravado em 1939 por Carmem Miranda, antes de embarcar para os Estados Unidos, foi o de maior sucesso no carnaval daquele ano. Em dezembro de 1939, o sambista se casou com Nadyle, mas não foi feliz, pois o casamento só durara dois anos.

A partir da década de 1940, após a perda da intérprete e do conjunto vocal favoritos que foram para os Estados Unidos, suas músicas caíram no esquecimento. Atolado em dívidas e inseguro quanto ao seu futuro, tentou o suicídio pulando do Corcovado, entretanto, foi salvo por uma árvore que impediu a sua queda. Esforçou-se para recuperar a carreira compondo baiões, ranchei­ras, guarânias – que eram moda na época –, mas não conseguiu progressão e continuou vendendo alguns sambas para sobreviver.

Ao entrar em depressão, no início da década de 1950, pro­curou mais uma vez a morte, desta vez cortando os pulsos, sem conseguir o intento. Foi se afastando de todos aos poucos e, exatamente às 17h55, oito dias antes de completar 47 anos, em um banco da Praia do Russel, junto de um playground onde as crianças brincavam, tomou cianureto com guaraná.

Em seus bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco cruzeiros. Na carta esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado, e fazia um apelo público para que comprassem seu novo disco “La­mento”. Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências, acrescentando a seguinte frase: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudades de todos, e de tudo”.

Assis, você sempre foi um sambista valente, lutando contra to­das as adversidades que a vida colocou em seu caminho. Compôs músicas maravilhosas em todos os gêneros e deixou seu nome na história da música popular brasileira.

Salve o nosso Assis, o sambista valente!

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