Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Não há como não se encantar com o enorme buquê de flores rosas que cobre a avenida José Adolfo Molina, nesta época do ano. Meu caminho para a academia de ginástica, costumo chegar em cima da hora, pois passo devagar pelo espetáculo único: as paineiras em flor, contrastando com o imenso céu azul de outono..
Além das flores que colorem seus galhos, o chão se cobre de delicado tapete, que oscila com o vento. É um privilégio único poder admirar tamanha obra da natureza.
Se tivermos sorte e o trânsito se tornar lento, podemos ver os inúmeros beija-flores que se esbaldam com o néctar abundante.
As paineiras são nativas do Brasil, têm um complicado nome científico e alguns detalhes que a caracterizam. Começa com o tronco verde, que faz fotossíntese quando não há folhas. Coberto de espinhos, estes vão desaparecendo com o idade. E algumas árvores engrossam parte de seu caule, formando a barriga característica.
Quando as vejo, lembro sempre do seu parente, os baobás, que a lenda conta serem as primeiras árvores criadas por Deus e que foram animadas pela escrita poética de Saint-Exupery, em seu Pequeno Príncipe. Alguns povos africanos a consideram sagrada e enterram seus reis e sacerdotes em seu tronco bojudo: fazem uma fenda, colocam o corpo e a árvore se reconstrói, incorporando o falecido.
Passar pela avenida é uma sensação de alegria, de surpresa perante o espetáculo, oferecendo um momento de tranquilidade para nossa vida corrida
As milhares de flores, depois de visitadas por pássaros e abelhas, formam grandes frutos, cheios de uma fibra característica, a paina. Branca, também espalha-se pelo vento e cai ao chão, escondendo em seu meio a semente que irá propagar a espécie.
Usava-se muito a paina para preencher travesseiros e bichos de pelúcia, antes da invenção das alternativas sintéticas de hoje.
A paineira está também presente em algumas lendas brasileiras. Uma delas diz que um senhor de escravos, temeroso de ver roubada sua riqueza de joias e moedas, ordenou a um deles que escavasse um buraco profundo para ali esconder sua fortuna.
Colocadas as joias no fundo, o senhor matou seu escravo e o enterrou no buraco, pois assim estaria preservado seu segredo.
Logo depois, uma grande paineira surgiu no local, reproduzia todos os anos as riquezas através de suas flores rosas e indicava o local do tesouro. O senhor teria tentado derrubar a árvore, mas, nunca teria conseguido.
Outra lenda está ligada às Cataratas do Iguaçu. Havia uma moça, filha do cacique que era tão linda que parava as águas do rio, quando dele se aproximava. Pela sua beleza,foi prometida ao deus dos indígenas. Porém, valente guerreiro por ela se apaixona, no que é correspondido. Juntos, empreendem fuga em uma canoa. Furioso, o deus determina um grande movimento de terra e a abertura do leito do rio, por onde desaba a canoa, matando os dois.
Para se lembrar sempre da bela donzela, o deus cria as cataratas e para nunca se esquecer do rival, cria uma árvore que se chamaria paineira, colocada na beirada de uma das quedas.
A avenida homenageia o jovem empresário José Adolpho Bianco Molina, fazendeiro que apreciava as cores da natureza e era um dos proprietários de um grupo de emissoras de rádio da região.
CINEMAS DE RIBEIRÃO. Vários contatos reclamando do esquecimento do Cine Santa Terezinha, do Autocine Oásis e dos atuais Cauim e Belas Artes. Desculpe.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras