Tribuna Ribeirão
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As orquídeas 

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Ainda menino, costumava acompanhar meu pai, João Palma Guião, nas visitas que ele fazia à Tabacaria Sampaio, localizada numa das lojas do térreo do Palace Hotel, hoje Centro Cultural do mesmo nome, com frente para a esplanada do Pedro II. Meu pai nunca fumou, mas gostava de papear com Ângelo Sampaio, dono do estabelecimento.

Meu pai casou com 40 anos e no período de solteiro, entre sua formatura na turma de 1926, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e seu casamento em 1940, criou uma rede de grandes amizades na cidade. Ângelo Sampaio era um destes amigos.

Gentil, dando-me uma balinha no início da visita, falava sempre de seu hobby: cultivar orquídeas. Tinha um grande ripado em sua casa e, de vez em quando, exibia suas flores na tabacaria. Sempre dizia que eu deveria também cultivá-las.

Em 1954, ano comemorativo do IV Centenário da Cidade de São Paulo, o Parque Ibirapuera sediou várias exposições comemorativas da data, dentre elas uma mostra nacional de orquídeas.

Numa visita logo após o término da exposição, Ângelo Sampaio me surpreendeu com um Diploma de Participação, esclarecendo que havia inscrito um vaso florido em meu nome, como forma de me estimular a ser orquidófilo.

Acabaram as minhas dúvidas e, a partir daí, comecei minha coleção, que perdura por mais de 65 anos, com breve interrupção, quando me mudei para estudar em São Paulo.

Estudos indicam que as orquídeas surgiram na Terra há, pelo menos, 85 milhões de anos, espalhando-se pelos vários continentes atuais. Seu nome deriva da palavra grega orkhis, que significa testículo, devido à forma dos bulbos de uma espécie nativa da região do Mediterrâneo. Hoje, é a maior família de plantas floridas que existe, com mais de 25 mil espécies, agrupadas em 850 gêneros, acrescidas sempre com novas plantas que vão sendo descobertas.

No Brasil existem 2.449 espécies, reunidas em 239 gêneros.

Há mais ou menos 4.000 anos, na China e no Japão, começou o cultivo das orquídeas, que eram tiradas das árvores e serviam como remédio e decoração. No início do século XIX, desmentiu-se a lenda de que as orquídeas eram parasitas, assim chamadas as plantas que crescem dependendo e sugando o tronco que as carrega. Descobriu-se  que as orquídeas eram epífitas, ou seja, sustentam-se pelas raízes que agarram o tronco, mas não sugam a seiva do mesmo, vivendo da umidade do ar e dos detritos que caem das árvores. Existem ainda espécies terrestres e as que vivem coladas às pedras.

Na Europa, a orquídea foi cultivada pela primeira vez quando, em 1818, William Cattley descobriu alguns bulbos em material que embrulhava plantas provenientes do Brasil, cultivou-os e obteve uma bela espécie, cujo gênero  receberia seu nome: Cattleya.

A reprodução natural da orquídea passou a ser estudada, o que levou ao processo artificial de fecundação, dando origem às híbridas.  Levava-se mais de sete anos  para poder observar a primeira flor da nova planta, que poderia ser linda ou, por mutação genética, feia.

O problema foi solucionado em 1960, quando o cientista francês George Morel, conseguiu produzir novas plantas idênticas à mãe, com a utilização de células meristemáticas encontradas nos bulbos, ponta da raiz e haste florais, o que ampliou muito a oferta de orquídeas pelas lojas especializadas.

As orquídeas nos encantam e nos oferecem um mistério: como pode a mesma célula que produz o bulbo e a folha transformar-se numa das mais belas e perfumadas flores que existem?

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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