Por Hugo Luque
No coração dos Campos Elíseos, crianças jogam bola e alguém despreza o futebol do interior. Dois adultos ouvem a conversa e resolvem contar a rica história de Comercial e Botafogo, que protagonizam o maior clássico de Ribeirão Preto e um dos principais de São Paulo. É a partir daí que se desenrola a trama de “A Turma da Travessa Rubi.”
Apesar da rivalidade, dos jogos quentes e das rusgas dos dois lados, o Come-Fogo também tem a capacidade de unir, trazer à tona boas memórias e moldar diferentes gerações. Escritor local, Victor Garcia Preto lançou o livro ficcional infantil sobre o dérbi em 11 de outubro.
A data foi escolhida a dedo. Afinal, está entre os aniversários dos dois clubes – dia 10, do Leão do Norte, e dia 12, do Pantera. É justamente essa mistura, parte da cultura caipira, que a obra busca trazer para os mais novos de maneira lúdica, mas com fatos reais.
“Essa forma de valorizar a cultura local de diversas maneiras, entre elas o futebol, me agrada muito. Eu gosto de crianças e achei que poderia ser uma forma de agregar algo não só para incentivar a cultura infantil, mas também procurar para mostrar às crianças que há coisas interessantes no clássico”, conta.
Os estádios cada vez mais vazios na cidade mostram que está difícil para Botafogo e Comercial competirem com os grandes clubes brasileiros e até mesmo os europeus, que ganharam os corações e as mentes dos mais jovens nas últimas décadas.
“É consequência do mundo globalizado e não há nenhum problema na criança gostar de clubes europeus e acompanhar, mas não acho que isso deva acontecer em detrimento ou até desprezando não só os clubes brasileiros em geral, mas, principalmente, quando você tem uma cidade como Ribeirão Preto, com dois clubes tradicionais.”
O Preto do sobrenome do escritor é uma das cores em comum entre o Alvinegro e o Tricolor. A mescla dos lados, inclusive, é algo com que Victor convive desde a infância. O pai e os tios do autor dividiam a família, que morou na Travessa Rubi, entre Bafo e Bota, mas também acompanhavam outros campeonatos. Isso ajudou a formar a paixão por futebol da mente por trás da história que homenageia o Come-Fogo.
“Para mim, e acho que é algo muito pessoal, sempre foi muito natural acompanhar os times de Ribeirão. Sempre gostei de futebol e tive uma relação familiar com meus pais e tios de comentarem muitas histórias de futebol da adolescência. É até uma homenagem à geração que me fez ter a relação que tenho hoje com o futebol e com os times de Ribeirão”, detalha.
O maior clássico
A carreira de Victor como escritor já vem de algum tempo. O ribeirão-pretano escreveu obras de todos os tipos: romance, folclore, espiritualidade, contos e poesias. Uma delas também envolveu o clássico da cidade.
Lançado em 2020, o livro “Come-Fogo, O Maior Clássico” tem um formato semelhante à história publicada no último mês de outubro. O duelo entre Botafogo e Comercial é ponto central da trama, mas o público-alvo não é o infantil.
“Ele tem elementos reais, até para que as pessoas que venham a ler e não têm total conhecimento possam pegar algumas informações da história real dos clubes e do clássico. Mas o intuito é uma ficção, então a história envolve jogadores como personagens fictícios muito inspirados em amigos meus”, explica.
“A Turma da Travessa Rubi” não foi a primeira publicação para crianças pensada, criada e lançada por Victor. Anteriormente, o escritor trouxe ao mundo “Os Segredos da Casa do Tio Preto”, que aborda temas importantes para o desenvolvimento, como a alimentação saudável e as descobertas dos pequenos.
Para unir o Come-Fogo ao público infantil, ele precisou de algum tempo para pesquisar e produzir o novo projeto, ao mesmo tempo tão pessoal e tão comum a muitos ribeirão-pretanos.
“A ideia de escrever algo infantil tem uns dois anos, mas eu fui, na verdade, desenvolvendo aos poucos. Por mais que eu tenha uma noção da história do Come-Fogo, é sempre bom revisitar os fatos e resumir os principais tópicos. Criei imagens por meio de inteligência artificial. Para escrever, coloquei numa formatação e inseri as imagens. O processo de escrita foi até que curto, três ou quatro meses, e demorei um pouco para publicar porque tinha outros projetos e queria lançar num momento que julgasse interessante.”
“Mas é fomentar isso, deles entenderem que [o clássico] também é legal, que a criança pode torcer para um time da Inglaterra, da Itália, da Espanha ou de qualquer lugar do mundo, mas isso não a impede de valorizar e torcer para clubes de Ribeirão e da região”, acrescenta.
Incentivo
A criatividade de Victor parece infinita. Em suas redes sociais, o escritor frequentemente publica poesias e divulga suas novas obras. No que depender dele, inclusive, mais livros infantis virão no futuro, e alguns já estão em processo de concepção.
Entretanto, para que as palavras continuem a fluir no papel e mais criações sejam publicadas, sobretudo com exemplares físicos, o autor procura qualquer tipo de apoio. “A Turma da Travessa Rubi”, por exemplo, ainda não tem sua história contada em páginas impressas, somente no formato digital, que pode ser adquirido pela internet.
“Estou buscando incentivos, formas de diminuir ou subsidiar os custos, porque foi uma produção independente e livros infantis precisam ter um destaque com gravuras, precisam ser mais coloridos do que livros convencionais. Por isso, o custo de impressão é muito mais caro. Tendo parcerias ou uma forma de incentivo, tenho a intenção de colocar disponível também na versão física, que chama também um público muito fiel.”
Fato é que, com ou sem suporte ou patrocínio, o autor continuará, muito provavelmente, escrevendo novas páginas do clássico mais importante de Ribeirão Preto, que ajudou a moldar sua personalidade e história.
“Dá para escrever muita coisa fazendo homenagem ao esporte, então é possível que, em algum momento, tenha um livro exclusivo do Botafogo e outro do Comercial. Possivelmente, até falando de outras modalidades esportivas. É algo que eu projeto, então quem sabe, no futuro, possa ter algo nesse sentido”, conclui.