Edwaldo Arantes *
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Sempre surgem devaneios e sonhos sobre os mistérios, incógnitas, enigmas e os transtornos daqueles que se atrevem a colocar em uma folha ou teclar, pensamentos, opiniões, verdades, mentiras e todas as idiossincrasias, disposições e condições que nos levam a tentar pensar palavras, compor frases e organizá-las formando textos.
Dedicar-se a introdução, desenvolvimento e conclusão sobre situações e ideias que nem mesmo sabemos de onde surgiram e os motivos da sua existência.
Exercício de futurologia ou talvez irresponsabilidade mesmo, colocando em risco a mente ou o destino de quem se interessar em lê-los.
Quando me referi ao termo irresponsabilidade, minha opinião é o instante de mentiras, boatos, intrigas, calúnias, injúrias e difamações de um mundo para mim um tanto distante e desinteressante, denominado virtual e uma definição em inglês, denominada “Fake news”.
Notícias nunca deveriam ser falsas, pois estão intimamente comprometidas com a verdade, lisura e justiça e a procura do bem comum, ou seja, o bem de todos.
Esta arte ou artimanha do embuste, do enganar, ou ludibriar, nunca deveria estar solta no mundo como ratos nos bueiros, larápios das esquinas, golpistas, milicianos e fascistas ungidos à Presidência e mentores de ilegalidades.
Ignoram sobre a origem das mentiras, mesmo com a inexistência da Internet, como quando o engenheiro Leonel de Moura Brizola, tendo como vice o candidato Darcy Ribeiro, concorreu ao cargo de governador do Estado do Rio de Janeiro.
Na apuração, a famigerada empresa Proconsult mentia sobre os resultados, tendo como comparsa uma emissora de comunicação que dominava a informação e uma audiência recorde de norte a sul do país, levava ao ar os boletins com os números invertidos numa tentativa de ludibriar os eleitores.
Um conglomerado, porta voz do sistema, f
ake daqueles tempos, pertencente a uma família intimamente ligada com a Ditadura Militar, que tentava de uma maneira suja e golpista, eleger seu candidato que foi duramente surrado pelas urnas e a vontade popular.
Foram diversos outros fatos e ações, como o debate entre Lula e Collor, então candidatos a Presidente, onde a antiga e pioneira emissora, fake news, manipulava a realidade em uma montagem absurda e covarde, colocando o vencedor como derrotado, em histórico momento da primeira eleição ao Executivo Federal, depois da ditadura.
Embora tantos desatinos, foram também muitos e bons momentos marcantes das “news“, me lembro com saudades de abrir os matutinos e ler articulistas como Carlos Drummond de Andrade, Flávio Rangel, Cecília Meirelles, Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Artur da Távola, Guimarães Rosa, João Saldanha, Rubem Braga, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e tantos outros gênios.
Em 1977 viemos para Ribeirão Preto, um ano memorável, dentre tantos acontecimentos, foi lançado o saudoso “Folhetim” pelo irreverente e talentoso jornalista, Tarso de Castro.
Algumas palavras foram determinantes nas edições do encarte, que nos faziam ávidos corrermos às bancas do Centro: Jornalismo cultural, imprensa alternativa, democracia, ensaio e história, além de uma verve poética. As capas sempre traziam uma personalidade, em uma delas que nunca mais esqueci, possuía um fundo escuro e a foto do Geraldo Vandré.
O Suplemento Literário do jornal “O Estado de São Paulo”, que tinha como redatores e responsáveis, Antônio Cândido e Décio de Almeida Prado. O Suplemento era constituído por sessões fixas e artigos livres, contos, poemas, ilustrações e entrevistas distribuídas entre dois setores: literário e artístico.
O jornal “O Globo” só era vendido na “Agência São Paulo”, ao lado do Café Única, Rua São Sebastião, com seu esperado Caderno Prosa & Verso.
Na esquina das Ruas General Osório com Barão do Amazonas ficava a Choperia Giovanetti, descendo até a Álvares Cabral, o Pinguim I, lugares mágicos onde eu degustava páginas por páginas os encantos dos manuscritos.
Muitos Chopinhos com colarinhos longos foram absorvidos na Via Sacra entre o Giovannetti e o Pinguim I, portando os periódicos debaixo dos braços, uma vontade de devorá-los munido de uma sede de anteontem.
Hoje não existem mais matutinos e domingos literários, parece que as páginas ao sabor do vento voaram, deixando em seu lugar computadores e celulares.
Não vejo mais o Giovannetti e muito menos o Pinguim I, poucas bancas ainda são vistas.
Resistem bravamente com competência, talento, e trabalho, exalando o cheiro de tinta e o movimento do manuseio dos dedos, o “Tribuna Ribeirão” e o “Jornal da Vila”, onde antes circulavam “Diário da Manhã”, “A Cidade”, “Diário de Notícias”, “O Diário”, “Gazeta” e outras publicações e folhetos poéticos e literários, vendidos pelos autores independentes sob a lua nas mesas dos bares.
Com aperto no peito, nostalgias e dores do tempo, lembrei-me do poeta, escritor, músico e compositor, Francisco Buarque de Hollanda, em uma das frases de sua brilhante obra.
“A dor da gente não sai no jornal”.
* Agente cultural