O juiz aposentado João Agnaldo Donizeti Gandini é um dos pré-candidatos a prefeitura de Ribeirão Preto nas eleições do próximo ano. Oposição ao atual governo, ele já disputou duas eleições para prefeito de Ribeirão Preto e ficou em terceiro lugar em ambas.
Idealizador e coordenador geral do Projeto de desfavelamento Moradia Legal na região do bairro Monte Alegre, projeto pelo qual recebeu o prêmio nacional Innovare, em 2008, Gandini assumiu este ano a coordenação regional do Partido da Social Democracia (PSD). A missão é reorganizar a legenda na cidade e na região depois da administração da ex-prefeita Dárcy Vera e da Operação Sevandija. Antes integrava o Partido Humanista da Solidariedade (PHS)
Em entrevista ao Tribuna, o juiz afirma que as pessoas lhe pedem com carinho que se candidate novamente. “Elas se sentem traídas pelos que venceram as eleições municipais, com muitas promessas e quase nenhuma realização”, diz.
Tribuna Ribeirão – Por que o senhor mudou de partido e ingressou no Partido Social Democrático do ex-ministro Gilberto Kassab?
Gandini – Estamos num momento de transição em termos partidários. O Partido Humanista da Solidariedade (PHS), pelo qual disputei as últimas eleições para deputado estadual, não passou na cláusula de barreira e deve ser incorporado por outra sigla. Aceitei o convite para ingressar no PSD porque se trata de um partido de centro, que dialoga com todas as correntes políticas, com grande bancada de senadores e deputados, com boa estrutura partidária em todo o país e que, portanto, poderá ajudar mais a cidade de Ribeirão Preto e a região.
Em Ribeirão Preto, vários membros do PSD que governaram a cidade nos últimos anos são acusados – e alguns já condenados – por corrupção. Isso não desgasta a imagem do partido?
Gandini – Estamos assumindo o partido e organizando a Comissão Executiva, composta por pessoas da mais alta respeitabilidade. Precisamos olhar para a frente. O partido tem bons projetos para Ribeirão e região.
O senhor coordena a legenda na região de Ribeirão Preto. O que planeja fazer?
Gandini – O partido está se organizando organicamente e irá lançar candidatura ao cargo de prefeito nas eleições do próximo ano e também uma excelente chapa de candidatos a vereador, não só em Ribeirão, mas em muitas cidades da região.
O que o levou a colocar seu nome como pré-candidato a prefeito nas próximas eleições municipais?
Gandini – Disputei as duas últimas eleições para prefeito e tive expressiva votação, ficando, em ambas, em terceiro lugar. Assim, meu nome é lembrado sempre para a disputa em 2020 e as pessoas me pedem com carinho que me candidate novamente, pois se sentem traídas pelos que venceram as eleições, com muitas promessas e quase nenhuma realização.
Na eleição majoritária existe possibilidade de coligação com outros partidos?
Gandini – As coligações foram proibidas nas eleições proporcionais, vereadores, mas estão permitidas para a eleição majoritária, prefeito e vice-prefeito. É natural, portanto, que essa coligação ocorra e que abranja partidos que estejam alinhados com um projeto de cidade. Ribeirão precisa voltar a ter esperança e retomar seu desenvolvimento, com mais empregos, mais empreendedorismo, melhores condições de vida e reencontrar sua vocação de cidade que sempre deu bons exemplos para todo o país. Há muitas pessoas de partidos diferentes, buscando isso. É natural, então, que se aproximem e lutem juntas.
Em sua avaliação quais são os principais problemas de Ribeirão Preto?
Gandini – Infelizmente Ribeirão não tem tido sorte com seus administradores. Os problemas crônicos continuam presentes e pouco se faz para enfrentá-los e resolvê-los. Continuamos com problemas na saúde, com falta de médicos e remédios, e com demora no agendamento de consultas e realização de exames. Faltam professores nas escolas e nenhuma vaga de creche foi disponibilizada em quase três anos desta administração. A questão habitacional é muito preocupante, pois, depois do Projeto Moradia Legal, que eu idealizei e coordenei, e que construiu mais de três mil casas e apartamentos para atender as pessoas de mais baixa renda, quase nada se fez. As ocupações de terrenos públicos aumentaram e hoje já são perto de cem.
Como o senhor analisa a atual Administração Municipal?
Gandini – Eu gostaria de poder elogiar porque isso significaria que a minha cidade vai bem. Infelizmente, não é o que acontece. Trata-se de uma administração que não dialoga com ninguém e até aqui não trouxe nada de novo. O pouco que está mostrando é herança de governos passados. O que foi prometido em campanha, até mesmo como coisa certa que eram os Ambulatórios Médicos de Especialidades, não serão entregues. A população de classe média e de menor renda, sobretudo, não viu e não vê melhoras. Os problemas que essas pessoas enfrentavam antes na saúde, educação e infra-estrutura, elas continuam enfrentando agora. Essa administração é pródiga em números, mas indigente em realizações.
As pessoas mais simples e de menor renda – e que são as que mais precisam do poder público – estão à beira do desespero. Afinal, quase cinqüenta mil dessas pessoas continuam morando em comunidades irregulares, sem atendimento médico adequado, sem ter como colocar seus filhos em creches, sentem a falta de professores em sala de aula etc. Sem contar as questões relacionadas com moradores de rua, políticas (inexistentes) de combate ao uso abusivo de álcool e drogas, a questão da violência sexual contra menores etc.
E no que a Administração Municipal acertou?
Gandini – Ela está tirando do papel as obras de mobilidade urbana, todas projetadas no governo Darcy (de triste lembrança), e com dinheiro disponível desde então, mas que foram deixadas para o final do governo com fins evidentemente eleitoreiros, já que o prefeito, como todos sabem, é candidato à reeleição. É um dos poucos pontos positivos.
Qual a sua avaliação da atual Câmara de Vereadores?
Gandini – Vejo alguns vereadores muito preocupados com projetos sociais interessantes e agindo, nas comissões e nas votações, com muita responsabilidade. Outros, todavia, seguem as orientações do prefeito e votam a toque de caixa todos os projetos do Executivo, sem que haja tempo para melhor reflexão e consultas à população. A conta, é certo, virá no futuro.