Perci Guzzo *
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Fui passear em São Paulo, voltei com Covid. Fui passear em São João – del-Rei, peguei dengue. Fui viajar para São Luís – do Maranhão, voltei zikado. Quando eu for a São José – dos Campos, ficarei maculoso e amarelo. O que me espera em Vitória de Santo Antão?
Surtos epidêmicos, surtos depressivos, sequelas de covid longa, estresses, entorses, alucinações, dispneias, cirurgias, coceiras, manchas, máculas etc. etc. etc. Estamos mais doentes do que nunca. Estamos cada vez mais febris, cansados/as e tristes, inequivocamente. Uma multidão de brasileiros/as lota hospitais e unidades básicas de saúde país afora todos os dias.
As razões desse quadro coletivo de doenças são várias, são óbvias e é importante explicitá-las. Primeiramente, o corre-corre da vida contemporânea brasileira nos impõe demanda de tarefas e ritmo absurdos. Costumo dizer que atualmente precisamos de duas vidas no Brasil: uma para administrar a nossa existência e a outra para viver. Outro aspecto é a interatividade excessiva com meios digitais e a consequente hiperatividade, o que nos deixa acelerados e ansiosos.
Um fator flagrante como causa de nosso mal-estar contemporâneo são os locais onde vivemos e nos amontoamos. As cidades brasileiras são insalubres – quentes, sujas, feias, fedidas e barulhentas. Cidades projetadas e geridas para o serviço e a mercadoria e não para o bem-estar de seus habitantes. Cidades desprovidas de amplos espaços de descanso, de convívio social e de interação com a natureza. Cidades cinzas: pavimentadas e iluminadas excessivamente. Áridas!
Mas a razão subjacente a todas as demais é sem dúvida a degradação da qualidade do ar, da água, do solo, da biodiversidade e o desequilíbrio climático. Aqui está o busílis! A deterioração é humana também; é óbvio. Há custo ambiental, econômico, social e geracional altíssimo nessa desarmonia já instalada. A fragilização de nossa saúde é consequência direta do empobrecimento do meio natural.
Não menos importante é a injustiça social enraizada até nossa alma. Convivemos diuturnamente com essa brutalidade. As doenças acometem em maior número e com maior gravidade pessoas excluídas de saneamento básico, de moradias dignas e de áreas de lazer. Precisam trabalhar cedo, por muitas horas, para tentar garantir um básico que é insuficiente.
Aqui entra a função e a ação do Estado. A realidade brasileira pede que os governos invistam e construam políticas públicas sociais que sejam capazes de melhorar as condições de vida das famílias mais carentes. Na á
rea da saúde, não é diferente. O governo Bolsonaro foi medonho na condução da pandemia de Covid 19 e por muito pouco não destruiu o Sistema Único de Saúde (SUS). A gestão catastrófica deixou sequelas, pois hoje somos uma sociedade mais vulnerável às doenças.
O governo Lula tem agido de modo diferente ao restabelecer o programa nacional de imunização (PNI) de modo coordenado, bem como todas as políticas de saúde pública. Se bem geridos os recursos, em breve teremos melhores indicadores e filas menores nos hospitais.
Como exemplo de que vivemos um momento mais sereno e mais humanizado no país, e isso também afeta nosso bem-estar, percebam a movimentação articulada dos setores da saúde em torno da epidemia de dengue. Somos o primeiro país a ter a vacina contra dengue no sistema público de saúde. Os casos estão aumentados devido ao calor excessivo. Já era esperado…
Acabo de sarar da dengue. É a primeira vez que contraio a doença. Eu diria que é um tipo de desidratação severa que desencadeia desconfortos e dores que nos deixam prostrados. Fiquei alguns dias jogado na cama como uma boneca. Passou. Sarou.
A principal conduta para evitar a proliferação da doença continua sendo aniquilar os criadouros. É necessário que todos estejamos imbuídos nessa tarefa. Assim, iremos sem medo a São Sebastião do Paraíso, a São Tomé das Letras, a Santo Antônio do Leverger, a São Miguel do Gostoso e à Vitória de Santo Antão.
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições