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As raízes sindicais do Dia Internacional da Mulher

Muitas pessoas consideram o 8 de Março apenas como uma data de ho­menagens às mulheres, mas, diferentemente de outros dias comemorativos, o Dia Internacional da Mulher não foi criado pelo comércio — e tem raízes históricas muito mais profundas. Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o Dia Internacional da Mulher é comemorado desde o início do século 20 e originalmente é uma data ligada ao sindicalis­mo, às lutas trabalhistas.

Os primeiros dias em homenagem à mulher ocorreram em datas varia­das. Nos Estados Unidos, o primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909, para marcar a greve das mulheres trabalhado­ras têxteis em Nova York no ano anterior. No ano seguinte, o encontro da Internacional Socialista em Copenhague declarou o primeiro Dia Interna­cional da Mulher para apoiar o direito ao voto e lutar contra a discriminação contra as mulheres no trabalho.

Durante a Primeira Guerra Mundial, grupos de mulheres organizaram manifestações pela paz em diferentes datas, mas foi sobretudo a greve das mulheres russas no último domingo de fevereiro de 1917 (ou seja, 8 de mar­ço do nosso calendário) que entrou para a história. Nesse dia, centenas de milhares de mulheres saíram às ruas para exigir “pão e paz” desencadeando uma série de eventos que culminaram com o fim da monarquia e à obtenção do direito de voto para as mulheres russas.

Apesar das convulsões socioeconômicas dos séculos XX e XXI, o fato é que um fenômeno resiste repetidamente, recompondo-se ao longo das mu­danças econômicas e sociais: a divisão sexual do trabalho. O forte progresso da presença da mulher no mundo do trabalho não levou à igualdade profis­sional. Nem foi acompanhado por uma redefinição de papéis na família.

Acho importante que discussões sobre comportamento assumam di­mensões globais e vejo com bons olhos que mulheres e homens de todos os países entrem cada vez mais na luta por mudanças. Mas não consigo deixar de pensar que a raiz do problema é bem mais profunda que comportamen­tos. A raiz é econômica e política. A raiz é o próprio sistema vigente que precisa ser substituído por algo mais avançado e justo.

É importante debatermos também a distribuição desigual do trabalho doméstico e familiar. Enquanto o homem, na maioria das vezes, prossegue a sua carreira, a mulher, pela sua dupla jornada, é levada a deixá-la de lado, a trabalhar em tempo parcial ou a retirar-se do mercado de trabalho.

Não é só o abuso da diferença entre os sexos no mercado de trabalho. A este absurdo soma-se a distribuição injusta do trabalho doméstico e familiar – limpar, cozinhar, lavar roupa, cuidar dos filhos – que permanece larga­mente na sombra em relação ao trabalho remunerado.

Devemos questionar porque o PIB não contabiliza esse trabalho da mulher. Ao deixar de dar visibilidade ao trabalho doméstico e familiar, o sistema político-econômico tira completamente o valor que as mulheres também produzem na sociedade.

O Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis criou um Coletivo de Mulheres que tem como objetivo come­morar nossas vitórias e conquistas, fazer com que as demandas das mulhe­res servidoras sejam ouvidas e melhorar a situação das mulheres no trabalho e na vida. Nossa entidade, através das ações do nosso Coletivo de Mulheres, mostra que está comprometida com a luta pela igualdade profissional e por uma vida mais justa e melhor para todos – anseio que só pode ser totalmen­te alcançado nos marcos de um outro sistema.

Desde as primeiras manifestações sindicais que deram origem ao Dia Internacional da Mulher, em 1909, aquelas companheiras de luta já sabiam que não se cria modelos de comportamento sem discriminação dentro de um sistema econômico e político, concebido desde a sua origem para que um ser humano explore outro. Para homenagear, de fato, as mulheres e mostrar compromisso com a verdadeira igualdade, devemos lutar para que o 8 de Março volte às suas próprias origens e que os anseios de fundo que deram origem à data história e internacional sejam novamente empunhados por homens e mulheres em todo o mundo.

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